“Mãe de favela”: o retrato das mães mareenses

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Projeto de fotógrafo da Nova Holanda registra famílias da Maré e mostra a diversidade materna do território

Por Andressa Cabra Botelho, em 09/05/2021

“Um estalo do cotidiano que exala afeto, individualidade, parceria é muito amor”. É assim, de forma poética, que o fotógrafo Matheus Affonso define o ensaio fotográfico chamado Mãe de favela, projeto que visa retratar a pluralidade das mães mareenses. Pelo segundo ano, Affonso circulou por algumas favelas da Maré registrando a força do matriarcado e apresentou em seu instagram o resultado dos novos cliques.

A série “Mãe de favela” nasceu em 2019 com a proposta de retratar a diversidade do amor de uma mãe favelada. Inicialmente foram 14 mães e após publicar as fotos nas redes sociais, Affonso foi convidado pelo Eixo de Segurança Pública e Acesso à Justiça da Redes da Maré, a fazer mais duas fotos em parceria com o núcleo de mães da Maré vítimas de violência do Estado.

“A figura da mãe, a figura mulher em um espaço favelado e periférico é muito importante. A mãe é o retrato da favela, é a favela, a vida, a potência, o afeto”, observa Affonso. Na Maré, 56,2% já passou pela experiência da maternidade. Aparentemente, pessoas entre 30 e 39 anos são a maioria entre mães e pais mareenses, totalizando em mais de 19 mil pessoas com filhos nessa faixa etária, segundo o Censo Maré (2019). Esta também é a faixa etária que mais cresceu no país: de 2010 a 2019 o índice de mães entre 30 e 39 anos aumentou de 26% para 31,9% neste intervalo de tempo.

As dificuldades de maternar na pandemia

Em 2020, com a pandemia e ainda as incertezas sobre o que era a doença e os seus impactos, o projeto precisou ser interrompido, mas foi retomado em 2021 com mais 14 fotos, completando 30 fotos de mães da Maré. Diante a atual situação, foi respeitado o distanciamento social para que nem as famílias e nem o fotógrafo corressem risco durante as sessões de fotos.

Se antes a rotina já se dividia em ser mulher, mãe e dona de casa e lidar com as preocupações com a violência policial que, infelizmente, faz parte do cotidiano de quem mora nas favelas e periferias, com a pandemia essa sobrecarga aumentou ainda mais. Kelly San (30), que participou do ensaio – é um desses casos. Além de mãe do Gael (7), a mareense se desdobra entre cuidar da casa, do filho e estudar para o mestrado em Artes Visuais (UFRJ). “Encarar com esse desafio da pandemia de criar uma criança, trabalhar e estudar foi grande porque eu contava com a escola. Foi uma mudança”, conta. Com o fechamento das escolas e a migração das aulas presenciais para as virtuais, ela – assim como muitas outras mães – precisou assumir a responsabilidade de acompanhar as aulas mais de perto e pensar em atividades que distraíssem o filho, aumentando ainda mais a sua carga de trabalho.

Kelly e Gael. Foto: Matheus Affonso

A família da mestranda é uma das 28,9 milhões de famílias chefiadas por mulheres, de acordo com pesquisa de 2015 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Destas, as famílias compostas por mulheres sem companheiros – sejam elas solteiras, separadas ou viúvas – e seus filhos representam 15,3% das formações familiares. Justamente neste período, 35% das mães solo não tiveram renda suficiente para comprar alimentos e cerca de oito em cada dez tiveram a renda familiar reduzida devido ao covid-19. Projetos que fortaleceram mulheres mães neste momento foram fundamentais, como o Fundo Solidário COVID-19 para Mães das Favelas, iniciativa da Central Única das Favelas (CUFA) atendeu mães de 5 mil favelas em todo o país, por entender a necessidade de se dar esse suporte a essas mulheres. “A mãe é a que tem a maior quantidade de responsabilidade, e [com o apoio] chegando na mãe, chega em todo mundo, inclusive nos vizinhos”, observa Celso Athayde, fundador da CUFA. 

Pensando nessas questões que o fotógrafo resolveu voltar com o projeto, para, através da arte, mostrar a força da mãe de favela. Confira algumas fotos na galeria abaixo e o ensaio completo e pelo instagram @affonsodalua:

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