O Censo Maré (2019) aponta que mais de 25% dos atuais moradores nasceram na região nordeste do Brasil, onde as festas juninas são eventos de grande porte
Andrezza Paulo
Junho chegou, e com ele, a alegria contagiante das festas juninas, que celebram a cultura nordestina e a fé popular no território. O cheiro de canjica e pamonha se misturam ao som do forró, enquanto as bandeirinhas coloridas enfeitam as ruas das favelas da Maré. As festas juninas são símbolos da resistência cultural, da preservação das tradições e da união dos mareenses.
História e grandiosidade
Da mesma forma que acontece em grande parte do Brasil, as festas juninas na Maré estão intimamente ligadas à religiosidade católica, homenageando Santo Antônio, São João e São Pedro, celebrados nos dias 13, 24 e 29 de junho, respectivamente. No território, 47,2% dos moradores se declaram católicos, mas as celebrações ultrapassam as fronteiras religiosas e unem pessoas de diferentes crenças.
O Censo Maré (2019) aponta que mais de 25% dos atuais moradores nasceram na região nordeste do Brasil, onde as festas juninas são eventos grandiosos. O São João de Campina Grande, na Paraíba, considerado o maior do mundo, em 2024, acontecerá durante 33 dias seguidos e tem expectativa de público de mais de 3 milhões de pessoas.
A saudade da terra natal contribuiu para semear e enraizar a tradição das festas juninas na Maré. São gerações de filhos, netos, vizinhos e entusiastas, que envolvem as ruas de alegria, gastronomia típica, quadrilhas, camisa xadrez, vestido caipira e muito forró.
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Tradição das Festas Juninas para as crianças
Para manter a cultura viva, é preciso começar pelos pequenos. Foi o que pensou Jacqueline Souza, professora de reforço escolar para crianças e moradora da Maré há 30 anos. “Eu queria que as crianças tivessem um tempo juntas, mas que isso fosse além do momento de aula, um momento em que pudessem se sentir livres, felizes e acolhidas”.
Há mais de 8 anos o Arraiá da Tia Jack acontece na Nova Holanda, com decoração e brincadeiras voltadas exclusivamente para a experiência de meninos e meninas.
Em média, 80 crianças participam da festa, entre alunos, ex-alunos e outras crianças das ruas vizinhas. Jacqueline tem o apoio de mais sete pessoas na produção e, as famílias, também ajudam nos custos. Ela se diz contente com o alcance: “Algumas crianças, mesmo não fazendo parte do reforço, fazem questão de estar sempre participando das festas, porque é algo feito para elas”, conta.
Casamento de verdade
O Arraiá dos Amigos da C8, na Vila dos Pinheiros, há 13 anos reúne moradores e amigos para celebrar a tradição nordestina. O que começou como uma pequena festa familiar, se tornou um evento grandioso, que em 2023 reuniu mais de 170 pessoas.
A idealizadora da festa, Letícia Santos, de 32 anos, relembra o início de tudo: “A princípio a festa era somente para a família, mas quando nos reuníamos dava em torno de 30 pessoas. Todo ano, vizinhos e amigos perguntavam se no ano seguinte poderiam participar e, como não sei dizer ‘não’, sempre aumentava a quantidade de pessoas”, revela.
Ela conta que com o crescimento do evento, vieram também os desafios de produção, que é feita por apenas 12 pessoas e, é financiada com a contribuição dos moradores. “Preparar uma festa de rua para 170 pessoas não é nada fácil. Já montamos palcos com porta de guarda roupa, já fizemos barracas de caixote e bandeirinhas de tecido de sofá. Investimos em coisas que ficam para os anos seguintes, como tendas, tecido, decoração. O desafio era improvisar o máximo, chegar no dia do arraiá e ver que todo esforço valeu a pena”, afirma.
Letícia também fala que, ao longo desses anos de produção, um momento se tornou mais que especial, um marco na vida dela.
“Todo ano fazemos um casamento na festa. Em 2021, eu casei na festa junina e no ano seguinte casamos no civil, depois de 12 anos de união. Estamos juntos o mesmo tempo de arraiá, então, o casamento de mentira no ano seguinte se tornou um casamento de verdade”, conta.