Como funciona a Campanha Maré Diz NÃO ao Coronavírus da Redes da Maré

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A diretora da Redes da Maré, Eliana Sousa, responde perguntas sobre a Campanha que já impactou 20 mil mareenses

A Campanha Maré diz NÃO ao Coronavírus, da Redes da Maré,  completou um mês de  trabalho de arrecadação e distribuição de cestas de alimentos, kits de higiene pessoal e de limpeza aos moradores das 16 favelas da Maré. A iniciativa também doou quentinhas para usuários de álcool e outras drogas e pessoas em situação de rua. A comida foi feita pelas mulheres do buffet Maré de Sabores, projeto que funciona na Casa das Mulheres, e que com a pandemia teve os eventos contratados cancelados. 

Nesses 30 dias iniciais da campanha, foram 328 toneladas de itens doados porta em porta. Cerca de 7.272 cestas básicas, 4.600 quentinhas distribuídas na cena de uso de crack, na rua Flavia Farnese (Parque Maré) e na  avenida Brasil (altura do Parque União), e além de 4.800 coelhos de chocolates, em uma ação na véspera da Páscoa, impactando  20 mil moradores da Maré.

A campanha que acontece até maio articulou uma rede de parcerias de instituições, empresas e indivíduos que viabilizaram doações de diversas formas. Para a distribuição de  porta a porta foi desenvolvida uma metodologia de distribuição articulada com uma rede de parceiros locais, que contou com as 16 associações de moradores, 05 organizações não-governamentais e 17 coletivos. A partir dessa parceria também foram distribuídos produtos de  higiene, 4.008 detergentes; 15.440 frascos de álcool em gel, 19.068 shampoos e 4.680 condicionadores. Tudo isso mobilizou cerca de 300 pessoas, entre trabalhadores da Redes da Maré  e voluntários. A frente disso tudo está Eliana Sousa Silva, diretora fundadora da ONG Redes da Maré que há mais de 20 anos atua nas 16 favelas da Maré. Eliana conversou com o Maré de Notícias sobre as conquistas, desafios e impactos da campanha. Confira!

Eliana Sousa Silva nasceu em Serra Branca (PB) e morou na Maré durante 25 anos. Em 1997, reuniu um grupo em torno da criação do Curso Pré-Vestibular Comunitário da Maré, para oferecer aos jovens do complexo de favelas com 140.000 habitantes uma oportunidade igualitária de acesso à Universidade, era o início do que hoje é  a Redes da Maré, uma organização que há 20 anos atua no conjunto das 16 favelas da Maré. É autora do livro Testemunhos da Maré, pesquisadora em segurança pública e professora visitante do Instituto de Estudos Avançados da USP.  (Foto: Karima Shehata)

Maré de Notícias: Que impactos diretos a Maré está tendo com a pandemia? E indiretos?

Eliana: Com a necessidade da quarentena e das pessoas se isolarem, uma parte da parcela dos moradores e dos trabalhadores da Maré estão ficando sem trabalho, sem renda. Então, isso é um impacto direto na vida dessas pessoas e exige pensar o quanto isso será desafiador para elas. 

O segundo impacto tem a ver com as condições reais das pessoas poderem cumprir os protocolos que são exigidos para uma não contaminação em massa. A gente tem uma situação muito específica que é as pessoas viverem em casas muito pequenas, a maioria 50 metros quadrados, uma família numerosa e isso faz com que, normalmente, as pessoas não tenham condições de olhar para esses protocolos e cumprir da maneira que ele é solicitado. Isso cria um impacto, talvez, de exigir das pessoas mais cuidados com a questão de higiene e acesso à materiais para poderem se proteger. Então, há também um impacto concreto do ponto de vista da saúde das pessoas porque elas não têm, na verdade, as condições de responder a isso.

Indiretamente, nós temos um impacto que está ligado a uma situação de, muitas vezes, as pessoas não poderem, por exemplo, usar o Sistema de Saúde, que já estava precário, e que agora com essa situação, tem uma demanda muito grande em torno do coronavírus, elas terem que buscar outras alternativas.

