Ágatha Félix foi baleada nas costas dentro de um veículo coletivo quando voltava para casa; testemunhas afirmam que o disparo foi feito por um policial
Thaynara Santos
Crianças negras e faveladas. Esse parece ser o novo perfil visado pelo Governador do Rio Wilson Witzel e sua política de segurança pública. Só este ano, nove crianças foram baleadas por conta da violência no Rio de Janeiro. Três morreram. Todas as vítimas viviam em zonas periféricas do estado. A ONG Redes da Maré produziu uma nota sobre o ocorrido.
Ágatha Félix, de oito anos, estudante de balé e estudiosa entrou para a estatística na noite de sexta-feira passada (20), na Fazendinha, comunidade localizada no Complexo do Alemão, quando voltava para casa com sua mãe. A criança foi baleada pelas costas dentro de um veículo de transporte coletivo.
Sonhos interrompidos
“Vai chegar amanhã e morreu uma criança num confronto. Que confronto? A mãe dele passou lá e viu que não tinha confronto. Com quem? Porque não tinha ninguém, não tinha ninguém. Atirou [a Polícia] por atirar na Kombi lá. Atirou na Kombi e matou a minha neta. Foi isso. Isso é confronto? A minha neta estava armada por acaso pra poder levar um tiro? Não foi o filho dele, nem a filha dele não, foi a filha de um trabalhador. Ela fala inglês, tem aula de balé, tem aula de tudo, era estudiosa. Ela não vivia na rua não. Agora vem o policial aí e atira em qualquer um que está na rua. Acertou minha neta. Perdi minha neta. Não era para perder ela, nem ninguém”, afirmou Airton Félix, avô da criança.
A menina foi encaminhada para o Hospital Estadual Getúlio Vargas, mas não resistiu. Seu enterro aconteceu neste domingo (22), às 16h, no cemitério de Inhaúma. Familiares, moradores, coletivos do Alemão e veículos da imprensa se reuniram pelo direito à memória e vida de Ágatha Félix, num ato que começou às 13h, na Estrada do Itararé, que seguiu até o local onde a menina foi velada.
Segundo o site de notícias G1, policiais militares envolvidos no caso da menina Ágatha devem prestar depoimento hoje (23), na Delegacia de Homicídios (DH), na Barra da Tijuca. Também será feito teste balístico com o projétil encontrado no corpo da criança, para saber a origem da arma.
Hoje, 23, às 17h, será realizado o evento “Por Ágatha: Parem de nos matar”, em frente à Alerj, no centro do Rio.
Versão da Polícia Militar
Pelo Twitter, a Polícia Militar informou que “A difícil realidade vivida pela população das comunidades e enfrentada por nossos policiais, diariamente, nos faz profundamente solidários a dor e o sofrimento sentidos pela morte da pequena Ágatha. Ela foi ferida ontem quando criminosos atacaram covardemente policiais da UPP”.
A assessoria do governo também utilizou as redes sociais para divulgar uma nota: “O Governo do Estado lamenta profundamente a morte da menina Agatha, assim como a de todas as vítimas inocentes, durante ações policiais. A PMERJ abriu um procedimento para apurar a ação dos policiais no Complexo do Alemão. Na noite de sexta, criminosos realizaram ataques simultâneos em diversas localidades do Complexo do Alemão. Policiais da UPP Fazendinha revidaram à agressão e, após confronto, foram informados por moradores que a menina tinha sido atingida e levada para o Hospital Getúlio Vargas”.