Mutirão para pré-matrícula de crianças, adolescentes, jovens e adultos fora da escola na Maré termina nesta segunda

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Mais de 200 atendimentos foram realizados

Por Adriana Pavlova

Associação de Moradores do Conjunto Esperança, Maré, quarta-feira, dia 18 de janeiro de 2023. Não eram nem 10 horas da manhã e uma fila de mulheres já se formava no pátio em busca de ajuda para matricular seus filhos nas escolas da Rede Municipal de Ensino do Rio de Janeiro. Ali e em outros oito pontos das favelas da região, dezenas de voluntários davam início à campanha Vamos pra escola, organizada pela Redes da Maré em parceria com associações de moradores, com o objetivo de facilitar a pré-matrícula de crianças, adolescentes, jovens e adultos que estão fora da escola, uma vez que o processo é feito online pelo site www.matricula.rio  ou no aplicativo Rioeduca em Casa.  Nos dois primeiros dias de mutirão na Maré, foram feitos 189 atendimentos. A campanha, que envolve uma equipe de cerca de cem pessoas, será encerrada nesta segunda, seguindo o calendário oficial da Secretaria Municipal de Educação.

No Conjunto Esperança, a cuidadora de idosos desempregada Sueli Ramos de Oliveira aguardava com ansiedade a chance de finalmente conseguir uma vaga para seu filho João Vinícius, de 7 anos, depois de mais de um ano de tentativas em diferentes escolas da Maré e até idas à 4a. Coordenadoria Regional de Educação (CRE), em Olaria. Mas, nem sendo uma das primeiras a tentar, Sueli mais uma vez só encontrou vagas em escolas fora da Maré. Não havia vaga para o João e nem para o filho mais novo, Enzo, de 4 anos. Foi embora desconsolada, sob o olhar tristonho dos dois filhos: 

“No ano passado, só tinha vaga numa escola distante, na Avenida Leopoldo Bulhões, em Manguinhos, que é longe e precisa de condução para chegar. João ficou o ano inteiro sem estudar. Ele é muito curioso, quer aprender, e a pergunta que ele mais me faz é ‘Quando eu vou para a escola?’. Eu não sei mais o que fazer.”

No dia seguinte, Sueli acabou optando por inscrever seus filhos em escolas na região central da cidade, sabendo que o deslocamento diário será penoso para a família:

“Matriculei um numa escola no Estácio e o outro numa na Avenida Presidente Vargas. Não tenho ideia como vamos fazer, mas não dava para o João ficar mais um ano sem entrar na escola.”

Sueli Ramos Oliveira com os filhos Enzo e João. Foto: Patrick Marinho

Nos dois primeiros dias de pré-matrícula, houve dificuldades para se conseguir vagas em escolas da Maré para alguns segmentos de ensino.  Repetidamente, o sistema da Prefeitura indicava somente opções em bairros mais distantes. Em alguns casos, de tanto insistir, algumas poucas vagas surgiam. Segundo a 4a. CRE, o sistema é atualizado ao longo do dia, com vagas surgindo aos poucos. Na expectativa de conseguir vagas em escolas próximas às residências, evitando o deslocamento de crianças que nem sempre podem ir para a escola sozinhas, muitas mães, pais e responsáveis estão voltando mais de uma vez nos pontos de atendimento da Redes e nas associações. Nos dois primeiros dias de campanha, foram 90 casos de pré-inscrição não realizada por falta de vaga em escola próxima à residência e 62 pré-inscrições concluídas. Todos os casos estão sendo registrados, para serem entregues à Gerência de Supervisão e Matrículas da 4ª CRE. 

“A Redes da Maré está em constante diálogo com a Gerência de Supervisão e Matrículas da 4ª Coordenadoria Regional de Educação e, logo depois desse período de pré-inscrição, faremos uma reunião já articulada para avaliar se, conjuntamente, todos os casos de de crianças na Maré que não conseguiram vagas em escolas da região”, confirma Andréia Martins, diretora da Redes da Maré. 

Mas em meio à espera e frustrações, há também quem saiu satisfeito dos pontos de pré-matrícula, como foi o caso de Ângela Maria Lino, de 48 anos, que finalmente vai entrar na escola, depois de muitas décadas. Ex-aluna do projeto de alfabetização de mulheres da Redes da Maré “Escreva seu futuro”, agora Ângela vai estudar no Centro de Educação de Jovens e Adultos.

 “Já sei ler mas tenho muita dificuldade para escrever. Quero continuar aprendendo”, diz, sem esconder a alegria. “Agora eu já posso ler a Bíblia.”

 Ângela Maria Lino | Foto: Patrick Marinho

Nesta segunda, 23, todos os nove pontos estarão abertos das 10h às 17h (incluindo as associações de moradores de Conjunto Bento Ribeiro Dantas, Conjunto Esperança, Marcílio Dias, Roquete Pinto e Rubens Vaz) e ainda haverá o reforço na Lona Cultural Herbert Vianna, com esquema de plantão das 10h às 14h. O atendimento na Lona aconteceu no segundo dia de campanha, depois que a equipe de mobilização percebeu que para os moradores daquela região os pontos de pré-matrícula eram distantes.

“Montamos a estrutura na Lona e continuamos mobilizando a população no entorno para ajudar na pré-matrícula mas também para tirar todas as dúvidas relativas às matrículas, tudo com muito cuidado e afeto. Nos transformamos num balcão de informações para quem não tem acesso à internet mas sonha em voltar para a escola”, explica Kamila Camillo, psicóloga do Eixo de Educação da Redes da Maré.

Equipe do eixo Educação da Redes da Maré e voluntários da organização durante um dos dias da campanha. | Foto: Patrick Marinho

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