“Na favela aprendi a ser quem eu sou”

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Mareense, paraibano e escritor, Jedai imprime em seus roteiros o cotidiano dos territórios

Por Gracilene Firmino 

Anderson Gonçalves Vieira

Jornalista, poeta, compositor e roteirista, Anderson Gonçalves Vieira — conhecido por todos como Jedai — brinca que, às vezes, até esquece seu nome de origem. “Meu nome é Jedai, e meu apelido é Anderson”, diz, rindo. É dele o roteiro da websérie É o Complexo, que conta a história de Bom Cabelo e Tio Pac. Moradores do Complexo do Alemão que lutam contra o preconceito territorial, os estigmas, as dificuldades para arranjar trabalho e as situações de vulnerabilidade social com as quais quem mora na favela convive diariamente. Transmitida pelo YouTube no canal de mesmo nome, É o Complexo já conta com 11 episódios e 150 mil visualizações.

“Diversos assuntos são abordados na série, como o envolvimento da juventude na criminalidade, políticas públicas, danos causados pelas drogas, violência doméstica, maternidade precoce, preconceito territorial, trabalho informal, depressão, ansiedade, entre outros”, diz Jedai. A maioria dos atores da série são moradores do Complexo do Alemão, assim como seus criadores, Leonardo de Jesus e Ricardo dos Santospor, que são nascidos e criados no território. Por isso, a série foi toda  ambientada e gravada na comunidade da Zona Norte do Rio. A escolha do formato visou à distribuição. “A websérie é fácil de produzir e colocar na internet, o alcance é muito maior”, conta o roteirista. 

Da Paraíba para a Maré

Aos 33 anos, Jedai é natural da Paraíba e não esconde o orgulho de nordestino. “Nasci na terra de Suassuna, Juliette, Gkay, Chico César, Zé Ramalho… Não pedi pra nascer na Paraíba, eu tive foi sorte!”, diz a cria da Favela da Kelson’s, no conjunto Marcílio Dias.  De Campina Grande, ele veio para o Rio de Janeiro ainda bebê. “Viagem de ônibus, três dias na estrada, e eu tinha apenas um mês. Minha mãe diz que o motivo da migração para o Rio foi a busca por melhores condições de vida e trabalho.” E foi no conjunto de favelas da Maré que a família encontrou acolhimento (segundo o censo populacional da Maré, existem mais de 14 mil paraibanos nas 16 favelas). 

Apesar de hoje em dia não morar mais na Maré, Jedai sempre está circulando pelo território. “Ainda moro muito perto da Maré, praticamente do lado. E é o que eu digo, quem nega sua raiz, nega a si mesmo. Foi na favela que aprendi a ser sagaz, ficar na atividade, não fazer mal a ninguém, ter empatia, se colocar no lugar do próximo — lá eu aprendi a ser o que sou. A Kelson’s me forjou”, diz ele, grato pelo pedaço do Rio que o acolheu.

Talento multimídia

A carreira de escritor e roteirista de Jedai começou de maneira despretensiosa> ele foi convidado a participar da Festa Literária das Periferias (Flup) e fato de ser cria de favela não o impediu de crescer na profissão. “Consegui emplacar um poema em um livro físico, e a partir daí, vi que tinha talento com a caneta. Por incrível que pareça, nunca sofri preconceito por ter vindo da favela, sou muito respeitado pelo que faço”, conta.

Jedai ainda assina algumas músicas interpretadas pelo MC Jamil e parte do roteiro da websérie Assalto Perfeito, do youtuber e escritor Renan R10 ainda a estrear, além dos episódios de É o Complexo, produzida pela Jayzz Produções e gravada pela Direct Q websérie tem criação assinada por Leonardo de Jesus e Ricardo dos Santos, com com a direção de Gabriel Machado.

E ele já está cheio de planos para 2022. “Sou responsável por organizar os Workshops do Rei das Unhas, colocar ele nos jornais, e ser o cara do marketing de relacionamento. Este ano estarei envolvido num grande projeto com ele, mas ainda não posso dar spoiler (risos). Acompanhem as redes sociais, no Instagram, é @reidasunhasoficiall”, indica. 

E já está cheio de planos para 2022. “Vou roteirizar dois documentários este ano. Um com o Douglas Andrade, jovem lutador de boxe da Kelson’s, e outro com o  Rei das Unhas, intitulado Da laje ao palácio. Ambas as produções vão contar as histórias de vida desses protagonistas que lutaram muito para chegar onde chegaram e que são crias da Maré. O do Rei das Unhas já começa a ser gravado agora em fevereiro e o do Douglas e estamos acertando os últimos detalhes”, conta. 

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