Então, os efeitos desse processo, na verdade, vão acontecendo e a dimensão disso vai se mostrando no processo de aprofundamento dessa demanda de isolamento e de uma resposta da população. As favelas, de uma maneira geral, estão sendo afetadas de uma maneira muito rápida e direta, no sentido de que elas não conseguem responder devidamente a essa questão econômica e a questão da saúde, e a gente vai tendo no processo outros defeitos que vão aparecendo e surgindo no momento em que a gente aprofunda essa crise, no momento que ela vai virando uma crise humanitária e exige de toda a população do Brasil. E se a gente olhar também numa escala mundial, exige uma outra postura e uma outra forma de lidar com a vida e com o cotidiano e com as demandas que a gente tem no dia a dia.

MN: Como a campanha pode mitigar esses impactos? Quais as frentes para esses 90 dias de campanha?

Eliana: A campanha Maré diz não ao coronavírus pode impactar na Maré, pode mitigar as consequências desta pandemia, na  resposta imediata, urgente a uma demanda relacionada à falta de alimentos – inicialmente ao acesso de famílias que já estavam numa situação de vulnerabilidade no momento anterior a pandemia. Existe um contingente de pessoas que moram nas 16 favelas da Maré que já demandavam uma assistência no campo da alimentação e que agora, é social e profunda. Então, há um aspecto da campanha que é responder a esta questão de segurança alimentar, identificar e atender a uma demanda de cesta básica de alimentos e de higiene. Durante 90 dias a gente vai tentar responder a esta demanda alimentar, mas a campanha também tem outras frentes, como trabalhar com a população de rua, que está relacionada à cena de crack, que se formou na Maré há alguns anos, e que a Redes da Maré já trabalha com essa população. Com isso, existe uma preocupação real em suprir, no ponto de vista do alimento, a demanda alimentar dessas pessoas, mas também o cuidado com elas em relação à prevenção. A gente tem instalado galões com sabão, distribuído sabonetes, ações para tentar ajudar nessa questão da higiene de onde essas pessoas ficam, justamente para elas não sofrerem os impactos de uma possível contaminação por conviverem juntas, por partilharem utensílios e objetos. Há para essas pessoas a distribuição de 200 quentinhas diárias nas ruas, nas concentrações onde tem população de rua, como na Rua Flávia Farnese e na Avenida Brasil.

Essa frente tem contribuído também com a geração de renda de mulheres do projeto Maré de Sabores, que funciona na Casa das Mulheres. Elas tinham a renda em torno de buffets, que com a pandemia, foram cancelados. Com isso, vimos uma possibilidade delas produzirem as refeições e ganharem uma ajuda de custo.

Além disso, há a frente com costureiras das favelas da Maré, para que elas produzam máscaras. A partir dessa produção a gente vai distribuir as máscaras e contribuir com a mudança de comportamento da população como um todo. Então essas máscaras serão produzidas por essas costureiras da Maré e elas também vão receber uma ajuda de custo, e ao mesmo tempo a gente vai doar essas máscaras para que a população use e consiga se prevenir.

Temos uma outra ação de comunicação forte, em parceria com a Fiocruz. A ideia de construir conteúdos que possam ser distribuídos a partir de diferentes meios dentro das favelas da Maré e também um canal de comunicação para tirar dúvidas, para que a gente possa, de maneira qualificada, responder e pensar em como mitigar os efeitos disso na população. Para isso, a população precisa acessar uma informação qualificada. Então, existe uma frente de comunicação em torno disso.

E a gente está começando agora, no segundo mês da campanha, a trabalhar as demandas de violações de direitos. Então o canal de WhatsApp do Maré de Direitos, que já funcionava no momento de operações policiais, das violações de direitos, ele volta agora com essa frente de tentar entender quais são os direitos que estão negligenciados nesse momento, sejam pessoas que estão com sintomas de Covid-19, que vão hospital e não recebem atenção e não conseguem fazer o teste, sejam pessoas que estão sofrendo violência… A gente está voltando com esse canal que é uma frente muito importante neste momento.

MN: Como aconteceu a entrega das cestas?

Eliana: O primeiro mês da entrega das cestas de alimentos e kits de higiene e limpeza, aconteceu a partir de uma articulação dos dados de famílias que nós já temos cadastradas a partir do Censo da Maré, mas também de bancos de dados de algumas organizações que fazem atendimento direto à população. A gente partiu de algum lugar, já que a gente não podia entregar cestas básicas de maneira aleatória. A gente tinha que ter alguma referência [de dados].

