Estudante de oito anos lança livro na Escola Municipal IV Centenário, na Baixa do Sapateiro

Data:

Por Hélio Euclides, em 14/07/2021 às 11h26

Editado por Edu Carvalho

Na minha opinião, ser escritor não é apenas escrever livros, é muito mais uma atitude perante a vida, uma exigência e uma intervenção”, esse pensamento de José Saramago expressa o desejo de inúmeros escritores periféricos. Como muitos desses autores de histórias, a arte da escrita começa bem cedo. Um exemplo mareense é Alicia Rocha, de apenas oito anos, moradora da Baixa do Sapateiro e estudante na Escola Municipal IV Centenário, que transformou o desejo de escrever no livro ‘’O Menino e o Cachorro’’, com direito a momento de autógrafos, na manhã de ontem (13/07).

A pandemia mudou a rotina no mundo e atingiu principalmente professores e estudantes, que tiveram que se adaptar com aulas de forma remota e on-line. Com Alicia não foi diferente. O diferencial foi que ela transformou as aflições infantis em livro. A menina tinha como sentimento a saudade do pai, que por trabalhar na área da Saúde como enfermeiro, ficava muitas horas longe de casa. Na história, ele se tornou um herói para a criança. Outra figura da obra é um cachorro, que retrata muitos animais que estão abandonados na Maré. 

O pai e a mãe de Alicia estudaram na EM IV Centenário, e contam que se emocionam com os dois filhos seguindo os mesmos caminhos. Ambos esperam que a filha siga o desejo de sempre escrever. “Estamos alegres pelo interesse que ela tem pela leitura. Fazer parte da história dela foi uma surpresa. Essa repercussão serve como incentivo para que esse seja o primeiro de muitos”, conta Lucas Pereira, pai da escritora. Sua mãe lembra do talento precoce da menina. “Esse momento é muito importante, o interesse pela escrita começou desde pequenininha quando gostava de escrever cartinhas. Esse livro é de mérito dela, que além de escrever ainda fez os desenhos. No original foi ela que fez os furinhos e com fitilho uniu as folhas. Depois sempre o pegava para ler”, detalha Jussara de Lima, mãe de Alicia.

A cerimônia de lançamento do livro trouxe emoção para toda a escola, onde a Alicia cursa o segundo ano. “O incentivo à escrita e à leitura nasce de um projeto de produção textual, que começou em 2019. Mostramos aos alunos o sítio de Monteiro Lobato, que ficaram encantados com os personagens. Algo realizado via contação de histórias”, expõe Verônica da Silva, professora da sala de leitura. A docente avalia que o livro exalta a leitura infantil. “Percebemos que o isolamento social trouxe uma grande ausência da escola na vida das crianças, principalmente na escrita e leitura. Hoje incentivamos que o aluno leve um livro para casa, leia para a família, sendo uma viagem nos lares, isso tira o foco da televisão e da tecnologia, tão massificados na pandemia”, conclui.

Na vida de Alicia, Deise Barros está presente desde os três anos de idade, como explicadora, realizando o reforço escolar. “Emoção em ver o esforço dela. Tenho muito orgulho e o livro me surpreendeu pela iniciativa dela de criá-lo em casa”, diz. Para a divulgação, a escola apoiou o projeto da Alicia e organizou a impressão. “Percebemos a vontade da leitura e escrita, algo muito importante. O papel da escola é estimular esse desejo e incentivar a continuidade na vida da criança”, resume Alessandra Aguiar, diretora da EM IV Centenário.

No evento, a escritora mirim relembrou como nasceu o livro. “Eu sentia saudades do meu pai, e conversava com ele por telefone. Transformei o sentimento em imaginação para escrever a história. Penso em escrever o próximo livro sobre países e cidades”, revela Alicia. A menina dá dica para os novos escritores. “É importante tentar construir uma história, para isso o conhecimento da leitura vai colaborar para entender e ter boa imaginação”, finaliza.

Para quem desejar conhecer o livro, a autora doou um exemplar para a Sala de Leitura Maria Clara Machado, espaço infantil da Biblioteca Popular Lima Barreto, que fica na Rua Sargento Silva Nunes, 1014, na Nova Holanda.

Compartilhar notícia:

Inscreva-se

Mais notícias
Related

Por um Natal solidário na Maré

Instituições realizam as tradicionais campanhas de Natal. Uma das mais conhecidas no território é a da Associação Especiais da Maré, organização que atende 500 famílias cadastradas, contendo pessoas com deficiência (PcD)

A comunicação comunitária como ferramenta de desenvolvimento e mobilização

Das impressões de mimeógrafo aos grupos de WhatsApp a comunicação comunitária funciona como um importante registro das memórias coletivas das favelas

Baía de Guanabara sobrevive pela defesa de ativistas e ambientalistas

Quarenta anos após sua fundação, o Movimento Baía Viva ainda luta contra a privatização da água, na promoção da educação ambiental, no apoio às populações tradicionais, como pescadores e quilombolas.

Idosos procuram se exercitar em busca de saúde e qualidade de vida

A cidade do Rio de Janeiro tem à disposição alguns projetos com intuito de promover exercícios, como o Vida Ativa, Rio Em Forma, Esporte ao Ar Livre, Academia da Terceira Idade (ATI) e Programa Academia Carioca