Maré de Notícias volta a circular nas ruas das favelas da Maré

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Pausa no impresso durou cinco meses e jornal digital foi alternativa nesse período

Thaís Cavalcante

A rotina de passar um café quentinho de manhã, abrir o portão e receber na Caixa de Correio o jornal Maré de Notícias está de volta. Desde o dia 08 de setembro que o Maré de Notícias retomou sua circulação para as mais de 47 mil casas das 16 Favelas da Maré depois de cinco meses apenas on-line, em decorrência da pandemia. As notícias da edição 116  levantam questões fundamentais sobre o impacto do novo coronavírus no território: precariedade do saneamento básico e abastecimento de água; atuação dos produtores culturais; proibição das operações policiais nas favelas e muito mais. 

Devido aos cuidados com a higienização e a necessidade do distanciamento social motivados pela pandemia, a decisão de pausar temporariamente a entrega dos exemplares foi necessária para proteger os distribuidores, a equipe do jornal e os moradores da Maré. A volta é igualmente importante para ampliar o acesso à informação e foi feita com segurança e os protocolos necessários. Para garantir a saúde de todos, além do uniforme e de máscaras de proteção, os distribuidores realizaram o teste de covid-19 antes de iniciar as entregas. 

Jonathan da Cruz, distribuidor do jornal, gosta da proximidade que é levar as notícias de porta em porta. Depois desse período de pausa, está empolgado com o retorno. “Está sendo muito bom estar de volta à distribuição do jornal, para que nós, distribuidores, andemos juntos com os moradores em prol da comunidade”, declara.

Distribuidores do Jornal Maré de Notícias durante entrega da edição 116 – Foto: Dani Moura

Comunicação local como disputa de narrativa

O impresso é o único que circula gratuitamente pelas ruas, becos e vielas da Maré, valorizando a história de cada mareense, a memória do território e informando o que acontece de mais importante, mês a mês. É o jornalismo comunitário crítico e cidadão que potencializa a luta da favela desde a primeira edição, em dezembro de 2009.

Auricer da Silva Guimarães, morador da Nova Holanda,  já recebeu o seu exemplar. “Eu acho muito importante o jornal porque muita gente não sabe o que tem na comunidade. Como sou criado aqui há 46 anos, desde que começou a entregar eu sempre pego. Quando termino de ler, passo para os vizinhos”, conta.

Quem também faz parte da história do impresso é o jornalista Hélio Euclides. “A vida de luta e união do José e da Maria, por exemplo, é destaque para nós. Acho que o jornal comunitário tem esse papel de lembrar quem são as pessoas que lutaram lá atrás, para que a juventude tenha a mesma garra e continue lutando. A palavra é mobilização. Mobilizar os moradores hoje para conquistar as políticas públicas que a Maré tanto almeja”, observa.

Sobre a volta do impresso, Euclides completa: “É importante o jornal voltar a circular porque a internet na favela é muito ruim. Com a circulação, a gente tem a certeza de que o morador vai ler. Já pela internet, toda a cidade pode ler, o Brasil e o mundo, mas às vezes, a própria Maré não tem esse acesso”.

A circulação dos 50 mil exemplares do Maré de Notícias é maior que a tiragem de cinco grandes jornais comerciais do país: Valor Econômico (SP), Correio Braziliense (DF), Estado de Minas (MG), A Tarde (BA) e O Povo (CE). Eles vendem, em média, de 10 mil a 26 mil exemplares. O levantamento feito pelo veículo Poder 360/Drive justifica a queda dos impressos no país em 2019 devido ao aumento de assinantes em suas versões digitais.

Já no jornalismo local carioca, a tendência em garantir a sustentabilidade de veículos com assinaturas individuais caminha lentamente, mas isso não impede que o jornalismo digital aconteça. Diariamente é possível consumir conteúdos e notícias sobre as favelas e periferias em diferentes portais de notícias, podcasts, plataformas de vídeo e, claro, em páginas e perfis nas redes sociais.

Um deles é o Maré de Notícias Online, um dos canais de comunicação que complementa o impresso de mesmo nome. Aqui é possível acessar os textos do jornal e outros conteúdos que são publicados apenas no portal, como a Ronda Coronavírus, que surgiu em meio à pandemia para dar notícias mais específicas sobre o impacto da covid-19 no Rio de Janeiro e na Maré. Em média, são mais de 4 mil visitas no site todo mês. Diante desse cenário, o Maré de Notícias segue como um dos maiores jornais comunitários do Brasil e uma importante ferramenta local de disputa de narrativa sobre a favela, que impacta e transforma dentro e fora da Maré.

Fique por dentro

As edições de 111, 112, 113, 114 e 115 – produzidas apenas em versão on-line – estão disponíveis no site para leitura.

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