A maioria dos estados tem ocupações de leitos de UTI superiores a 90%
Por Hélio Euclides, em 31/03/2021 às 12h50
Editado por Andressa Cabral Botelho
No final da noite de terça-feira (30/03) foi divulgado o Boletim do Observatório Covid-19 Fiocruz em edição extraordinária. A divulgação tem como objetivo alertar para o quadro geral do país sobre a doença, que se mantém extremamente crítico. Vinte e quatro estados e o Distrito Federal permanecem na zona de alerta crítico, com taxas de ocupação superiores a 80%. Apenas dois estados e suas respectivas capitais (Amazonas com 76% e Roraima com 62%) aparecem na zona de alerta intermediária de leitos de Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) Covid-19 para adultos, segundo dados obtidos no dia anterior (29/03).
Responsáveis pelo Boletim, os pesquisadores do Observatório apontam que a situação de São Paulo serve como um alarme do quanto a crise atual afeta o sistema de saúde e o quadro sanitário do país. O estado é o mais rico e populoso do país (concentra 21,9% da população) e em fevereiro de 2020 contava com 111 municípios com estrutura hospitalar para o enfrentamento da Covid-19, 26,4% em relação ao total do país. Já os estados de Roraima e Amazonas, que já passaram por crises e colapsos e são os únicos na situação de alerta intermediário neste momento, totalizavam 0,4% dos municípios do país com esta capacidade instalada e possuem 2,3% da população estimada para 2020.
“Neste novo patamar da pandemia, a situação mudou drasticamente. Se Manaus, capital do Amazonas, com o colapso do seu sistema de saúde, constituiu um alerta do que poderia ocorrer em outros estados, a situação hoje do município de São Paulo é um alarme do quanto esta crise pode ser mais profunda e duradoura do que se imaginava até então”, destacam os pesquisadores. “É importante ainda lembrar que as medidas de restrição de mobilidade, adotadas nos últimos dias por diversas prefeituras e estados, ainda não produziram efeitos significativos sobre as tendências de alta de todos os indicadores que vêm sendo monitorados pelo Observatório. Esses indicadores sempre estão defasados no tempo, e que o crescimento do número de casos na última Semana Epidemiológica (21 a 27/03) pode ser resultado de exposições ocorridas em meados de março”.
Dezessete estados e o Distrito Federal encontram-se com taxas de ocupação de leitos de covid-19 para adultos superiores a 90%: no Norte, Rondônia (98%), Acre (97%), Amapá (100%) e Tocantins (97%); no Nordeste, Piauí (96%), Ceará (94%), Rio Grande do Norte (95%) e Pernambuco (97%); no Sudeste, Minas Gerais (94%), Espírito Santo (94%) e São Paulo (92%); no Sul, Paraná (93%), Santa Catarina (99%) e Rio Grande do Sul (95%); e no Centro Oeste, Mato Grosso do Sul (100%), Mato Grosso (97%), Goiás (94%) e Distrito Federal (97%). Outros sete estados apresentam taxas de ocupação de leitos de UTI Covid-19 para adultos entre 84% e 89%: no Norte, Pará (85%); no Nordeste, Maranhão (88%), Paraíba (84%), Alagoas (86%), Sergipe (86%) e Bahia (86%); e no Sudeste, Rio de Janeiro (88%).
Para reverter o contexto atual, os pesquisadores reafirmam a necessidade de combinar medidas de contenção, o chamado lockdown, medidas para a adequação de oferta de leitos e ampliação das ações de saúde da Atenção Primária em Saúde (APS), com abordagem territorial e comunitária. As medidas de contenção seriam as de curto prazo, por cerca de 14 dias, tempo mínimo necessário para redução significativa das taxas de transmissão e número de casos, em torno de 40%.
A taxa de ocupação de leitos de UTI para adultos mostra que três estados estavam em situação crítica em 17 de setembro, quando o acompanhamento pelo Boletim Covid-19 Fiocruz começou.. Ocorreu durante semanas um declínio, chegando ao mês de outubro não ter estados em vermelho. Em novembro, a situação ficou ruim no estado do Amazonas. Já em dezembro a cor vermelha começou a surgir também em outros estados. No final de fevereiro, já era a metade do país em situação crítica, o que só piorou neste mês, com quase a totalidade do território nacional em vermelho.
Nas favelas da cidade do Rio de Janeiro a taxa que preocupa é o avanço do vírus. Segundo o Painel Unificador Covid-19 nas Favelas do Rio de Janeiro, que acompanha 228 favelas cariocas, o levantamento tem a Maré com o triste resultado do pódio, com 3.287 casos de contágio e 171 óbitos. Na sequência aparecem o Complexo do Alemão, que tem 1.388 casos e 94 mortos, e Rocinha, com 1.181 pessoas que contraíram o vírus e 71 moradores que perderam a vida para a covid-19.