Eu entendo que foi um período muito importante para compreender o quanto a gente tem uma demanda forte, hoje, expressiva e significativa dentro das favelas da Maré por pessoas que precisam realmente de alimento. Então a gente se deparou com situações muito específicas: de mulheres, sozinhas, que têm seus filhos e perderam seus empregos. Agora nós temos também situações de idosos, que é uma preocupação grande, que moram sozinhos e que demandam alimentação e cuidado. Então, foi muito importante o primeiro mês para que a gente tivesse uma ideia geral de todas as questões que envolve mexer com segurança alimentar dentro das 16 favelas da Maré.

A gente tinha uma meta de 6.000 famílias, que partiu desses bancos já existentes, e no processo, a gente conseguiu captar mais e ampliar a demanda para 7.272 famílias. Fechamos no dia 18 de abril, sábado, com esse número, que foi muito importante e a gente considera uma conquista. Mas a gente tem muitas questões no processo de entrega, de logística e de definição das famílias que mais demandam atenção neste momento, no campo de alimentação, que a gente está justamente revendo agora para ir para o segundo mês.

MN: Qual critério de avaliação feito para as famílias que receberam as cestas?

Eliana: Foi um critério de renda, mas um critério que foi avaliado a partir de um banco já existente de pessoas que já, de alguma maneira, entraram em contato, seja por ações estabelecidas pela Redes da Maré, ou por outras organizações como o Uerê ou o Luta Pela Paz. E a partir disso, agora a gente vai poder, de fato, entender no contexto atual, quais são as pessoas que estão precisando mais, nesse critério de pobreza extrema, que perdeu renda, e que por isso demandam de uma alimentação.

É muito importante para a gente ter uma avaliação realista disso, precisamos do apoio das pessoas, no sentido de realmente tentar criar uma dinâmica de empatia, de entendimento de como os recursos são limitados. A gente precisa, de fato, e identificar as pessoas que mais necessitam neste momento, e a partir daí, trabalhar propostas e iniciativas para chegarem as pessoas que não demandam tanto de uma alimentação em geral, mas que neste momento de pandemia, e por falta de trabalho, elas precisam dessa ajuda também. Então o critério foi de renda e o de perda de renda neste momento.

MN: Qual foi o papel das associações de moradores nesta campanha?

Eliana: As associações de moradores foram fundamentais. A Redes da Maré tem um projeto chamado a Maré Que Queremos, que é um fórum que reúne as associações de moradores todo mês. E todas as nossas ações que envolvem melhorias de qualidade de vida na Maré, projetos de urbanização, de desenvolvimento do território, a gente envolve as associações. A ideia é que a gente possa contribuir para qualificar melhor essas demandas tecnicamente e, ao mesmo tempo, ajude nesta missão de cumprir o propósito de melhorar a vida dos moradores das 16 favelas.

Nós fizemos uma reunião com os presidentes das associações, porque algumas delas já distribuem cestas básicas, para pedir a listagem desses moradores que recebem as cestas, para ajudar a gente a chegar nas pessoas que mais precisam. Então no primeiro mês foi definido o número de 100 cestas por associação. E a gente usou como ponto de partida a lista que eles tinham.

As associações estão sendo parceiras neste processo de identificação de pessoas que mais precisam. Elas têm ajudado a gente em todo o processo e também são envolvidas nas entregas de outros itens que chegam para a doação pela campanha.

Nesse sentido, é muito importante os moradores terem como referência as suas associações e buscar o entendimento, uma compreensão de que os recursos que chegam, o presidente das associações é que pode distribuir estes recursos para quem mais precisa. Então tem uma coisa da própria comunidade se mobilizar e ajudar a associação de moradores neste processo.

MN: Como explicar para os moradores a entrega de duas, ou três cestas para a mesma família?

Eliana: A gente recebeu esta informação e a gente, na verdade, está verificando todos os casos onde houve essa duplicidade. Muitas vezes, você tem duas ou três pessoas da mesma família fazendo atividades em diferentes organizações que nos deram a lista. Então, como no primeiro momento, a gente pegou essas informações e montou a primeira entrega – porque a gente tinha que partir de algum lugar -, a gente foi percebendo nesta lista tinham, às vezes, pessoas que associação de moradores identificavam que uma criança dessa família fazia curso no Luta Pela Paz e ao mesmo tempo, estava apta, pelo recorte de renda, de receber uma cesta. A duplicidade aconteceu em função desta situação que não mais irá acontecer. Agora a gente criou um banco unificado e o critério vai ser uma cesta por domicílio.

