Na Maré, o jovem empreendedor com autismo quebra estereótipos e inspira a favela com sua alegria, talento e sonhos
Na Maré, um lugar vibrante e cheio de histórias, encontramos Daniel Barros, um jovem de 26 anos que reina com maestria no Gato de Bonsucesso. Com um sorriso cativante e uma mente brilhante, Daniel nos mostra que o autismo não define quem ele é.
Nascido e criado na Nova Holanda, Daniel é camelô, percorre o território vendendo bolsas, chaveiros, canetas e é a prova viva de que o autismo, diferente do que é difundido, vai muito além do diagnóstico. Em entrevista ao Maré de Notícias (MN), a neuropsicóloga e diretora do Autonomia Instituto, Bárbara Calmeto afirma: “É possível promover o desenvolvimento de habilidades, a superação de obstáculos e a construção de uma vida plena e significativa para os indivíduos autistas.”
Segundo a neuropsicóloga, assim como Daniel, pessoas com TEA possuem diferentes habilidades e capacidades de aprendizado e desmistifica alguns dos principais imaginários em torno do assunto: “Temos muitos mitos, como por exemplo de que autistas não conseguem fazer nada, que não conseguem aprender ou que são mega inteligentes e isso não é verdade. Muitos deles estão relacionados principalmente ao estereótipo da pessoa com autismo criado pela televisão, filmes e novelas”, explica.
Tratamento individualizado e apoio essencial
O comerciante conta que foi diagnosticado ainda criança, mas encontrava dificuldade no tratamento na época. Atualmente, ele é acompanhado pelo CAPS – Centro de Atenção Psicossocial Carlos Augusto da Silva (Magal) em Manguinhos.
O tratamento deve ser direcionado às necessidades específicas de cada indivíduo, considerando déficits, habilidades e as terapias que devem abordar diferentes áreas. Bárbara Calmeto enfatiza a importância de uma avaliação singular para cada paciente: “Questões emocionais, sociais, afetivas, profissionais e comportamentais são importantes ao compreender os desafios e as características do autismo”, ressalta.
O apoio da família e da comunidade é essencial para o sucesso do tratamento e para a inclusão social da pessoa com autismo. Daniel relata que foi abraçado por uma parte fundamental da cultura da Maré, o samba: “Eu entrei no Gato de Bonsucesso em 2006, quando eu era pequeno. Entrei no ônibus que estava parado e saí junto com as crianças. Era pra ser. Teve desfile do Gato na mesma semana e eles foram lá em casa pedir pra eu participar e tô lá até hoje. Fui mestre-sala das crianças, miúdo e agora sou rei”, diz.
Longe do estereótipo, ele vive de forma leve, fala sobre seus desejos e mostra que sabe bem os problemas sociais enfrentados na favela: “Era meu sonho ser deputado estadual desde pequenininho, porque é para ajudar as pessoas, para lutar pelos nossos direitos e fazer a diferença. Lutar pela história que a história não conta”, diz.
O sambista afirma que é uma pessoa feliz e que seu maior desejo é que as pessoas o enxerguem como ele é: “Eu não gosto de botar o símbolo, não, porque as pessoas têm que respeitar a gente da forma que é, não por causa do cordãozinho. Eu sou assim e não devia precisar disso para mostrar respeito”, ressalta.
A sociedade precisa refletir e ouvir pessoas com TEA. Para hoje, fica o incentivo de lembrar do Daniel, o rei do Gato de Bonsucesso, e aprender que o autismo não é uma limitação.