Álvaro, morador da Maré, é o carioca mais jovem a receber a medalha Pedro Ernesto na Câmara

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A medalha é considerada a condecoração máxima da cidade

“Eu fico com a pureza da resposta das crianças, é a vida, é bonita e é bonita”, este trecho da canção O Que É, o Que É?, de Gonzaguinha, nos remete a infância, que necessita que seus direitos sejam respeitados. Álvaro de Melo, tem 8 anos, mora na Vila dos Pinheiros e tem altas habilidades. Para o seu desenvolvimento escolar teve que lutar muito por uma educação especializada. A sua resistência para estudar, ao escrever um livro para ajudar outras crianças na mesma situação e a conquista de um curso de Programação na Universidade de Harvard foi reconhecida com o recebimento da medalha Pedro Ernesto.

A Câmara Municipal do Rio de Janeiro estava em festa, com a indicação da vereadora Thaís Ferreira, para que Alvinho fosse o carioca mais novo a receber essa honraria. A medalha tem o mesmo nome do prédio que funciona a Câmara Municipal, denominado Palácio Pedro Ernesto, em homenagem ao ex-prefeito do então Distrito Federal por dois períodos. A medalha é considerada a condecoração máxima da cidade. 

Apesar da educação fazer parte do direito regulamentado na Constituição, ainda há falta de vagas, ausência de profissional acompanhante na sala de aula para crianças com transtorno do espectro autista (TEA), não contratação de profissional de apoio escolar para Pessoa com Deficiência (PcD) e dificuldades para disponibilidade de núcleos especializados em alunos com altas habilidades. Com 3 anos no maternal, os profissionais educacionais sinalizaram que Alvinho estava à frente. Depois veio a pandemia, os estudos ficaram em casa e com ajuda do aplicativo GraphoGame Brasil, aprendeu a ler em apenas 15 dias. Ao retornar à escola no Pré 2 descobriu que não tinha o atendimento educacional especializado.

Na escola, a única diferenciação era a impressão de mais folhinhas de exercícios. “Durante essa trajetória dele escolar escutei muitas falas preconceituosas, de quem tem baixa faixa econômica ou sendo negro não pode ter condição de ter altas habilidades. Em alguns casos ouvi mitos. Até propuseram que os gastos a mais com a educação ficassem por minha conta e não com a Prefeitura. Acharam que eu era ignorante, que não conhecia os meus direitos e que eu não poderia ter acesso ao Plano Educacional Individualizado (PEI)”, conta sua mãe, Priscila de Melo.

A sua mãe procurou outras instituições, como a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde conseguiu matriculá-lo no curso de robótica. Um outro avanço foi a apresentação do Projeto da Escola Super Alvinho, na Bahia. Uma maquete, que é um protótipo conceitual e físico de uma escola modelo, dividida por diversas salas que vão receber muitas disciplinas como vários idiomas, capoeira e xadrez, além de laboratórios de artes, química, física, ciências e robótica. Ainda cabe auditório, espaço para exposições e área verde. Esse trabalho e o curso de Programação na Universidade de Harvard chamaram atenção de autoridades, como o presidente Lula e o prefeito Eduardo Paes. A partir da conversa com os dois, a educação de Alvinho começou a mudar, uma vez que a Prefeitura se movimentou para que ele pudesse estudar numa escola que tivesse os recursos necessários. Ele cursa o segundo ano fundamental fora da Maré.

Após matéria publicada pelo Maré de Notícias, Alvinho também chamou atenção de outros veículos de comunicação, tendo visibilidade na Folha de São Paulo, no SBT, na Record Internacional e na Band. Dessa forma, as altas habilidades de Alvinho foi reconhecida para receber a condecoração que homenageia pessoas e instituições que mais se destacam. Alvinho é a mais nova personalidade a receber a Medalha Pedro Ernesto. “Muito legal e feliz com esse passo grande na minha caminhada. Esse prêmio valeu mais do que qualquer outra medalha. Ela me faz sentir que eu não posso desistir”, conta o menino que deseja ser construtor de robô. 

Apesar da merecida medalha, sua mãe ainda vê algumas lacunas na vida da criança da favela. A família reclama que não tem acesso a lazer e cultura, como por exemplo, o contexto social distância os moradores da favela dos maiores pontos turísticos da cidade. “Para tudo é preciso lutar. Tem gente que questiona porque ele deseja aprender inglês. Só que na Zona Sul, já no berçário, com seis meses, as escolas são bilíngues. Paulo Freire incentiva a criatividade do indivíduo, mas a sociedade deseja pessoas sem formação, estímulo e transformação econômica. Até oferecem cursos, mas que não qualifica realmente e lá na frente só vai dar direito a um subemprego”, questiona Priscila. 

Uma das pessoas que inspira a família é o repórter Chico Regueira. Eles guardam com carinho uma mensagem que o profissional falou ao final de uma reportagem, sobre a importância da valorização da cultura local. Apesar da luta constante para a oferta do atendimento suplementar na sua educação, Alvinho não desanima. “Mesmo que todas as pessoas falem que não vai dar certo, é preciso persistir e nunca desistir”, conclui Alvinho. Com o seu exemplo de vida, a deputada estadual, Renata Souza criou o Projeto de Lei PL 2999/23, a Lei Alvinho, que estabelece políticas públicas destinadas ao desenvolvimento de crianças com altas habilidades.

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