Maré na luta contra insegurança alimentar

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Redes busca construir programa de combate à fome que atenda famílias sem renda ou benefícios sociais do governo

Maré de Notícias #127 – agosto de 2021

Por Edu Carvalho

“Senhora! É a Redes da Maré! Viemos trazer sua cesta de alimentos!”, ecoa nas ruas da Nova Holanda. É assim que integrantes da equipe que entrega cestas básicas e kits de limpeza por meio da campanha Maré diz NÃO ao Coronavírus realiza um trabalho permanente de visita aos domicílios cadastrados na base de dados da Associação Redes da Maré, pensada para acontecer em várias frentes durante a pandemia da covid-19.

O objetivo é conhecer as famílias que mais precisam de ajuda neste momento. Todos os dias, os colaboradores da Redes percorrem o território da Maré para entender os desafios enfrentados no território. De março até junho de 2021, foram realizadas cinco mil visitas domiciliares, chegando a 2.752 famílias beneficiadas. 

Em um segundo ciclo da ação, uma triagem foi estruturada a partir da primeira etapa da campanha em 2020, seguindo critérios de maior necessidade. O desejo é impactar diretamente famílias sem renda, que pagam aluguel e que não foram incluídas nos programas do governo federal, como Bolsa Família e Auxílio Emergencial; e também aquelas com crianças, idosos e pessoas com deficiência. A meta é assistir seis mil famílias.

“Estamos atendendo as famílias que encontramos, ao longo da primeira fase, e que estão em extrema vulnerabilidade. É realizada uma visita domiciliar com uma equipe técnica para que seja identificada a real complexidade de cada caso”, conta Joelma Souza, coordenadora do Eixo de Desenvolvimento Territorial da Redes da Maré. 

Ela explica que essa pesquisa é fundamental, porque leva em consideração fatores que acabam passando despercebidos. “A partir da visita domiciliar é possível identificar se a família está numa situação de insegurança alimentar moderada ou grave.” (Insegurança alimentar é quando o acesso e a disponibilidade de alimentos são escassos. Se uma família não tem acesso regular e permanente à alimentação, em quantidade e qualidade adequadas, ela está nesta situação.)

Sono que disfarça a fome 

Joelma diz que, em muitos casos, consegue-se até um ingrediente, como fubá, arroz ou só feijão. “Já encontramos famílias nas quais a mãe estava fazendo mingau de maisena com água porque não tinha leite.” Ela também se lembra de uma equipe que encontrou, em uma das visitas, as crianças da família dormindo para não sentirem fome, porque não havia comida em casa.

Atualmente, o programa não está aceitando novas inscrições. “Diante da nossa realidade de morador de favela, todos precisamos receber uma cesta. Mas descobrimos que grande parte das famílias atendidas está em situação muito pior.”A pandemia explicitou um problema que vem se agravando nos últimos tempos. A fome (o grau mais agudo da insegurança alimentar) atinge 9% da população, segundo a pesquisa Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional — ao todo, mais de 116 milhões de brasileiros não tem comida suficiente na mesa, o equivalente a mais da metade da população do país. Segundo os dados, a estimativa é que o Brasil tenha retrocedido 15 anos no combate à fome somente nos últimos cinco anos.

Para receber as cestas básicas, as famílias da Maré passam por entrevistas sociais – Foto: Douglas Lopes

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