(In)segurança pública deixa vítimas letais e violações de direitos na Maré

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Mais um jovem tem a vida interrompida na Maré como consequência dos contextos de segurança pública do território. Projeto De Olho na Maré lança boletim com dados e análises sobre segurança pública na Maré em 2021

Por Maykon Sardinha e Camila Barros/ De Olho na Maré – Redes da Maré em 08/03/2022

Há uma semana, Bruno Campos (29), morador da Baixa do Sapateiro, segunda favela mais antiga da Maré, foi atingido por arma de fogo. O episódio aconteceu na altura da Rua Ivanildo Alves, conhecida por ser o limite territorial de domínio entre dois grupos armados do Conjunto de 16 favelas da Maré. Segundo relatos de moradores, Bruno, que não resistiu aos ferimentos e veio a óbito, foi atingido durante um confronto entre integrantes de grupos civis rivais. Historicamente esta região é caracterizada por apresentar um elevado número de ações de enfrentamento entre grupos armados rivais por disputa e controle do território. Além dos impactos diretos relacionados às violações do direito à vida promovidos por essas ações, existe uma série de limitações desencadeadas que repercutem no território, como a interrupção do funcionamento dos equipamentos públicos e comércios, o cerceamento da liberdade de transitar na rua e os impactos subjetivos que atingem a saúde mental dos moradores da região, que vivem constantemente com a iminência de um novo confronto.

Em uma dessas ações, em novembro de 2021, logo pela manhã, homens armados iniciaram um confronto dentro de um compus que concentra dez unidades de ensino. Nesse dia as escolas municipais iniciavam o retorno das aulas presenciais, depois de um longo período de atividades remotas, provocado pela pandemia da Covid19. Crianças e adolescentes estavam dentro das unidades e presenciaram toda a ação, que impactou em um jovem morto, 17 escolas fechadas e uma unidade de saúde com atendimento interrompido.

Esses e outros casos de violência são reproduzidos ano após ano como um reflexo da violência armada, que se materializa não apenas nas ações dos grupos armados, mas também em dias de operações policiais na Maré e nas demais favelas do Rio de Janeiro. A política de segurança pública que deveria garantir a segurança dos moradores, reproduz um modelo bélico de enfrentamento que provoca ainda mais violações de direitos e não propõe ações que de fato impactem na estrutura do tráfico internacional de drogas e armas, que vem se fortalecendo a cada dia.

No próximo dia 10 de março será lançado no Centro de Artes da Maré, o 6º Boletim Direito à Segurança Pública na Maré, uma publicação anual da Redes da Maré que propõe uma análise sobre um conjunto de dados sistematizados dos impactos da violência armada no Conjunto de 16 Favelas da Maré. A edição de 2021 apresenta, entre outros dados, o mapeamento de 15 grandes confrontos armados na região de limite territorial entre grupos armados rivais, nas proximidades da Rua Ivanildo Alves, resultando em uma morte e seis ferimentos por arma de fogo. Junto ao boletim, a Redes da Maré também irá lançar neste dia uma plataforma online que reúne dados da violência armada dos últimos cinco anos, sejam eles provocados por agentes do Estado ou pelos grupos armados.

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