Evento na Maré discute importância da acessibilidade nos espaços de cultura

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Dois dias de conversas e oficinas para a inclusão ocorreram no Galpão Bela Maré

Por Hélio Euclides, em 23/09/2022 às 18h43

No dia a dia, há a ausência de rampas nas calçadas, banheiros pequenos e sem adaptação, postes que impedem a passagem, falta de identificação em braile, construções e reformas mal projetadas e carência de profissionais capacitados em Libras ou falta de um Tradutor. Essas são algumas das barreiras para as pessoas com deficiência. Somado a tudo isso, ainda existe a discriminação, a falta de investimento e a precariedade da infraestrutura. Esses obstáculos foram os temas de debate da Jornada da Acessibilidade na Cultura, dois dias de programações realizadas no Galpão Bela Maré (22 e 23 de setembro). 

Com uma programação que promove debates, atividades educativas e oficinas, a jornada faz parte da Semana da Luta das Pessoas com Deficiência, realizada pelo Observatório de Favelas. Mesmo possuindo aproximadamente 24% da população com algum grau de deficiência, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ainda não há ações de políticas públicas suficientes voltadas para essa parcela da população. Os dois dias foram escolhidos para direcionar um olhar sobre as pessoas com deficiências (PcD) e a acessibilidade no contexto das artes. 

Gilson Plano, coordenador do Galpão Bela Maré, acredita que o tema da jornada é algo relevante para toda população. “Nós estamos propondo pensar na acessibilidade, com um olhar sobre as artes. A jornada nasce com o diferencial de trazer o tema para a favela e a periferia. É necessário a existência de instituições de artes que valorizem a inclusão”, diz. Isso se soma ao papel principal do Galpão Bela Maré, que é propor agendas de superação de desigualdades e de fortalecimento da democracia, construindo processos cada vez mais consistentes, através das artes.

Na quinta-feira (22), ocorreu uma roda de conversa sobre o tema: práticas acessíveis em mediação cultural, com profissionais que valorizam ações de inclusão. Já na parte da tarde a oficina de robótica artística teve uma didática diferenciada para crianças e adolescentes. Ambas reuniram estudantes, professores, gestores e moradores. “O evento nos fez meditar sobre a acessibilidade como algo sensível, que precisamos abraçar. Fiquei feliz com um evento de acessibilidade na cultura para a galera da favela, algo que não existe onde moro e nem na faculdade. Infelizmente a arte ainda é elitizada”, expõe Yasmim Bonfim, moradora de Itaguaí e estudante do curso de pintura, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Crianças também participaram de atividades da Jornada da Acessibilidade na Cultura | Foto: Ramon Vellasco

O Galpão Bela assumiu o compromisso de realizar ações acessíveis e de organizar uma estrutura mais inclusiva. “Nosso pavilhão principal é todo acessível, com banheiro adaptado. O projeto futuro é um elevador para que todos possam ter acesso ao segundo pavimento. Todo mês temos contação de histórias com comunicação em Libras, com disponibilidade do material no site. Também promovemos sessões azuis de exibição de filmes, para quem menos precisa de estímulos à luz, como os autistas”, detalha o coordenador. 

Ele explica que o movimento começou a ser pensado no início do ano, para um acolhimento à população com deficiência em espaços culturais. “Essas ações impactam o território, causam o debate e nos fazem multiplicar o desejo de ambientes mais inclusivos”, conclui. Nesta sexta-feira, o evento teve como destaque o batismo do Galpão Bela, na oficina de poesia surda, com uma cerimônia da comunidade surda para a criação de uma identificação única do local.

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