Núcleo Piratininga de Comunicação forma há 20 anos comunicadores com o olhar para a favela

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A organização tem desempenhado um papel crucial na promoção do engajamento comunitário e na educação popular

Por Gabriel Pereira e Hélio Euclides

Para fazer uma comunicação popular é necessário entender e falar a mesma linguagem dos seus leitores. Não é só saber falar com a população das favelas e dos sindicatos, é preciso vivenciar os anseios e as potências. E é com o papel de formar esses comunicadores favelados que nasce o Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC). A organização tem desempenhado, durante duas décadas, um papel crucial na promoção do engajamento comunitário e na educação popular.

O NPC tem como defesa os direitos humanos e a busca por uma sociedade mais justa. O seu desafio é a produção e a disseminação de conteúdo que desafia as narrativas convencionais. Para isso, oferece uma variedade de cursos e oficinas, desde jornalismo comunitário até produção audiovisual alternativa. A instituição capacita indivíduos e grupos a contar suas próprias histórias e a fazer ecoar suas vozes.

A entidade não é meramente educacional, mas promove campanhas e projetos que visam transformar a realidade, impulsionando a democratização da comunicação e fortalecendo os alicerces da democracia participativa. Fundamentos defendidos por Vito Giannotti, militante italiano que foi preso e torturado na época da ditadura militar brasileira, sem jamais desistir da luta democrática e da defesa do socialismo. Vitor, que morreu em 2015, e sua companheira de vida e de sonhos, a jornalista e historiadora Claudia Santiago, fundaram o NPC.

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Vitor esteve na Maré diversas vezes nos anos 2000 para convidar moradores a conhecerem o seu trabalho e serem alunos do curso. Uma dessas alunas foi Renata Souza, atualmente deputada estadual, que teve uma ajuda nos primeiros passos profissionais. “Antes de me formar jornalista profissional, eu já atuava, ainda adolescente, como comunicadora na Maré, no jornal O Cidadão, nele, por dez anos fui repórter e depois editora. E eu devo não somente a minha formação como comunicadora popular aos cursos do NPC. Devo também a minha própria formação política, com a expansão da minha consciência de classe. Com Cláudia e Vito aprendi a me apropriar da comunicação como instrumento de resistência e luta favelada contra a violência e o racismo de Estado”, destaca.

Compromisso contínuo com a mudança social

O NPC teve seu início há 20 anos, quando houve uma chacina no bairro onde mora a coordenadora Cláudia, na Tijuca, mais especificamente no Morro do Borel. “Foi a gota d`água para mim, me fez entender que a violência contra jovens nas favelas, majoritariamente negros, precisava ser denunciada amplamente por pessoas que moram em favelas. Aquilo precisava ter um fim. Ali começou a minha participação ativa na luta contra o racismo”, comenta. 

A partir desta denúncia marcante, nasceu o curso de Comunicação Popular do NPC, não apenas para abordar os aspectos práticos da comunicação, mas também promover uma compreensão mais profunda das questões sociais e políticas que afetam as favelas e periferias. A visão crítica do sistema e o compromisso com a justiça social são elementos essenciais do curso, que visa capacitar os participantes a desafiar as narrativas convencionais e amplificar as vozes. 

O curso tem a colaboração da Fundação Rosa Luxemburgo e é destinado a moradores de favelas, periferias, ocupações e estudantes de comunicação interessados na linha popular. As aulas ocorrem entre abril e junho, aos sábados, quinzenalmente, em locais variados que incluem sindicatos, ocupações urbanas, favelas, museus e cinemas. “Sempre entendi que devíamos apoiar os moradores que se interessassem pela transformação social a fazer a própria comunicação”, resume Santiago. 

Thaís Cavalcante, jornalista que atuou na Maré nos jornais O Cidadão e Maré de Notícias, fez dois cursos no NPC, sendo um para iniciante e outro de comunicação popular avançado. “Comecei essa relação com eles em 2014, aprendendo a ter um olhar mais crítico sobre as pautas que devemos levantar. Percebi que foi muito importante primeiro passar pelo NPC antes da faculdade. Lá conheci pessoas parecidas comigo, com os mesmos ideais, daí se cria uma rede de força para a caminhada na comunicação comunitária. É valioso ver que o curso formou comunicadores da Maré, o que fortaleceu a favela e nos mostrou a importância de uma comunicação feita pelo povo para o povo”, exalta.

Ao final do curso, os participantes contribuem para a produção de um Manual de Comunicação Popular, capacitando-os a se tornarem agentes ativos na construção de um mundo mais justo e inclusivo. “É mais importante do que nunca garantir que as vozes das favelas e periferias sejam ouvidas e valorizadas. O NPC não é apenas um curso, mas sim uma manifestação do poder da comunicação para promover a mudança, tendo o compromisso de contar histórias autênticas e desafiar narrativas dominantes”, finaliza Santiago.

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