Escola da Baixa do Sapateiro faz evento para eternizar homenagem às professoras

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Por Hélio Euclides, em 23/10/2021 às 07h. Editado por Edu Carvalho

Seria uma tarde de homenagem aos professores com direito a bolo, doces e salgados na Escola Municipal IV Centenário, na Baixa do Sapateiro. Porém a direção foi além. Na última quarta-feira (20/10), duas professoras da instituição tiveram a grata surpresa, ao descobrir que seus nomes vão batizar as salas de leitura e aprendizagem, a segunda onde é realizada as aulas de informática. Sílvia Gigante e Verônica da Silva estão há 35 anos lecionando na mesma escola e por esse motivo receberam a menção.


O evento foi aberto com a canção Anjos da Guarda, no qual Leci Brandão bate palmas para os professores, mas ao mesmo tempo exprime tristeza com a não valorização da profissão, dizendo que gostaria de poder fazer um discurso bem mais feliz, em relação ao tema. Isso reflete o atual momento do país, que desde 2019 tem Jair Bolsonaro, presidente da República, fazendo críticas à forma de lecionar dos educadores. O principal alvo é o educador Paulo Freire, patrono da educação brasileira. No mês passado, a Justiça do Rio de Janeiro proibiu que o Governo Federal realize qualquer pratica que atente contra a dignidade intelectual do educador, que este ano completaria 100 anos. Além disso, ocorreram nesta gestão cortes orçamentários na educação, o que vem prejudicando universidades federais.


Para Alessandra Aguiar, diretora da EM IV Centenário, o momento é de reconhecer a importância do servidor. “O que estamos fazendo é uma valorização do serviço prestado à comunidade por anos. Sílvia e Verônica estão há mais de 35 anos na mesma escola, isso é significativo. Dessa forma, resolvemos homenagear em vida. Isso é uma nova página na história da escola que olha para a trajetória dos professores”, destaca. Ela completou que não trabalha sozinha, onde todos fazem parte de uma equipe que atua para somar.


A professora Verônica da Silva é cria da Maré e quando estudante percebeu que a mudança na favela só poderia ser feita por meio da educação. Quando passou no concurso público, foi lecionar em Realengo, onde ficou apenas um ano e meio. De uma família de professores, no qual sua mãe foi explicadora, ela avalia a importância do ensino na vida das mulheres. “O meu avô era explicador e não deixava minha mãe ir para a escola, aprendia em casa. Minha mãe não só me incentivou a ir à escola, como me ajudou no magistério”, conta.


A docente conta o que veio à mente quando recebeu a homenagem. “Lembrei do tempo de normalista, quando os mestres falavam que nós seríamos responsáveis por uma turma. Eu sentia um frio na barriga, mas após o concurso percebi que era algo natural, uma missão. É gratificante saber que meu nome vai ficar eternizado na sala de leitura, esse local que me encanta”, diz. Antes a sala de leitura tinha o nome do poeta Manoel Bandeira, que agora virou patrono da escola.


Sobrinha do professor Gama Filho, que fundou uma universidade, Sílvia Gigante escolheu a Maré para trabalhar e não saiu mais do território. Durante sua trajetória profissional atuou também no CIEP Operário Vicente Mariano, mas sem deixar a sala de aula da EM Escola IV Centenário. O colégio faz parte da vida dela, que como Verônica atuou nos tempos das vacas magras, quando o prédio era bem menor, com apenas um andar. “Devo tudo o que tenho aos anos que lecionei, foi aqui que consegui muitas amizades. Muito bom dar aula para filhos de ex-alunos, me sinto da família. Minha filha queria que eu lecionasse perto de casa, mas não consigo sair dessa escola e nem da Maré. Acredito que não é simplesmente uma profissão e sim uma vocação, que precisa de valorização”, conclui.

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