Estudo alerta para tendência de aumento da Covid-19 no município do Rio

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Por Camile Duque (Agência Fiocruz de Notícias), em 01/09/2021 às 10h

Nota técnica de pesquisadores do Observatório Covid-19 da Fiocruz aponta para mudança no cenário e tendência de crescimento dos casos de Covid-19 no município do Rio de Janeiro, seguindo na direção contrária ao que tem se visto em todo o Brasil. Com o título As fases da pandemia na cidade do Rio de Janeiro: Evolução temporal da incidência e mortalidade no período de 06 de março de 2020 a 21 de agosto de 2021, o documento foi publicado nesta terça-feira (31/8).

As análises mais recentes aplicadas no Brasil mostram recuo no número absoluto de casos e óbitos no país. No entanto, a evolução dos casos no Município do Rio de Janeiro apresentou uma mudança e os dados sugerem aumento do número de casos.

Ao considerar o período entre a Semana Epidemiológica (SE) 10 de 2020 (quando houve a notificação do primeiro caso no Município do Rio de janeiro) e a SE 33 de 2021 (que encerrou em 21 de agosto de 2021), a nota aponta uma interrupção de queda do número de casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) e sugere uma possível retomada do crescimento nas últimas semanas.

“O município do Rio de Janeiro apresenta reversão da tendência de queda de casos, e o estado do Rio de Janeiro, por sua vez, apresenta oito municípios com taxa de ocupação de leitos de UTI Covid-19 em 100%, reacendendo um sinal de alerta para a atual situação da pandemia na cidade”, destacam os pesquisadores do Observatório. “É oportuno, então, verificar a série histórica, na tentativa de compreender a nova dinâmica que se anuncia, para que possamos prever cenários e adotar medidas adequadas e oportunas para impedir o crescimento sustentado de casos e, consequentemente, de mortes”.

A nota aponta ainda que esta fase a pandemia reúne características semelhantes ao início do período, quando havia intensa circulação do vírus e baixa adesão às medidas de distanciamento físico, com taxas de ocupação de leitos próximas a 100% em todos os estados brasileiros. Atesta ainda que a explosão do número de casos de Covid-19 pode ser resultado de um atraso da notificação de casos maior que a de óbitos, em cenário que revela problemas do fluxo de investigação, notificação e desfecho dos casos, comprometendo a qualidade da vigilância. Os pesquisadores alertam que a fase atual é de declínio dos óbitos e crescimento dos casos.

O documento também indica que há uma correlação entre o número de casos e óbitos e este padrão possivelmente tem relação com a progressão da cobertura vacinal. Com a proteção da vacina, o aumento do número de casos não determina necessariamente aumento proporcional de óbitos.

“Há ainda intensa circulação do vírus, e alta transmissão comunitária. É possível dizer que, na impossibilidade de conter novamente este crescimento de casos, e preparo adequado da rede de serviços de saúde, o horizonte a respeito de novo crescimento das mortes é previsível”, afirma a nota.

Recomendações

Para os pesquisadores, a atual pandemia da Covid-19 se apresenta, até o momento, como o maior desafio sanitário deste século. Ainda seria cedo para garantir que a queda observada pelo Brasil para casos e óbitos seja sustentada. A situação do município do Rio de Janeiro serve de alerta para o Brasil como um todo devido ao fato de que a pandemia ainda está longe de ser considerada controlada, e para que medidas sejam tomadas para que outros locais não vivam a mesma reversão da tendência.

“O contexto atual ainda é preocupante. Apesar de estarmos vivendo uma queda de óbitos, o indicativo de reversão da tendência para casos, com novo aumento, é cada vez mais claro. Temos condições mais favoráveis ao diagnóstico adequado, como um aumento nas testagens. Infelizmente, este não parece ser o único fator a explicar o novo cenário”.

Para os pesquisadores alguns fatores dificultam o enfrentamento a pandemia de Covid-19, como o perfil heterogêneo da população, as condições demográficas, econômicas e sociais igualmente distintas. Somados a isso, a baixa cobertura vacinal e a baixa adesão ao distanciamento físico, favorecendo a rápida disseminação da doença, e circulação da variante Delta deixam a cidade do Rio de Janeiro em um contexto desfavorável.

“A cidade do Rio de Janeiro possui uma dinâmica econômica e social de alta conectividade com outros centros urbanos, além de ter uma das maiores concentrações de aglomerados subnormais do país, o que favorece a disseminação da doença no território”, afirmam os pesquisadores.

Diante dos resultados, a nota considera adequada a medida de adiamento, por tempo indeterminado, do início do plano de retomada gradual das atividades. Além disso, os pesquisadores reforçam que as medidas precisam ser adotadas não apenas pela cidade do Rio de Janeiro, mas por toda a região metropolitana.

A uniformidade das medidas não-farmacológicas (especialmente aquelas relativas à restrição de circulação) e dos calendários de vacinação devem ser pensadas na lógica das redes de atenção em saúde e não de limites políticos administrativos, sobretudo, os municipais. Nesse sentido, a gestão da pandemia deve ser realizada de forma regionalizada e pactuada.

“O aumento dos casos é o indicador mais sensível, muitas vezes o prenúncio do aumento de outros indicadores, como hospitalizações, taxa de ocupação de leitos e óbitos. Qualquer decisão de redução de restrições sobre a circulação de pessoas deve ser tomada a partir de uma tendência de queda de indicadores de forma sustentada no tempo. O momento é, portanto, de alerta”, concluem

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