Por Amanda Pinheiro, em 15/07/2021 às 18h15
Editado por Tamyres Matos
O Museu da Imagem Itinerante da Maré (MIIM) está de cara nova. O professor e fotógrafo Francisco Valdean, criador, diretor e curador do projeto, decidiu criar uma versão impressa, focada somente em imagens, chamada de “fotojornal”, que já está circulando na Maré desde o último dia 11 de julho. Segundo ele, a ideia é destinada ao público mais ligado à imagens, ou seja, artistas em geral da Maré e da cidade.
“Os primeiros exemplares são destinados aos artistas da exposição ‘Imagens da Maré – arte cultura’. Após as entregas feitas a estas pessoas da Maré, enviarei alguns exemplares para endereços de artistas da cidade do Rio que manifestaram interesse em receber a publicação. O fotojornal é fruto do desejo de criar mais uma frente do museu e levar as imagens da atual mostra ao público das mais variadas formas. A exposição é uma proposta para o virtual (site do MIIM e redes sociais), mas também pode ser interessante que as imagens circulem em meios impresso”, explicou Valdean.
Diferente do MIIM, que possui pequenos livros, o fotojornal terá a imagem como linguagem principal. “Essa ideia nasceu de um estalo, achei que podia ser interessante. O museu tem uma série de livretos, que eu mesmo escrevo situações reais e ficcionais. Mas no fotojornal a linguagem primária será a imagem”, declarou Francisco, que também é guia do museu.
“Ano passado, precisei parar com as atividades por conta da pandemia. Mas, quando a situação for controlada, vou realizar alguns projetos artísticos, culturais e educacionais”, concluiu. No vídeo em destaque, confira mais da conversa sobre o fotojornal que Matheus Affonso, fotógrafo e designer do Maré de Notícias, teve com o criador do MIIM.
O que uma pequena caixa de papelão pode revelar? Esse é um dos questionamentos de quem vê pela primeira vez o Museu da Imagem Itinerante da Maré. Álbuns de fotos que revelam memórias da Maré guardadas pelos seus moradores, rolos antigos de filme, monóculos, uma lista de presença para os visitantes – tudo isso cabe num espaço destinado a um par de sapatos. Diferente de um museu tradicional, o minimuseu vai até seu público, não importa o lugar, faça chuva ou faça sol. Valdean conta que a reação ao MIIM é variada. Muitos se surpreendem pelo tamanho inusitado, pelas imagens antigas que remontam uma Maré ainda em construção e pelo reconhecimento de personagens conhecidos no território.
O MIIM, que foi apresentado ao mundo num post na rede social de Valdean, surgiu em agosto de 2020 e já saiu na mídia internacional. No texto de divulgação, Francisco Valdean explica que a criação do museu está atrelada ao seu trabalho acadêmico e que seu surgimento não foi de uma hora para outra.
“O museu MIIM é parte integrante de minha pesquisa de doutorado. Mas é também fruto de uma vontade antiga que tenho de criar um dispositivo que permita apresentar a Maré e bater papo sobre as imagens da região, com os próprios moradores, mas também poder apresentar para a cidade outras imagens que narram a cultura, a vida cotidiana e política do maior conjunto de favelas do Rio de Janeiro”, diz.
O Museu da Imagem Itinerante da Maré circula por escolas, ONGs, bares, casas, aniversários, churrascos de família e muitos outros lugares. Para acompanhar a agenda, fique atento à página do Facebook. No próximo dia 21 de outubro, o museu estará na Creche Municipal Pescador Albano, na Vila dos Pinheiros, Maré.
Uma trajetória ligada à fotografia e identidade regional
Francisco Valdean, professor, artista, nordestino, fotógrafo e mareense de coração, explica que sua caminhada foi conectada à arte ainda muito cedo. Em sua dissertação de mestrado, o cearense identificou três principais recortes feitos pelos grandes veículos da mídia tradicional quando pautam a favela: Imagens da Violência, Imagens das Remoções e Imagens das Palafitas.
“A minha trajetória na fotografia, começa em 2004, quando fiz o curso Imagens do Povo, no Observatório de Favelas. Em 2004, também estava no segundo ano do ensino médio, estudava na Escola Bahia. Ao mesmo tempo em que estava ali muito deslumbrado com a fotografia, também estava pela sociologia. Gostava muito das discussões em sala de aula. Terminei o ensino médio e o curso e comecei um pré-vestibular pensando no curso superior. Aí tentei ciências sociais.
Fui aprovado em 2008, em ciências sociais, na PUC Rio e na UERJ. Optei pela UERJ. Meu TCC na graduação foi sobre as imagens da Maré e aí eu fiz mestrado também em ciências sociais e desenvolvi uma dissertação pensando a imagem da Maré. Imagens das remoções, das palafitas, das violências e do povo. São esses quatro blocos de imagem que eu estudo na dissertação”, conta o professor.