Expostos e sobrecarregados, entregadores lutam por direitos

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Profissionais têm sobrevivido com uma demanda de trabalho crescente, mas sem qualquer direito assegurado 

Por Denilson Queiroz, editado por Daniele Moura.

Os aplicativos de delivery nunca lucraram tanto como no período da pandemia. Um levantamento feito pela Rede, empresa de pagamentos do Itaú, revelou que as compras de delivery pagas no cartão cresceram 59% em abril de 2020, comparadas com o mesmo período do ano anterior. Apenas o Ifood teve 20 milhões de pedidos de clientes realizados em 2020, segundo pesquisa do Instituto de Foodservice Brasil (IFB). 

Assim como o lucro das empresas, os acidentes de motociclistas também tiveram um significativo crescimento no ano passado. Na cidade de São Paulo, o número de acidentes envolvendo motocicletas cresceu expressivamente desde o início da quarentena. De acordo com o banco de dados com informações de acidentes de trânsito do Estado de São Paulo, o Infosiga SP, de março de 2020  em comparação a março de 2019, houve um aumento de mais 90% no número de acidentes e de mortes. Em março de 2019 foram 21 mortes, no mesmo mês em 2020, foram 39.

A maior parte das vítimas não consegue assistência das empresas de delivery. A informalidade trouxe um ambiente de superexploração, precarização do trabalho e ausência  de direitos trabalhistas. 

Em junho de 2020, diversos entregadores fizeram uma greve nacional em busca de melhores condições de trabalho. O alvo eram as empresas Ifood, Uber Eats e Rappi, principais plataformas deste mercado. Segundo os grevistas, a falsa ideia de empreendedorismo foi um pretexto para contratar profissionais sem obrigação de custear férias, 13° salário, rescisão, INSS, auxílio-doença etc, segundo entrevista do Paulo Galo para a BBC.

Entre as pautas reivindicadas pelos entregadores esteve o aumento do valor das corridas, implementação de uma taxa mínima de entrega, fim dos bloqueios, seguro contra roubo, acidente e vida, o fim do sistema de pontuação e um tipo de assistência na pandemia. Atualmente, um entregador que pedala até 50 km por dia recebe uma média de um salário mínimo, R$ 1.045, por mês. Ele é responsável pelos próprios equipamentos de segurança e refeição. Caso não cumpra com as condições dos apps é bloqueado e perde o ganha-pão sem maiores explicações.

Riscos sem proteção social

Morador do Parque União, João Pedro de Oliveira, de 21 anos, trabalhou por um mês como entregador de uma pizzaria. Ele recebia uma diária de R$ 60, além da quantia de R$ 3 por entrega. Em julho do ano passado, durante a última entrega do dia, João Pedro se envolveu em um acidente. Sofreu fraturas no fêmur e joelho, e passou por seis cirurgias.

 João Pedro ainda se recupera de acidente ocorrido ano passado, durante o trabalho | Vídeo: Matheus Afonso

O acidente o impossibilitou de continuar trabalhando. Por não ter vínculo empregatício, o jovem não contou com nenhum auxílio do governo e seu antigo empregador lhe pagou  R$300,00 como indenização pelo acidente.

“Entre idas e vindas, fiquei quatro meses internado e toda hora apareciam outros entregadores acidentados. Quando começou a pandemia, foi decretado que só os serviços essenciais poderiam funcionar, aí todo mundo que não tinha outras opções acabou indo (trabalhar) na entrega”, relata o jovem.

João Pedro ainda se recupera do acidente de trabalho e mais uma cirurgia no joelho está marcada para dezembro. Além das lesões físicas, o jovem agora tem acompanhamento psiquiátrico e necessita de medicamentos antidepressivos. 

O entregador se acidentou sete dias após a paralisação nacional que buscava melhores condições para a profissão. A principal reivindicação do ato era sobre a necessidade de se estabelecer um auxílio para os profissionais expostos em casos de infecção pelo coronavírus. Desde então, pouca coisa mudou e a categoria ainda busca melhorias para o setor.

Ocorrências com motocicletas são responsáveis por 80% das internações relacionadas a acidentes de trânsito no Brasil, segundo o Denatran, Departamento Nacional de Trânsito.


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