Maré recebe cientista de dados que denunciou o Facebook para o Senado dos EUA

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Evento promovido pelo Instituto Marielle Franco no Observatório de Favelas teve debate sobre, além dos aspectos mais gerais em relação à responsabilidade das gigantes da tecnologia quanto aos dados, os perigos da desinformação nas eleições

Por Samara Oliveira, em 13/07/2022 às 14h

O conjunto de favelas da Maré recebeu, na última quinta-feira (7), a engenheira de dados e ex-funcionária do Facebook Frances Haugen para um debate sobre a responsabilidade das grandes empresas de tecnologia no combate à violência política na internet às vésperas das eleições de 2022. 

Em 2021, Haugen divulgou documentos internos do Facebook que indicavam que a plataforma priorizava lucros em detrimento da segurança dos usuários. A denúncia feita através do The Wall Street Journal chegou ao Senado dos Estados Unidos e provocou grandes debates públicos sobre a falta de transparência na operação das redes sociais no Brasil. 

“O Brasil é uma das democracias mais importantes do mundo e que mais gera lucro para a plataforma, assim como é o país que mais é impactado politicamente porque eles trabalham  ‘às escuras’. O Facebook veio para o Brasil e dificultou o crescimento da internet no país. Eles chegaram aqui dizendo que ofereciam um serviço gratuito, mas, na verdade, você precisa pagar para poder ser atendido pela plataforma”, disse a cientista estadunidense. 

O evento realizado no Observatório de Favelas foi uma iniciativa do Instituto Marielle Franco (IMF) em parceria com o Instituto da Hora, LabJaca e o DataLabe. Além do Maré de Notícias, o debate contou com a presença de comunicadores independentes e outros jornais locais comunitários como o Voz das Comunidades e o Favela em Pauta

Na abertura da roda de conversa, Anielle Franco, diretora do IMF, falou sobre o surgimento do instituto a partir da violência política que vitimou sua irmã e vereadora do Rio Marielle Franco, além de falar em entrevista sobre o compromisso da organização.

“Desde 14 de março de 2018 quando assassinaram a minha irmã, ali naquela mesma noite a gente teve o primeiro grande contato com a fake news. Não só naquele dia, mas por todos os anos que vieram seguindo a morte da Mari. Era uma coisa muito covarde que fizeram com a imagem dela e desde então o instituto pegou isso como um dos seus valores e pilares que é combater a fake news e a desinformação para que a gente possa ter um país mais democrático para todas as pessoas, inclusive as mulheres negras”, disse. 

Além de Frances Haugen, a mesa que tratou o assunto foi composta por Nina da Hora, do Instituto da Hora, a diretora do IMF, Anielle Franco, e o diretor da Luminate, Rafael Borges. Durante o evento, Haugen apontou a problemática do trabalho do Facebook no país correlacionando com o não avanço das redes sociais que saiam do escopo da Meta (um conglomerado estadunidense de tecnologia e mídia social, responsável pelo Facebook). 

Perguntada pela equipe do Maré de Notícias sobre como criadores de conteúdo e jornais independentes podem reagir a esse tipo de dominação das plataformas sem que sejam boicotados pela mesma, ela enfatizou a importância da organização da sociedade civil.

“O fato de que os processos de moderação de conteúdo do Facebook não são transparentes, reforçam essa dinâmica de poder de que todas as escolhas são feitas na Califórnia (local onde é sediada a Meta). Quando as pessoas falam sobre esses problemas significa que o conteúdo delas vai ser retirado. Precisamos nos organizar nas nossas comunidades para forçar os líderes a aprovarem leis que exijam que seja uma condição para o Facebook atuar no Brasil o fornecimento de dados de como, de fato, esse sistema opera e dados reais de performance sobre como a moderação de conteúdo de fato acontece”, explica. 

Reforçando a fala de Frances, Nina da Hora ressaltou que é essencial estabelecer redes de diálogo e atuação quando se fala em disputa de narrativas e produção de dados em conjunto com outras organizações. 

Ao pensar em soluções a curto prazo para as problemáticas, Frances enfatizou:  “O arco de mudança vai levar mais tempo do que desejamos. Os custos que o Brasil tem, principalmente para as pessoas negras, não são nada satisfatórios. Precisamos criar infraestrutura para que possamos fazer escolhas e por mais irônico que pareça, continuar relatando nas redes sociais o que acontece para que outras pessoas vejam o que se passa aqui. O Facebook pode escolher deixar o ambiente seguro, mas eles querem trabalhar assim, às escuras”, conclui a ex-funcionária da rede social. 

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