Fenômeno natural conhecido como ‘La Niña’ faz mudanças climáticas serem percebidas na Maré

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Fenômeno climático ocasiona chuvas e medo de alagamentos na cidade do Rio

Por Hélio Euclides e Gracilene Firmino, em 24/01/2022 às 07h. Editado por Edu Carvalho

“Chuva e sol, casamento de espanhol. Sol e chuva, casamento de viúva”. Estes são provérbios populares muito usados pela criançada. Quando fenômenos meteorológicos ocorrem chamam atenção e trazem alterações no dia a dia das pessoas. E o Rio de Janeiro está vivendo um momento bem inusitado. Desde outubro, quando o Sistema Alerta Rio registrou 26 dias, sem a presença do sol, em pleno verão, alguns ainda não se despediram de um aliado do inverno, o casaco, chove mais do que o previsto para a época. E o sol não veio com a força que é esperada nesta estação. Nos meses de novembro, dezembro e nos primeiros dias de janeiro, os cariocas não abandonaram o amigo guarda-chuva. Essas mudanças climáticas ainda causam numa cidade despreparada, pontos de alagamentos, inundações e deslizamentos de terra.

Marlene Leal, meteorologista do Sexto Distrito de Meteorologia do Rio de Janeiro explica a climatologia das últimas semanas da cidade. “O verão no Rio de janeiro estava com temperatura mínima de 21 a 23 graus, máxima de 32 a 34 graus e o índice pluviométrico de 170 a 225 mm, sendo o maior valor para o Alto da Boa Vista, onde mais chove”, detalha. O fenômeno La Niña traz mudanças no clima. “Ocorre o resfriamento das águas no Pacifico Equatorial, oeste da costa do Peru, o que traz pouca chuva no Sul do Brasil e muita chuva no Nordeste, e é exatamente o que está acontecendo”, conta.

“Nas outras regiões do país tudo acontece de forma mais irregular, depende da Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS), corredor de umidade que vem da Amazônia em direção ao Atlântico Sul e atinge o litoral da região Sudeste ou Nordeste. As frentes frias que se deslocam juntam-se a esse canal e por isso as chuvas são mais fortes. Elas, as frentes frias, acabam permanecendo estacionárias e aí as chuvas persistem por um período maior, o que aconteceu no sul da Bahia e agora no litoral do Rio, Espírito Santo e São Paulo. As chuvas no Centro-Oeste e Minas Gerais são muito mais fortes porque estão exatamente no ZCAS”, lembra.

A especialista adverte que não se pode esquecer de que a estação já traz de forma comum as chuvas de verão. “Vejo as pessoas querendo sol e calor, lembrando que ao aquecer ocorrem as chuvas mais fortes, com certeza. A falta de chuva e a onda de calor no Sul se devem exatamente pelo fato do fenômeno La Niña que propicia chuvas no litoral da região Sudeste e Nordeste. Os meses de maior chuva são janeiro, fevereiro e março. Vamos agradecer a Deus por não estarem tão fortes aqui no estado”, conclui.

Chuvas e lixo: a combinação nada perfeita

Todos os anos é comum acontecerem as temidas inundações e alagamentos de pontos da cidade. Na Maré, ainda é possível encontrar ruas que sofrem com as chuvas, muitas vezes ocasionadas pela obstrução das galerias pluviais, os bueiros retangulares conhecidos como bocas de lobo. Alessandra da Silva, moradora da Bento Ribeiro Dantas, reclama do alagamento em outra favela da Maré, no entorno da Rua Luís Ferreira, Baixa do Sapateiro. “Todo ano é a mesma coisa. Sofremos ao sair da Paróquia Nossa Senhora dos Navegantes”, diz.

Na Vila dos Pinheiros ocorreu uma reforma da Prefeitura na Via A/1, que acabou com a água acumulada. “Ainda enche, mas escoa rápido. Isso não ocorre na Via B/3 e C/11, que ainda sofrem com as chuvas”, comenta Angela Oliveira, proprietária de um salão de beleza. Para evitar os alagamentos em decorrência do lixo, a Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb) pede a colaboração da população evitando o descarte irregular de lixo, que acaba entupindo as caixas de ralo e bueiros da cidade. A Comlurb recomenda que, em dias de chuva intensa, os moradores aguardem a redução da intensidade para dispor seus sacos de lixo nas ruas, evitando que sejam levados pela força das águas.

A companhia lembra que mantém uma gerência dentro da Maré que atende exclusivamente as 16 favelas. A coleta é realizada de segunda a sábado, em dois turnos, com uma equipe composta por 76 garis, que trabalham com apoio de sete caminhões compactadores e dois veículos mais estreitos que têm mais facilidade para acessar becos e vielas, além de quatro mini tratores. No domingo, o trabalho é em regime de plantão, e os garis realizam a limpeza dos locais com grande concentração de pessoas. A Comlurb reitera o apelo para que os resíduos dos moradores da Maré sejam dispostos de forma ordenada, respeitando as orientações da gerência local, para evitar que fiquem expostos por muito tempo em via pública.

A previsão do tempo para o Rio de Janeiro nos próximos dias é de sol forte e calor intenso, com pancadas de chuva no fim do dia, desta quarta-feira (19) até sábado (22). De domingo (23) até o dia 2 de fevereiro o tempo se mantém firme e sem previsão de chuvas.

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