Poema de moradora aborda a subjetividade do letramento racial e a importância da resistência
Por Redação, em 07/12/2021 às 07h.
EU, NÓS.
A potência da escrevivência é como o pulsar de tantas vidas
Emociona-me a fuga, a dor e a fome de tantos de nós
A saliva seca aumenta a intensidade da dor que o nó na garganta provoca
Mas essa dor serve para me lembrar que saí dos porões, me foram desatados os nós que prendiam o meu corpo.
Ganhei o mundo, passei pelos becos, virei tantas esquinas, percorri estradas
Pés descalços, muitas vezes cansados, suor no rosto em busca do lugar ao Sol
Tomei fôlego na vida, deixei de lado as dores da alma que me afligia nas senzalas que antes outrora, eram lugar de tormenta e choro velado.
Não somos só reprodutoras, não somos só cuidadoras…
Somos força, resistências e fé.
Fiz-me na história…
Eu sou tantas histórias: me completo do outro, me completo de você.
Sou alma negra, pele negra, espírito da liberdade.
Tentaram calar a minha voz, mas não me deixo abater
Sou dona de mim, sou negra de raiz.
Sou potência, sou empoderamento, não venha tentar mudar meu convencimento. Sou de raiz africana, sou Zambi ou Uganda.
Sou africanidade, sou serenidade e seriedade.
Respeite o meu enredo, sou MULHER NEGRA/PRETA que luta na vida e que não corre da labuta.
Chama-me de NEGRA, me chama de PRETA, só não queira colocar as máscaras dos silenciamentos para emudecer a minha história… as nossas tantas histórias com o seu preconceito.
Sobre a autora
Aline Botelho é uma mulher periférica, professora, poetisa, cria de Bel, mãe de duas meninas, filha de Nilza e de Jorge Botelho, de luta e na luta.
Mestranda em educação, contextos contemporâneos e demandas populares (UFRRJ), especialista em alfabetização e letramento (Instituto Signorelli) e graduada em pedagogia (UFRRJ).
Atualmente é docente dos anos iniciais da rede municipal do Rio de Janeiro, na Maré e orientadora pedagógica do município de Araruama.