Maré de Notícias #36

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[toggle title=”Parabéns”]

Por Fabíola Loureiro e Hélio Euclides

O nosso Maré de Notícias está fazendo aniversário; já são três anos que você, morador,  e nossas 16 comunidades, são a notícia mais importante. É a Maré fazendo e contado a própria história.

Neste mês de dezembro comemoramos três anos do Maré de Notícias. O jornal, que está em sua 36ª edição, foi idealizado para responder a uma demanda da população revelada por uma pesquisa implementada pela Redes da Maré: ao mesmo tempo em que os moradores e as moradoras têm o hábito de leitura de jornais, eles sentiam a necessidade de obter informações sobre a Maré.

A primeira edição, publicada em dezembro de 2009, saiu sem nome, mas lançava o concurso “Por um jornal da Maré: Diga que nome você quer”, para a escolha da marca do jornal. Mais de 500 pessoas participaram, e oito sugeriram o nome selecionado pela comissão julgadora. Na terceira edição o Maré de Notícias já estava batizado.

Hoje o jornal tem uma tiragem de 40 mil exemplares, todos eles distribuídos nas residências das 16 comunidades, nas associações de moradores, instituições parceiras e em algumas escolas locais. Nesses três anos, o jornal também ganhou visibilidade fora da Maré, tendo sido premiado pelo Conselho Regional de Serviço Social (Cress/RJ), além de ter pautado veículos da grande imprensa, que se interessaram pelos temas tratados no nosso jornal comunitário.

O Maré é disponibilizado ainda no site da Redes, podendo ser acessado por pessoas do mundo todo. Seu uso também tem ganhado as salas de aula. Conheça ao lado algumas iniciativas:

Na Maré, na Babilônia e no Chapéu Mangueira 

“Todo mês eu levo o jornal e realizo trabalhos em sala. Dar aulas de Biologia é falar da vida, do cotidiano. A forma como eu trabalho é respeitando o que os alunos acham interessante e o conhecimento prévio de cada um. Aqui na Maré utilizo o jornal desde sempre e na Babilônia e Chapéu-Mangueira desde o ano de 2011, sendo um meio de os alunos de Educação de Jovens e Adultos (EJA) conhecerem um pouco a Maré. Essa última matéria sobre a abordagem policial fez com que meus alunos do EJA ficassem admirados sobre o fato de existir uma campanha para mostrar ao morador os direitos que eles têm, e a forma correta de agir nesses casos. Já um pequeno texto sobre o Maré de Sabores rendeu um trabalho bem legal sobre as questões da alimentação saudável e pude também fazer uma relação com os inúmeros fast foods que têm pela cidade. O jornal é um recorte de algo que está acontecendo na cidade.”

Fábio Barglini é professor de Biologia e especialista em ensino de Ciências e Biologia. Ele utiliza o jornal em suas aulas do curso Preparatório para o Ensino Médio e para o Pré-Vestibular, ambos da Redes da Maré, e com uma turma de Educação de Jovens e Adultos no projeto do Sesi, nas comunidades Babilônia e Chapéu Mangueira, no Leme.

Jornal na escola do Conjunto Esperança
“Eu sempre acreditei que trabalhar textos vivos, ou seja, a realidade do aluno é importante. Trabalhar o Maré de Notícias em sala de aula traz vários benefícios, como o incentivo à leitura e à informação sobre a comunidade, pois o jornal fala do morador que produz cultura e que busca melhorar sua qualidade de vida, ao contrário dos outros jornais nos quais a Maré é sempre citada como local de violência. O jornal introduz os vários gêneros textuais, como a charge, por exemplo. Meus alunos já produziram poesia, texto e desenho para o jornal. Eles ficam eufóricos quando suas produções são publicadas. Eles também gostam muito do humor no jornal, em especial das piadas, e dos enigmas, das palavras cruzadas, dos caça palavras. A partir dessa experiência do uso do jornal estou elaborando um projeto de mestrado que aborda o ensino da língua portuguesa por meio de textos vivos. O desafio é que o jornal não seja apenas um instrumento de recurso didático usado na sala de aula só para se obter uma boa nota, e sim um instrumento de interação e informação. Eu já vejo isso, e avalio como resultado positivo quando o aluno posta o jornal no Facebook, por exemplo”.

Viviane Couto é professora do segundo segmento do Ensino Fundamental das escolas Teotônio Vilela, no Conjunto Esperança, e Ciep 476 – Elias Lazaroni, em Nova Campinas

Aluno se vê nas coisas boas da Maré

“Comecei a trabalhar com o jornal em sala de aula no Programa de Educação de Jovens e Adultos (EJA). A linguagem facilita o entendimento. Ele favorece a integração do aluno com a realidade. É uma fonte de informação de grande força. Aqui no Ciep trabalhamos o jornal com as crianças. Já fizemos até uma apostila para os professores sobre como devemos trabalhar o jornal na sala de aula. No jornal, o aluno se vê não nas coisas ruins, que são divulgadas em outros veículos, mas nas coisas boas da Maré. Temos um trabalho político pedagógico chamado ‘No meio da Maré’, do ambiente que temos ao que queremos. Nesse âmbito, o jornal é importante, pois nos fornece dados sobre o bairro. Em junho deste ano realizamos o evento ‘A atuação transforma ’, braço do projeto político pedagógico Por uma escola sustentável. Para esse projeto, os alunos usaram o jornal como resgate de suas origens.”