Então é muito importante as pessoas entenderem que para a gente aperfeiçoar um processo grande, como esse que está acontecendo, às vezes vai ter algum tipo de erro, mas que rapidamente é corrigido. É importante as pessoas possam falar o que elas acham interessante, temos canais para isso. Inclusive tem pessoas que voluntariamente vieram e devolveram porque já tinham recebido, e a gente também precisa reconhecer isso. Olhando que a gente distribuiu mais de 7.000 cestas e que isso aconteceu em alguns casos, isso faz parte do processo de aperfeiçoamento. E isso não vai acontecer na segunda leva.

MN: E sobre a demora na entrega? Houve reclamação via redes sociais de moradores que fizeram o cadastro antes do dia 29/3 e ainda não recebeu.

Eliana: A gente partiu desse banco inicial, mas justamente por saber que o banco cadastrava as famílias a partir de um critério de renda e que foram identificados no Censo, mas a partir também nas instituições. No momento que está aumentando a necessidade de pessoas que não estavam nessa condição, a gente resolveu abrir um canal – que no caso foi o WhatsApp do De olho no Corona – justamente para poder os moradores terem uma possibilidade. Aqueles que não estavam inseridos desse cadastro poder também se cadastrar e ter a chance de solicitar uma ajuda neste momento.

Recebemos um número muito significativo de pedidos de pessoas. A demora é porque a gente tem que fazer todo um cadastro, a partir da mensagem que elas nos enviam. Precisamos conferir, para não ter os mesmos erros, porque muitas pessoas que mandaram [mensagem no Whatsapp], por exemplo, já estavam na lista que a gente já tinha inicialmente. Então era preciso fazer essa conferência inicial primeiro com esse banco já existia. Segundo que a demanda foi muito maior do que o que a gente já tinha previsto inicialmente.

Agora estamos criando a possibilidade para uma resposta mais rápida porque a gente vem criando a capacidade de responder a uma campanha que foi criada em função de uma crise. Não tínhamos um projeto planejado e começamos a executar. A gente teve que responder a essa demanda de captar recursos, de identificar pessoas, de criar uma logística para entrega… Agora que a gente experimentou nesse primeiro mês, a gente vai para o segundo mês mais organizado. E quem não recebeu é porque a gente precisa estar organizada para fazer isso com seriedade. Além de estar respondendo às pessoas que doaram. A gente tem que ter um cuidado com que a gente está entregando, e qual o critério [que a gente está usando] para a entrega… Então tudo isso exige uma organização e planejamento.

Eu queria falar para essas pessoas que elas precisam entender que elas entraram em cadastro, que agora a gente vai verificar a demanda e que a gente vai ainda buscar a nossa capacidade de buscar mais recursos de comprar cestas para essas pessoas que precisam. Esse é o nosso desejo e nem sempre a gente consegue atender a todo mundo.

Então é realmente entender a dificuldade da nossa capacidade de responder, talvez no tempo que as pessoas estejam precisando, mas isso, de forma muito transparente, não tem como simplesmente mandar uma mensagem e a pessoa receber uma cesta no dia seguinte. Tem todo um trabalho sério de responder e criar um laço com essa pessoa que pediu, mas também responder de uma maneira adequada, técnica e profissional a quem a gente está pedindo esse dinheiro para dar a cesta.

Então eu pediria às pessoas que se inscreveram, que elas esperem, que alguma resposta elas terão e que elas serão chamadas para a entrevista social que nós estamos fazendo com todo mundo.

MN: Como coibir a venda das cestas doadas?

Eliana: A gente também recebeu algumas informações de pessoas fazendo o uso indevido de cestas e eu quero acreditar que isso é uma coisa muito pontual, de pessoas que não estão entendendo a situação. E ao mesmo tempo, pessoas oportunistas que se aproveitam de um momento como este que a gente tá vivendo, e pega um alimento que é para dar quem precisa e pode vender… Isso é muito triste, na verdade. Isso é muito lamentável, muito grave. Isso é crime!

A única forma de coibir isso é toda população entender o espírito da campanha, entender que a gente precisa cuidar de todas as pessoas que moram na Maré. E esta responsabilidade não é só nossa. É uma responsabilidade coletiva de realmente nos ajudar a fazer que as pessoas entendam que se uso indevido é grave e que não pode acontecer.

