Disseminação de notícias falsas assombra cenário eleitoral, mas cuidados simples podem ajudar

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Especialistas apontam que a desinformação pode causar transtornos e, mais uma vez, influenciar o rumo das eleições deste ano

Por Lucas Feitoza*, em 12/09/2022 às 12h50

Com a população cada vez mais conectada, abre-se um filão para os conteúdos falsos e as tentativas de golpes digitais. De acordo com a pesquisa TIC Domicílios de 2021, 81% dos internautas brasileiros usam a internet para navegar nas redes sociais, e 91% para mandar mensagens instantâneas. O levantamento foi realizado pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br). Enquanto isso, apenas 54% dos usuários usam a internet para ler revistas e jornais.

Isso abre espaço para o compartilhamento de conteúdos falsos que simulam notícias, conhecidos popularmente como fake news. Pessoas mal intencionadas criam conteúdos que parecem verdadeiros, para chamar atenção e gerar cliques nas páginas, desinformação e, em outros casos, podem resultar no “hackeamento”: variando de vazamento de dados à clonagem de contas nas redes sociais.

De acordo com indicadores da Safernet Brasil, em 2021, o principal motivo que levou os brasileiros a pedirem ajuda foram problemas com dados pessoais, correspondendo a mais de 339 atendimentos, seguido por exposição de imagens íntimas, com 273 casos. 

Bianca Muniz, analista de dados da Agência Pública, chama atenção para algumas práticas comuns de quem produz fake news. As “deep fakes” são vídeos manipulados para parecer que alguém, frequentemente muito conhecido, está falando algo. Ela usa como exemplo um vídeo compartilhado como sendo a jornalista Renata Vasconcelos repassando uma notícia falsa. Copiar a identidade visual, ou seja, as cores e fontes usadas por portais de notícias com credibilidade, para compartilhar materiais fora do contexto e até informações antigas.

A advogada Samara Castro, especialista em direito eleitoral e vice-presidente na Comissão de Dados e Privacidade da OAB-RJ (Ordem dos Advogados Brasileiros), explica que os golpes estão mais sofisticados pela engenharia social, que é a habilidade de se aproveitar da nossa vontade de ser beneficiado por algo. “Então sempre que algo parecer interessante demais, bom demais para ser verdade, provavelmente é porque não é”, afirma.

Uso da internet na Maré

O Censo Populacional da Maré de 2019, realizado pela Redes da Maré e pelo Observatório de Favelas, aponta que das 47.758 residências, apenas 17.515 ou  36,7% têm internet. A maioria dos moradores estão conectados principalmente pelo celular. É o caso do motorista de aplicativo Jorge André Paiva Soares, de 31 anos, morador da Vila do Pinheiro. 

Ele conta que usa a internet na televisão e no celular, não tem Facebook e a rede social que usa é o Instagram, por onde se informa. Quando quer confirmar se algo é verdadeiro, pesquisa no Google e em fontes confiáveis. Com a correria do dia a dia, desabafa que acaba sabendo dos fatos com atraso.

Jorge explica que geralmente não confia em nenhum link que recebe no WhatsApp, porém mesmo assim já foi vítima da desinformação, principalmente no período eleitoral. “A gente sabe que a guerra política é grande né? Um tentando atacar o outro”, afirma. Agora para saber se algum site é confiável ele tem uma tática: usa um antivírus, onde cola o link e verifica a segurança.

A atriz Taiane Gomes, conhecida como Leona Kali, de 25 anos, que também é moradora da Vila do Pinheiro, conta que usa o celular e notebook e se informa pela internet, através dos telejornais e dos amigos que se atualizam. Ela diz que é mais difícil ficar bem informada quando está ocupada e que as redes sociais servem para estar por dentro das novidades. “Mas ao mesmo tempo que a gente tem a facilidade, acho também perigoso porque na correria a gente não consegue confirmar se aquela informação é verdadeira ou não. Vejo muitas pessoas mandando vídeos para minha mãe e, quando vou ver, são falsos”, relata.

Informação pelo ‘zap’

De acordo com o DataSenado em uma pesquisa de 2019, do total de 2.400 pessoas ouvidas pela pesquisa, 98% disseram usar a internet principalmente pelo celular e 79% afirmaram que o WhatsApp era sua principal fonte de informação. A pesquisa mostra ainda que quanto mais jovens são os entrevistados, mais se informam pelas redes sociais.

Samara Castro acredita que, na favela, por conta do acesso precarizado à internet, as consequências se intensificam pela maior dificuldade na checagem das informações. Para ela, o uso do aplicativo de mensagem como principal fonte de informação se dá pela possibilidade de poder usá-lo mesmo sem internet. 

Para Bianca Muniz, com o avanço das redes sociais e o compartilhamento rápido das informações, “todo mundo tem que ser meio checador” porque se proteger de notícias falsas é interromper um ciclo de desinformação que pode ter consequências mais sérias.

Dados e as eleições

Segundo Bianca, os riscos do compartilhamento de conteúdos podem acarretar em desinformação eleitoral. Além disso, de acordo com dados da Safernet, em anos eleitorais, as denúncias de crimes cibernéticos aumentam. Nos primeiros seis meses deste ano foram 23.947 queixas, 67,5% a mais que no mesmo período do ano passado, onde foram registrados 14.289 casos.

Para o mareense Jorge André, muitos moradores da favela preferem não se envolver na reflexão política, o que os tornaria mais suscetíveis às armadilhas das fake news. O entrevistado acredita que isso reflete na escolha dos candidatos e que os eleitores votariam em quem “vem tapar um buraco, fazer um quebra-mola”.

Samara Castro comenta que é equivocado achar que pessoas com mais instrução estão imunes ao ciclo das notícias falsas na internet. “Arrisco-me a dizer que até o momento em que fecha a urna a gente tem a possibilidade de utilização de dados pessoais para se construir narrativas desinformativas, que podem ser extremamente eficientes e mudarem completamente o rumo das eleições”, diz.

Como se proteger de notícias falsas 

É possível afirmar que a melhor forma de combater a desinformação é investir no senso crítico. Mas existem ferramentas e formas de usar a internet que ajudam a evitar as armadilhas das informações que têm a manipulação como propósito. Confira abaixo algumas dicas:

1) Aplicativos de mensagens criptografados, como o WhatsApp, apresentam as condições ideais de disseminação de desinformação, pois dificultam o mapeamento e a verificação das informações enviadas. Na dúvida, evite compartilhar “correntes” ou mensagens cuja fonte foi omitida ou não verificada. Se der muita vontade de compartilhar, não esqueça de fazer uma rápida checagem antes;

2) Evite compartilhar notícias de sites que não são transparentes, que postam em anonimato ou veiculem discursos de ódio. Os conteúdos de teor sensacionalista devem ser evitados, pois geralmente estão associados às notícias falsas;

3) Preste atenção nos candidatos que apresentam seus planos de governo da maneira mais transparente possível. Além disso, siga páginas de agências de checagem de fatos, como a Agência Lupa e a Aos Fatos;

4) Utilize ferramentas que já estão disponíveis online que auxiliam no combate à desinformação. A Justiça Eleitoral criou uma página para reunir algumas das páginas reconhecidas pelo trabalho com a checagem de fatos. Para conhecer, clique aqui.

*Comunicador da primeira turma do Laboratório de Jornalismo do Maré de Notícias

Lucas Feitoza
Lucas Feitoza
Jornalista

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