Dados mostram crescimento em disseminação do vírus após flexibilização de medidas e baixa vacinação
Por Edu Carvalho, em 20/05/2021 às 7h
Após adotar medidas restritivas nos estados durante a Semana Santa, o Brasil viu o número de casos por covid-19 chegar a 58,3 mil. Mas nas últimas semanas, a maré voltou a subir, registrando 64,3 mil casos contabilizados até anteontem, 18. Um alerta já havia sido ligado pela Fundação Oswaldo Cruz no seu mais recente Boletim do Observatório Covid-19 Fiocruz, que trazia que o país poderia “permanecer em nível crítico”, segundo leitura de pesquisadores referente ao período de 2 a 8 de maio.
Para José Eustáquio Diniz Alves, sociólogo e doutor em Demografia pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (CEDEPLAR) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que acompanha semanalmente as médias móveis de casos e mortes, ainda não é possível atestar se o aumento recente de infecção denuncia uma terceira onda de transmissão. ‘’Vários países da América do Sul estão batendo recordes de casos e mortes, como Uruguai, Argentina, Paraguai, Peru e Colômbia. Desta forma, a América do Sul volta a ser um dos epicentros da pandemia global, juntamente com a Índia’’.
O país asíatico superou os Estados Unidos e se tornou, nesta quarta-feira (19), o líder em número de mortes por coronavírus em 24 horas em todo mundo: foram 4.529 óbitos, num total de 25,5 milhões de infectados e mais de 283 mil óbitos.
Eustáquio sinaliza que o primeiro pico de disseminação ocorreu no inverno de 2020, e o mesmo fenômeno pode se repetir agora, mas poderia ter sido evitado. ‘’O Brasil não fez uma barreira sanitária efetiva, não fez uma testagem em massa e não fez o rastreamento e o monitoramento dos doentes, as autoridades não sabem qual é o grau de espalhamento do vírus. E o pior de tudo é que o processo de imunização está muito atrasado e menos de 20% da população tomou a 1ª dose da vacina’’, aponta. ‘’Diante desta situação, a probabilidade de uma terceira onda é muito provável, com pico entre junho e agosto’’.
Quem corrobora com a análise é Isaac Schrarstzhaupt, coordenador da Rede Análise Covid-19. ‘’Como aumentamos a mobilidade, sabemos que os vetores somos nós e estamos colocando mais pessoas ativas, infectadas e suscetíveis [nas ruas]. É praticamente certo um aumento. Essa nova onda, se for olhar, já seria o quarto pico em relação ao Brasil”.
Isaac aponta que os dados obtidos até o momento são relacionados às notificações, ficando de fora uma parcela importante, mas não contabilizada. ”Testamos de forma reativa, os próprios doentes buscam e a gente sabe que há muitas pessoas que não tiveram sintomas ou simplesmente não foram atrás. Eles [infectados] estão por aí andando e transmitindo a doença”.
Sobre a possibilidade de um fechamento total, Schrarstzhaupt é direto. ”É a única forma de reduzir efetivamente a taxa de transmissão. No momento que restringe e as pessoas ficam longe uma das outras, ainda vamos ter casos de transmissão na própria casa, porque o Brasil é um país que tem um número maior de pessoas morando juntas, podendo acontecer um ciclo de contágio (14 dias). Mas depois de um tempo, isso vai parar’’.
Para o pesquisador, ‘’quanto mais você deixa subir, mais longo será um lockdown’’. Isaac cita exemplos como os da Austrália, Nova Zelândia, que duravam entre 15 e 18 dias, além do Reino Unido, que chegou a fechar por 90 dias. Em fevereiro, o especialista publicou um vídeo explicando didaticamente sobre os resultados dos bloqueios feitos em outros países.
Por isso, nós do Maré de Notícias reforçamos a campanha: #UsaMáscaraMorador. E se possível, fique em casa.