Com tantas incertezas, como fica a dinâmica de responsáveis, alunos e profissionais da educação?
Por Kelly San, em 07/04/2021 às 10h
Editado por Edu Carvalho
Na manhã de ontem, terça (6/4), o presidente do Tribunal de Justiça do Rio, Henrique Carlos de Andrade Figueira, atendeu um recurso da prefeitura para derrubar a liminar da juíza da 2ª vara e determinou a volta às aulas presenciais na rede municipal para hoje, quarta-feira, 7/4, citando o Comitê Científico do município para fomentar sua decisão
Com tantas mudanças que impactam o calendário letivo, sem saber o que fazer encontram-se estudantes, responsáveis e professores. É o meu caso. Mãe de um aluno matriculado na rede municipal, muitas vezes fiquei atordoada com as medidas tomadas pela Prefeitura em relação ao retorno das atividades escolas presenciais – e também online. O sentimento de confusão e mãos atadas é compartilhado todos os dias dentro desse contexto.
A Prefeitura do Rio, desde o começo do ano de 2021, disponibilizou um canal em TV aberta e para facilitar o acesso às atividades, criou um aplicativo que chama RioEduca em Casa, que auxilia o ensino dos alunos da rede em casa. Mas algumas mães ouvidas por nossa reportagem disseram não conseguir acessar o aplicativo. A outra alternativa de ensino adotada pela Prefeitura é através de plataformas online de vídeo-chamadas .
Na Maré, segundo o Censo feito em 2019, somente 36,7% dos domicílios têm acesso à internet. Para se conseguir manter o contato e não perder de vista nenhum exercício para os alunos, professores fizeram grupos de Whatsapp com responsáveis, onde podem enviar as tarefas a serem feitas e revisadas por mensagens. “Não está sendo fácil. Ficamos com angústias, tentando trabalhar online, mas não estamos conseguindo. Precisamos desse retorno das aulas, mas a escola atual não contempla a segurança sanitária necessária” lamenta Ana Paula (nome fictício) de 42 anos, professora da rede municipal.
Mas nem todo mundo consegue conexão para entrar numa dessas listas de transmissão, e a comunicação demora a chegar. “Eu nem sabia que estava tendo aula para alguns alunos, só fiquei sabendo por que fui buscar apostila no colégio” comenta Vany Braz, de 37 anos, mãe da Letícia e da Lorena.
Para manter a rotina, muitas mães têm de se desdobrar em mil para não deixar a peteca cair. Além de cuidar da casa e do trabalho, acumulam a tarefa de acompanhar, diariamente, os filhos enquanto fazem trabalhos escolares, e vem o reflexo da distância da sala de aula dentro da própria casa. “Senti que meu filho piorou muito em relação ao ensino. As aulas poderiam voltar presencialmente e as professoras deveriam ter prioridade na vacina” comenta Cinthia Araújo, de 30 anos, mãe do Caio de 10 anos que está no 5° ano.
O governador em exercício do Rio de Janeiro, Claudio Castro (PSL), anunciou no fim de março que profissionais da segurança e da educação serão incluídos como prioridade de vacinação contra Covid-19. Já o prefeito do Rio, Eduardo Paes, em entrevista ao RJTV, reiterou que em breve irá anunciar o novo calendário para vacinação para o setor. Até o momento, profissionais de educação seguem sem data no cronograma de vacinação do estado e município.
Ensino remoto encontra dificuldades para ser acessível
No grupo Especiais da Maré, com mais de 400 responsáveis cadastrados, a finalidade da união foi reivindicar melhorias nas condições de vida de pessoas com deficiências na Maré. Valéria Viana, uma das gestoras da iniciativa, sinaliza que com o ensino a distância, alunos têm sentido dificuldades por não terem acessibilidade contemplada. “A irmã de um aluno com autismo nos contou que tem enfrentado muitos problemas para se adaptar ao modo de ensino remoto, ela relatou que não existe nenhuma atividade para o aluno e nem se quer um contato com professor pelos grupos de Whatsapp”. O vazio do ensino é preenchido pelo abandono: “ A classe de especiais de algumas escolas foram esquecidas com essa metodologia”, completa.
Valéria conta também que, com a dificuldade do momento atual, é difícil que as crianças e jovens entendam a complexidade do vivido. “Nossos filhos não entenderam ainda o que pode ou não pode fazer [como medida de segurança da covid]. Não estamos prontas para voltar presencialmente e há um impasse, mas infelizmente o ensino remoto não funcionou para a maioria. O desejo de todas as mães é voltar, mas de forma segura”, aponta.
Em nota pela liberação do retorno às aulas, o Sindicato Estadual de Educação do Rio de Janeiro, o SEPE, ‘’lamenta a decisão da Presidência do Tribunal de Justiça (TJ RJ), que derrubou no final da manhã de 6/4 a liminar proferida no domingo (dia 4/4) e ratificada na segunda-feira (dia 5/4) pela 2ª Vara de Fazenda Pública desta mesma corte que proibia a reabertura das escolas no município do Rio de Janeiro. A decisão que o TJ acaba de tomar desconsiderou a bandeira roxa e outros índices, como morte e ocupação de leitos”.
Nós entramos em contato com a Secretaria Municipal de Educação para informações sobre a plataforma online de atividades, a acessibilidade e o calendário de vacinação para os professores, mas não obtivemos resposta até o fechamento desta matéria.