Faltam testes e políticas públicas para o combate à Covid-19 na Maré

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Terceira edição do Boletim “De Olho no Corona!”, da Redes da Maré evidencia a escassez de testes disponíveis para os 140 mil moradores da região

Na família da Marluce Luiza, moradora de Roquete Pinto, ela e mais cinco pessoas tiveram sintomas do coronavírus. O filho dela, com febre durante 15 dias, ao procurar o sistema público de saúde (a UPA da Maré e depois a UPA da Penha), foi diagnosticado com virose e orientado a ficar em casa. “Eu acho que poderiam dar um pouco mais de atenção, fazer pelo menos um exame. A gente fica sem ter certeza se teve ou não, só que com os sintomas bem parecidos”, comentou Marluce. Na rua onde reside a família, segundo ela, duas pessoas já faleceram, e em Roquete Pinto, muitas.  

A subnotificação dos casos do coronavírus no Brasil tem sido comentada mundialmente nos noticiários. Ainda assim, até o momento, o país já é o terceiro em casos confirmados no mundo. No último dia 19 de maio, o Brasil chegou a liderar o ranking de mortos por Covid-19 em 24 horas, com exatas 1.179 pessoas. O país vive este cenário pela escassez de testes disponíveis para a população, contrariando a recomendação da Organização Mundial da Saúde e de diversas autoridades médicas que indicam a combinação distanciamento social e testagem em massa, a ideal para a contenção da disseminação do vírus.

A falta de testes em larga escala e a ineficiência de uma política pública específica para as regiões de favelas ajudam a proliferar a Covid-19, de acordo com os dados e análises da edição 3 do Boletim “De Olho no Corona!”, produzido pela Redes da Maré, e viabilizado pela articulação com a rede de parceiros institucionais da organização e pessoas do território, disponível na íntegra no site da organização. 

Das 261 pessoas com suspeita ou confirmação da doença, apenas 20 foram confirmados através do teste RT-PCR ou teste rápido. Outras 32 foram confirmadas através de exames clínicos, como tem sido em grande maioria nos casos. Entre os 38 óbitos, um foi confirmado por teste específico para coronavírus, 19 por exames clínicos e 18 estão em investigação.

Com o crescimento contínuo dos número de casos no país, estado e cidade do Rio de Janeiro, o necessário a ser feito era a testagem em massa ou que o número de testagens também aumentasse. Entretanto, a prioridade é testar pessoas que apresentam sintomas mais graves, excluindo uma grande quantidade de pessoas com sintomas leves e aumentando, assim, a subnotificação dos casos. Devido à baixa capacidade de testagem do Brasil, estima-se que o número de casos seja de 12 a 15 vezes maior que os dados oficiais.

Os 140 mil moradores da Maré tem disponíveis sete unidades de atenção básica (sendo quatro Clínicas da Família e três Centros Municipais de Saúde), porém, nenhuma dessas unidades tem testes disponibilizados para a população. Algumas pessoas, então, recorreram a duas clínicas particulares no território da Maré, que realizam testes com o custo superior a R$ 200. 

Junto a isso, o medo de acessar os ambientes hospitalares quando o paciente tem sintomas leves também contribui para a não testagem e a subnotificação dos casos. Foi o que aconteceu com a Monica Candido (34), moradora do Salsa e Merengue. Monica relatou que teve diarréia, febre, perda do olfato e paladar e “apesar do medo de piorar, não fui no posto por não ter certeza de estar com Covid-19 e acabar contraindo em alguma unidade de saúde. Fiquei mais ou menos duas semanas com os sintomas.”

Como o Maré de Notícias e diversos outros veículos e coletivos de comunicação periférica vem denunciando, as condições das casas, acesso a saneamento básico e a falta de recursos nas unidades de saúde nas favelas também tem sido agravantes para o controle da pandemia nesses espaços. Porém, de acordo com o percebido quando não se testam os pacientes, o acompanhamento e definição de estratégias fica ainda mais distante da realidade.

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