Característica de crescimento exponencial do vírus pode sobrecarregar o Sistema Único de Saúde
Flávia Veloso
O Brasil, hoje, tem de correr contra o tempo para evitar que o Covid-19 se espalhe em proporções em que não haja mais como conter. Em entrevista coletiva na última quarta-feira (18/03), o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, disse que o crescimento de casos do novo coronavírus “depende diretamente do comportamento das pessoas”. É verdade que os devidos cuidados com a higiene têm de ser tomados, mas faltam ações dos governos para o controle da epidemia.
As principais delas são planos para evitar aglomeração de pessoas e testagem em massa do Covid-19, recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS). Contudo os testes estão sendo feitos somente em casos graves da infecção e ainda se vê conduções lotadas de trabalhadores que não foram liberados para quarentena. Isso se reflete no registro de contágio: no terceiro dia de recomendação de quarentena (18/03), havia 55 infectados na cidade do Rio; no oitavo dia (22), o número já subira para 168.
Muitos dos trabalhadores que não foram autorizados a ficar em casa moram em favelas, correndo alto risco de contrair o vírus e transmitir a seus familiares. A realidade de casas em que moram muitas pessoas com poucos cômodos também não faz parte da pauta do Estado.
Estudos da Universidade de Brasília (UnB) indicam que o aumento do contágio acontece de maneira exponencial, ou seja, está em constante aumento. No caso do Covid-19, cada pessoa infecta três, três infectam nove, nove infectam 27 e assim por diante. Com a falta de testagem em massa na população, muitos casos podem não ser notificados e não haverá controle da transmissão do vírus.
Medidas de controle e prevenção
Alguns países, principalmente asiáticos, têm sido modelos a serem seguidos na questão do controle da epidemia. Japão e Cingapura não esperaram uma explosão de casos para isolar contaminados e incentivar falta de contato. China e Coreia do Sul, que já apresentavam milhares de casos, conseguiram estabilizar a situação com alto número de testes, rastreamento e isolamento de pessoas que tiveram contato com infectados, toque de recolher, bloqueio de transportes e distanciamento social.
Medidas mais próximas das que a OMS tem recomendado estão sendo tomadas pelos governadores João Dória (São Paulo) e Wilson Witzel (Rio de Janeiro), estados com primeiro e segundo maior número de casos registrados, respectivamente, e os únicos a registrar mortes pelo Covid-19.
Até agora, Witzel determinou fechamento de shopping centers, cancelamento de eventos e suspendeu aulas, reduziu a frota de transportes públicos, restringiu a lotação de bares, fez recomendações para que as praias sejam evitadas dentre outras medidas. Desde o dia 21 de março, a cidade do Rio foi isolada do restante da região metropolitana, proibindo a circulação de ônibus intermunicipais e limitando a circulação de barcas, trens e metrôs. Apenas pessoas que trabalham com serviços essenciais estão sendo liberadas, após comprovar a sua atividade. Em âmbito municipal, o prefeito Marcelo Crivella determinou que os ônibus só podem circular com passageiros sentados e fechamento do comércio a partir desta terça (24), exceto farmácias, supermercados, hortifrutis, padarias, hospitais e postos de gasolina. São considerados serviços essenciais:
- Trabalhadores do serviço público;
- Trabalhadores da área de saúde;
- Trabalhadores de gêneros alimentícios, como supermercados e hortifrutis;
- Trabalhadores de transporte, logística e entrega;
- Trabalhadores de segurança;
- Trabalhadores de imprensa;
- Trabalhadores do setor industrial, como indústria farmacêutica, de material hospitalar, alimentos, produtos de higiene;
- Trabalhadores de limpeza urbana e coleta de lixo.