Carmem Lúcia Ferreira da Silva é diretora do Ciep Ministro Gustavo Capanema, da Vila do Pinheiro

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[toggle title=”Aprovado o Plano de Direitos Humanos da Maré”]

Centenas de pessoas estiveram envolvidas no processo de construção coletiva do texto do Plano Local de Direitos Humanos da Maré, que teve sua versão final aprovada no dia 28 de novembro no espaço Luta Pela Paz. A ideia é que o documento se desdobre, traga novas discussões e ações e seja entregue para o Poder Público.

O projeto é uma iniciativa do Iser, Redes da Maré, Observatório de Favelas e Luta Pela Paz, em parceria com a ONU Habitat. Também são parceiros a Ação Comunitária do Brasil, o Centro de Referência de Mulheres da Maré, o coletivo Entre sem Bater, a Vila Olímpica e o Vida Real.

O Plano é um projeto piloto, desenvolvido coletivamente pela comunidade ao longo de 2012, por meio de debates em encontros com diferentes grupos e organizações da Maré e também de oficinas com jovens. Foram estabelecidas diversas propostas de ação divididas em seis eixos temáticos: Espaços de Participação Popular; Grandes Empreendimentos, Moradia e Meio Ambiente; Garantir Direitos Respeitando as Diferenças; Segurança Pública, Acesso à Justiça e Combate à Violência; Educação em Direitos Humanos; Ditadura Civil-Militar e a Memória da Maré.

O encontro também se tornou um espaço de luto e discussão sobre os desdobramentos da tentativa de realização da Conferência em 1º de setembro, quando uma operação militar resultou na morte de dois jovens.

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[toggle title=”Todo mundo já pra escola!”]

Por Hélio Euclides

Programa envolve pais, alunos, professores, diretores e equipes de apoio administrativo de sete escolas e uma creche local

A cada 15 dias, os Grupos de Pais, do Programa Criança Petrobras na Maré (PCP-Maré), reúnem em média 50 responsáveis, além de representantes dos diversos segmentos que compõem a comunidade escolar: professores, pessoal de apoio, diretores. A ideia é tratar de temas variados que busquem intensificar uma organização coletiva. A grande motivação da Equipe Social do PCP é a percepção de que para envolver a criança e o adolescente de forma integral é necessário trabalhar com a sua família. Não basta tornar a escola mais interessante para a criança; é imprescindível que seus responsáveis percebam a importância de sua permanência e contribuam para que isso aconteça.

“A proposta é trazer os pais para a vida escolar dos filhos. O grupo de pais quer mostrar a importância de estar lado a lado, com o desenvolvimento de temas do cotidiano que venham da escola e com continuidade em casa, aprofundando a participação dos responsáveis”, explica Maira Spilak, uma das coordenadoras do PCP-Maré, programa que atinge sete escolas públicas locais e uma creche comunitária.

“Trata-se de uma oportunidade de todos debaterem temas sobre a realidade das famílias. É um processo para se chegar a um grupo participativo”, explica a assistente social do projeto, Alessandra Alves. Jussara Cosme, diretora do Ciep Elis Regina, entende que o trabalho se soma ao que é feito pelos professores. “É bom, pois não temos pernas para isso. Trabalhamos o pedagógico e aqui unimos ao temático”, observa.

Encontros promovem troca

A técnica de educação e saúde, Andrea Barbosa, elogia a iniciativa. Segundo ela, os temas são bem enfocados e o número de participantes possibilita a troca e a atenção de todos. “É melhor do que uma reunião de pais”, compara ela. Mas a bem da verdade as duas reuniões são importantes, cada uma com suas finalidades. “Um dos fundamentos do PCP é o trabalho com a comunidade escolar. Não atuamos só com as crianças e sim com todos os atores que compõem o ensino. Acreditamos que deva haver uma ação de todos, proporcionando a aproximação da escola com a família em prol do sucesso escolar dos alunos; só assim existe a educação”, ressalta a também coordenadora do programa, Júlia Ventura.

Os responsáveis envolvidos desenvolvem uma visão de formação, ação e mobilização. “É importante; sempre venho para discutir temas como bullying e violência doméstica. Recomendo a participação, pois aprendemos muito e podemos repassar a outros”, comenta uma das mães de aluno, Núbia Marques.

As reuniões são uma motivação para o envolvimento na vida escolar, possibilitando transformações. Cláudia Conceição é mãe e avó de alunos. Para ela, os encontros favorecem a convivência. “Se aprende muito do que é necessário, nos orienta na vivência com as crianças”, relata.

