Moradores tiveram que socorrê-lo numa moto até a UPA Manguinhos. Jhonatan deixa um bebê de 4 meses
Por Samara Oliveira, em 26/04/2022 às 12h16
Há poucos dias da chacina do Jacarezinho completar um ano e há menos de um mês do adolescente Cauã da Silva ter sido morto em Cordovil, a história se repete. Mais um jovem tem sua vida interrompida, no Jacarezinho, Zona Norte do Rio, e a família acusa a Polícia Militar pelo ocorrido.
De acordo com testemunhas, Jhonatan Ribeiro de Almeida, de 18 anos, estava caminhando por uma das ruas na comunidade quando levou um tiro no peito. Em um vídeo que circula na internet é possível ver Jhonatan sendo socorrido pelos próprios moradores em uma motocicleta. O jovem foi levado para a Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) de Manguinhos, mas não resistiu aos ferimentos.
A mãe do jovem aponta omissão de socorro por parte dos agentes e questiona a ação policial que tirou a vida do rapaz. “Meu filho foi executado dentro da comunidade do Jacarezinho, sem dever nada à polícia. Eu quero saber porque mataram meu filho, se ele não é traficante? E não socorreram meu filho, não deram a ele o direito de sobreviver”, disse Monique Ribeiro, de 36 anos, ao site de notícias G1.
Jhonatan trabalhava vendendo roupas, iria se alistar no quartel e deixa um bebê 4 meses. Enquanto a Polícia Militar afirma que houve uma ocorrência na comunidade “na qual um homem foi ferido por projétil de arma de fogo”, moradores afirmam que os agentes entraram atirando e foram embora em seguida sem prestar socorro.
Ao ser questionada porque não socorreram o jovem, a PM respondeu que “não foi possível prestar socorro em função da reação de um grupo de moradores” e, em seguida, afirma ter encontrado drogas e um simulacro de arma com o ferido. Questionada como foi possível localizar os itens com o ferido, já que os agentes não ficaram no local, a Polícia Militar não deu retorno até a publicação desta reportagem.
Desde o início deste ano, as comunidades do Jacarezinho e Muzema estão ocupadas pelo projeto Cidade Integrada do governador Claudio Castro. Em fevereiro, ao fazer uma balanço dos primeiros 15 dias, Castro disse que o programa teria uma proposta diferente.
“Acabar com essa ideia de que tem que ter a polícia dentro da comunidade. Mas para que essa transformação aconteça, o serviço público tem que entrar ali. A saúde tem que entrar ali. A educação tem que entrar ali. A assistência tem que entrar ali”, afirmou.
A declaração se contrapõe à realidade vivida pelos moradores e provoca revolta e insegurança. Nas redes sociais, o mobilizador social Diego Aguiar que filmou o momento do socorro mostra sua indignação.
Em fevereiro deste ano, um jovem também chamado Jonathan, de 26 anos, foi atingido por disparos durante uma operação policial na Maré. Ele estava a caminho do trabalho, acompanhado de um amigo, quando foi surpreendido com a chegada de um caveirão. Ele também não resistiu aos ferimentos e deixou um filho de 6 anos.
Falando Sobre Segurança Pública na Maré
No Conjunto de Favelas da Maré, só entre 2017 e 2021, foram identificadas 35 mortes de jovens do sexo masculino em decorrência das ações policiais. Dessas mortes, 24 foram cometidas por agentes do Estado. O dado faz parte do monitoramento do projeto De Olho na Maré, do Eixo Direito à Segurança Pública e Acesso à Justiça da Redes da Maré
Os números alarmantes provocam um debate ampliado na Maré sobre as ocupações militarizadas dentro das favelas do Rio de Janeiro na próxima semana.