Morador da Nova Holanda cria uma horta em sua própria laje

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Mareense mostra que é possível cultivar hortaliças em casa e se torna exemplo para vizinhos

Por Hélio Euclides, em 25/05/2022 às 07h. Editado por Edu Carvalho

A Maré, como diversas localidades do país, sofre com as poucas áreas verdes, o que interfere no ar e na temperatura do ambiente. Andando pelas favelas, é possível perceber diversas iniciativas individuais de alternativas de arborização. o tema já foi pauta aqui no MDN Online, onde mostramos estratégias de moradores com a utilização de vasos ornamentais, baldes ou simples potes para o cultivo de plantas dentro e fora de suas casas.

Mas o que pinta agora é diferente dos demais: Antonio Barreto, morador da Nova Holanda, acaba de se tornar exemplo na região, por criar uma horta em sua laje, com a produção de alimentos e modificando o ambiente por meio de técnicas, como canos de PVC.

O ‘Agricultor periférico’ de 68 anos utiliza o espaço de sua cobertura para cuidar da sua horta urbana e orgânica. Mas o cuidado junto às plantas não vem de agora. Tudo começou há cerca de cinco anos, quando se dedicou a pesquisar na internet formas de cultivar hortaliças. A sua efetivação se deu início há dois anos, quando parou com as atividades profissionais e decidiu se dedicar exclusivamente às plantas. Antonio faz questão de enfatizar que o amor à terra começou ainda na juventude, no interior da Paraíba, onde nasceu e trabalhou durante a juventude. 

“Cheguei à Maré há 50 anos, primeiro morei num barraco. Na cidade maravilhosa atuei como atendente de consultório de psicologia por 48 anos. Depois cuidei de uma residência onde uma das atividades era tratar de um jardim, algo que gostava muito”, comenta. Ao se aposentar, Barreto resolveu cuidar de seu próprio espaço verde, e assim o faz nas primeiras horas da manhã, mais precisamente às 5h, quando com uma garrafa rega as hortaliças. No ambiente, permanece até as 11h, quando vasculha a internet sobre novidades do mundo verde. Por volta das 17h, retorna ao seu cantinho para molhar as que estão secas – em especial, no verão.

Por lá, é possível encontrar abobrinha, cebolinha, cebolete (cebolinha francesa), coentro, coentro maranhão, alface, morango, maxixe, milho, pimenta, tomate, tomate cereja, melão e mamão. No espaço, há um cacto – planta que é xodó de Antonio, no qual cuida por mais de 30 anos. Apesar de não ser hortaliça, uma planta que também mora no coração do morador é o tinhorão, que chama atenção por ter folhas em formato de coração na cor verde e vermelha. Sua próxima meta é plantar chuchu pela primeira vez.

Quem passa pela rua e olha para cima sempre fica admirado com a horta cultivada nos arredores da Maré, precisamente na antiga Rua das Rosas (atual Rua Carlos Alexandre Lopes da Silva). “Já tentei ensinar aos curiosos, mas as pessoas acham algo cansativo cuidar de uma horta, mas para mim aqui é meu divã. É uma terapia, já começo o dia me sentindo bem, não me sinto mais estressado”. 

Uma atitude que mudou a vida de Antonio foi soltar os passarinhos que estavam presos nas suas cercas de 20 gaiolas que tinha, uma forma de estar de bem com a natureza. Como recompensa, deixa água e milho triturado na laje,  por isso o local é muito frequentado por beija-flores e rolinhas. Além dos pássaros, outra companhia é a cachorrinha que fica olhando o trabalho.

A horta na laje tem total apoio da família que, ao se reunir para um almoço, traz a comida, já a salada é colhida na hora, tudo fresquinho. “Minha esposa brinca quando está fazendo comida, ela fala: sobe e vai no hortifruti. Na verdade, tenho pena de tirar folhas das hortaliças”, afirma. Um dos destaques da horta é que hoje já produz as próprias sementes para as mudas.

De vaso em vaso, uma das 16 favelas vai ganhando ainda mais pontos verdes, o que se torna ponto de resistência ambiental pelas mudanças do território. “A Maré tem poucas árvores e todos deveriam aproveitar o pequeno espaço que tem para cultivar. Por isso o sacrifício vale a pena, pois acredito que a horta faz bem para o ar e a temperatura. Percebo que aqui a temperatura é mais fria depois que comecei a cultivar plantas”, conclui.

Sua sobrinha, Cláudia Barreto, moradora do Parque União, sente orgulho do tio pela dedicação total à horta. “Ele é amante da natureza. Quando morava do lado da casa dele, era o meu socorro no coentro. Meu tio Nô cuida da horta como filha, conversa com todas elas. Quando a alface estava grande dizia: olha como está linda”.

Foto: Matheus Affonso

Horta uma terapia

A pandemia trouxe muitos impactos para a saúde mental das pessoas, como a instabilidade emocional, ansiedade, angústia, tristeza e desesperança. Segundo pesquisa divulgada pelo jornal Brasil de Fato e elaborada pelo Instituto de Comunicação e Informação em Saúde, da Fiocruz, cerca de 61,7% dos brasileiros procuram por práticas que ajudam a equilibrar o corpo e a mente. Uma dessas atividades é a hortoterapia, que por meio do cultivo de plantas, jardins e hortas, a pessoa realiza uma atividade terapêutica que possibilita o contato com a natureza, diminui a ansiedade, proporciona relaxamento, aumenta a autoestima e resgata o conhecimento sobre o cultivo de alimentos.

Um levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a partir da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2016, revelou que cerca de 6,3% da população brasileira trabalha na produção da agricultura familiar, mas manter hortaliças em casa exige cuidados. Luciana Giuliani, arquiteta e design de interiores, é idealizadora do projeto Dica Verde, que dá o passo-a-passo para os novos agricultores residenciais. 

“A primeira coisa é pensar se a horta será em um canteiro, em jardineiras ou em vasos. Isso porque em canteiros elas podem ficar mais tempo sem água, pois estão com uma quantidade maior de terra e por consequência a umidade é maior. Outra dica é que existem espécies mais resistentes que outras, mas nada impede que possa ter diversas espécies de temperos. Não se pode esquecer que se bate muito vento, as espécies precisam ser regadas com uma frequência maior. O normal é molhar em dias alternados, mas nesse caso o ideal é diariamente, no período da tarde, sem sol em cima”, ensina. 

Giuliani indica como boas opções de plantio o alecrim, o tomilho, a hortelã, a salsinha, o manjericão verde e o roxo, a cebolinha, o coentro e o orégano. Ela também recomenda pensar em ter alguns tipos de alface. “As plantas precisam ser adubadas a cada três meses e as verduras necessitam de quatro horas de sol diariamente. Por fim, as hortaliças ficam bem legais se são inseridas próximas de áreas gourmets”, destaca. Para obter mais dicas é só acessar: https://dicaverde.com.br/.

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