MN: E a doação do álcool gel, o que é importante que morador saiba nesse momento sobre essas doações?

Eliana: É importante a população entender que a L’Oréal, a pedido nosso, produziu 100 mil frascos de álcool gel. Isso tem a ver com um dado que nós dizemos que a Maré tem 47 mil casas. Então, a ideia é de que cada casa possa receber, pelo menos, dois frascos desses 100 mil. Quando a gente fez o pedido e captou esta doação foi a partir dessa lógica de que todo mundo pudesse ter álcool gel em casa. Acessar álcool gel, que é um produto caro atualmente.

Também o comércio da Maré precisa ter esse produto. No momento em que as pessoas vão para o comércio, elas precisam usar álcool gel. Então, é uma tentativa nossa genuína de fazer com que as pessoas entendam que o álcool gel é um elemento importante, assim como lavar as mãos, assim como o sabão é muito importante nesse momento.

A doação é para os moradores da Maré, para os domicílios, para o comércio. Não pode ser vendido em hipótese alguma. Não pode ser feito nenhum uso que não seja gratuito e direcionado para os moradores da Maré. A gente está atenta a isso e peço mais uma vez a importância de todas as pessoas da Maré para olharem para isso e nos ajudar a coibir qualquer uso indevido nesse sentido.

MN: A segunda fase da campanha terá a mesma característica que a primeira? Quais as mudanças previstas?

Eliana: A segunda fase da campanha – que vai começar dia 9 de maio – está sendo planejada justamente a partir da avaliação do que foi positivo e do que não foi positivo na primeira fase. A gente vai continuar entregando as cestas de porta em porta e espera ampliar o número de pessoas nesse banco que a gente tem de cestas básicas direto. Mas a gente vai também experimentar uma modalidade nova, que é justamente de um cartão com valor de cesta básica para algumas famílias poderem comprar diretamente os alimentos nos supermercados e farmácias da Maré. Vamos ter essas duas frentes de acesso alimento e material de higiene limpeza.

A gente espera conseguir, nessa segunda fase, atender todas as pessoas que realmente estão necessitando de alimentos. Para isso, a gente está revendo todas as pessoas que estão no cadastro para pedir comprovação e fazer entrevista social com elas, algumas por telefone, outras presencial… Então tudo isso está sendo feito agora, preparando a segunda etapa e aqui a gente espera que a gente consiga dar respostas mais imediatas para algumas pessoas que precisam de fato.

MN: Qual o aprendizado desta primeira fase e o que se pode implementar na Redes da Maré nesse campo?

Eliana: A gente, de uma hora para outra, teve que dar uma resposta para algo muito básico, que é acesso a alimentação de uma parcela de uma população da Maré. Nós entregamos 323 toneladas, o que corresponde a 7.272 cestas nessa primeira fase. Então tem um aprendizado enorme, nesse sentido de aprofundar o conhecimento dessa população da Maré, aprofundar nosso conhecimento sobre as reais demandas dessa população. Então, isso nos faz pensar como organização, mas também como o coletivo de instituições que estão contribuindo nesse processo de fazer essa campanha, pode contribuir com o nosso trabalho, que é estruturante, porque tem um aprendizado que vem desse contato direto com essas pessoas que mais precisam.

Eu acho que a gente precisa, na verdade, ter um aprendizado que a partir do momento que a gente sair dessa crise humanitária, de conseguir olhar para projetos e demandas que tenham a ver com esse novo momento que está sendo colocado. Acho que tem um processo que vem depois, que é olhar para isso tudo e olhar para os desafios que a população vai ter para garantir o seu sustento, para ter qualidade de vida, para ter direitos estabelecidos. Esse contato direto com a população faz a gente repensar tudo isso. Esse é o maior aprendizado.

MN: Há alguma ação planejada a longo prazo?

Eliana: Existe um pensamento na questão de ação para longo prazo que tem a ver com Eixo de Desenvolvimento Territorial que a gente tem na Redes da Maré, que é pensar de maneira estratégica como garantir a qualidade de vida dentro do conjunto de favelas da Maré. Como garantir direitos no campo da urbanização, no campo ambiental, da saúde… Então, a ação planejada é pensar como esses recursos que nós mobilizamos – de pessoal – eles podem ser recursos que serão mobilizados para traçar estratégias de longo prazo, que a gente está tentando construir com o nosso trabalho dentro do conjunto de 16 favelas da Maré.

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