Conheça mais sobre o PCP-Maré
O PCP-Maré é uma parceria do Programa Petrobras Desenvolvimento & Cidadania, da Secretaria Municipal de Educação e da Redes de Desenvolvimento da Maré, que propõe contribuir para a melhoria da qualidade da educação pública de ensino fundamental no conjunto de 16 favelas localizadas na Maré. A atuação é promovida a partir de quatro eixos: ensino-aprendizagem, mobilização social, articulação institucional, interações educativas e diagnóstico do cenário da educação. Os atores envolvidos são: alunos, pais,  responsáveis, professores, diretores, coordenadores e apoio administrativo, além da equipe do programa.

As atividades acontecem no 1º e 2º segmentos do ensino fundamental em sete escolas municipais: E. M. Bahia, E. M. Tenente General Napion, Ciep Elis Regina, E. M. Armando de Salles Oliveira, Ciep Ministro Gustavo Capanema, Ciep Leonel de Moura Brizola e Ciep Hélio Smidt. Nessas unidades são oferecidas oficinas de Artes Visuais, Grafite, Circo, Marefestação, Comunicação, Teoria e Prática Musical, Teoria Musical e Canto, Marecatu, Marebatuque, Iniciação Musical, Teatro, Contação de histórias, Hip hop Dance e Complementação Escolar.

Na Creche Comunitária Cléia Santos de Oliveira, as oficinas lecionadas são Iniciação Musical e Contação de histórias. Na sede da Redes acontecem as oficinas de Artes Visuais, Arte sobre Azulejos, Grafite, Cordas Dedilhadas, Break, Hip Hop Dance, Maracatu, Contação e criação de histórias e Preparatório para 6º ano.

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[toggle title=”A caminho da facul!”]

Por Fabíola Loureiro

Trezentos jovens da Maré festejam a conclusão do Ensino Médio, alguns já pensando na faculdade

O dia 1º de dezembro foi marcado pela emoção na formatura de aproximadamente 300 alunos do Supletivo Maré, que aconteceu no Auditório do Centro Tecnológico da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Este é o segundo ano do supletivo, que surgiu a partir de demandas levantadas pelo projeto A Maré que Queremos, que reúne associações de moradores e instituições locais com o objetivo de lutar por melhorias estruturantes para as comunidades.

O ensino supletivo é uma modalidade educativa e tem como meta suprir os períodos não concluídos na escola por adolescentes ou adultos, por diversos motivos, entre eles questões familiares, profissionais e falta de tempo por causa do trabalho ou de perspectiva em relação aos estudos. Turma que cursou o Supletivo na Ação Comunitária do Brasil (ACB), na Vila do João. Com a intenção de oferecer uma oportunidade de concluir os estudos, para depois cursar a universidade, o Supletivo Maré, organizado pela Redes, oferece o Ensino Fundamental e Médio para os moradores com idades entre 18 e 23 anos. Em 2011 houve 520 inscritos e 183 se formaram. Este ano foram 570 inscrições, chegando a 305 formandos. As aulas aconteceram em diferentes locais da comunidade, como nas associações de moradores, igrejas, Lona Cultural e na ACB.

A manicure Eliane Barreto Pinheiro, também de 23 anos e moradora da Nova Holanda, não concluiu seus estudos porque se casou muito cedo, teve dois filhos e precisou trabalhar para sustentá-los. Voltou a estudar pela facilidade do horário (à noite e com aulas presenciais duas vezes na semana), permitindo que ela conciliasse com o trabalho.

“Fiz o 1° ano até chegar aos nove meses de gravidez, mas minha filha nasceu e parei de estudar. Com essa oportunidade consegui terminar meus  estudos e agora quero dar continuidade fazendo o curso Pré-Vestibular, pois tenho vontade de fazer faculdade de Informática ou de Estética. Na formatura fiquei muito emocionada e feliz, foi legal jogar o chapéu (capelo) pro alto no fim da cerimônia igual a gente vê nos filmes. Finalmente conclui meus estudos”, diz Eliane.

O artista circense Jorge da Silva Lira, de 23 anos, disse que nunca teve problema para estudar, mesmo sendo de uma família pobre da periferia do Distrito Federal. Ele e seus irmãos estudavam e tiravam boas notas, mas aos 14 anos ele parou os estudos, pois começou a ter vários conflitos em casa, de onde acabou fugindo.

“Morei um tempo na rua, comecei a trabalhar com malabares e circo e, aos 17 anos, comecei o supletivo mais não terminei. Antes eu estudava porque era obrigado pelo meu pai, que mesmo tendo estudado até a 4° série, queria ver todos os filhos formados no 2° grau. Com 18 anos comecei a me interessar por cursos e oficinas, devido ao gosto da arte circense e do teatro e, aos 20 anos vim para o Rio de Janeiro. Fiquei sabendo do curso na Maré por uma namorada que tive. Corri atrás dessa oportunidade e levei a sério, pois terminar o 2° grau era o primeiro objetivo de muitos outros que tenho. A formatura me emocionou. Não imaginava que teria uma formatura mesmo terminando os estudos tarde. E ainda ser escolhido para representar a turma sendo o Orador e ver minhas tias presentes na cerimônia me deixou muito feliz. Dificuldades a gente sempre vai ter e essa foi uma vitória que conquistamos”, relata Jorge.

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