Ocupação ‘Noite das Estrelas’ chega ao prêmio Shell

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Prêmio Shell de Teatro, um dos principais prêmios do teatro brasileiro, indica ‘Noite das Estrelas’ na categoria Energia Que Vem da Gente

Maré de Notícias #156 – janeiro de 2024. Edição especial resultado do projeto Cores Marés, apoiado pelo Fundo Positivo.

Wallace Lino

Abrindo o ano de 2024, saiu a lista do 34º Prêmio Shell de Teatro, um dos principais prêmios do teatro brasileiro. Entre os indicados da categoria Energia Que Vem da Gente está a ocupação Noite das Estrelas, uma realização do Entidade Maré. Entre as felicidades que envolvem a indicação está o feito impossível que revela um lindo levante que se faz na insistência de homenagear aquelas que deixaram suas digitais na memória da Maré.

Na década de 1980, Ney, uma bixa preta que organizava a festa junina do Rubens Vaz, atende o desejo das suas amigas travestis, que o ajudavam a confeccionar as roupas da quadrilha, e cede um dia da festa para elas realizarem um show, que acabou sendo um grande sucesso. O Menga bixa, que era pai de santo e ligado ao carnaval, vê o show e o batiza como “Noite das Estrelas”, firmando um movimento que durou por mais de 20 anos pelas favelas da Maré, e por outras comunidades e lugares da cena LGBTQIAP+ do Rio de Janeiro. Esse é o tipo de movimento que tem a rua firmada como cena dos palcos e a performance dos corpos gravados na celebração que arrastava multidões.

Desde 2020, o ano que criamos o Entidade Maré, não medimos esforços para escrever o reflorestamento dessa ancestralidade LGBTQIAPN+ e de outras como Tybyra, Xica Manicongo, que antecedem nossas existências pré e durante a colonialidade na perfuração do esquecimento, das normas de gênero e das infinitas narrativas da morte que recaem sobre esta população. É um levante impossível que se misturam às águas que banharam indígenas, que invadiam as palafitas, que mesmo aterradas correm e se levantam como onda pra bradar uma constelação infinita para afirmar que a Noite das Estrelas está aqui!

Só no ano de 2023 foram 13 apresentações nas ruas, no teatro, no queimado, no futebol, na praça Mauá, no Museu de Arte Moderna (MAM), mais de sete mil espectadores, mais de 15 instituições parceiras e mais de 50 veículos de imprensa nacionais e internacionais. Entre eles estão Globo, GNT, Band, The Guardian, Piauí, Reuters. Além disso, duas Moções de Louvor e Reconhecimento da Câmara Municipal do Rio de Janeiro pelas vereadoras Mônica Benício e Mônica Cunha, uma Moção de Louvor e Aplausos da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro pela deputada estadual Renata Souza, o Prêmio de Cria Pra Cria – da Câmara dos vereadores – com a vereadora Mônica Benício, o Prêmio Rubens Barbo, do Neap Fest, a exibição de filmes e exposição de fotos Vídeos FRINGE, em Paraty, FRINGE maior festival de arte de rua do mundo, na Escócia, o Paraty em Foco, maior festival de fotografia da América Latina, com a escola de Fotografia Popular do Imagens do Povo. Hélio Oiticica com o Museu da Imagem Itinerante da Maré (MIIM), exibição do filme Noite das Estrelas na Conferência de Gênero da Virginia Tech, nos Estados Unidos. Artigos publicados na Revista Amarello, no livro Terra Antologia Afro-Indígena – Piseagrama. Palestra na primeira semana da diversidade produzida pela prefeitura de Magé. Afro presença – Corporeidades da Cena na UFF. Noite das Estrelas na UNB, Afroperfomacidade corpo cidade poéticas das territorialidades, Mesa Narrativas infinitas – festival internacional de cinema Zózimo Bulbul, oficina de produção para LGBTI+.

Esta é uma Maré que se move como lodo, arrastando dos mangues a força de uma onda que tem sido escrita por muitas mãos, antes das invenções da escrita, do poder, da modernidade, do corpo servir como capital. Antes das diferenças das nossas imagens serem aprisionadas a imagens únicas de viver. Essa é uma vingança contínua que insiste em demarcar que não se pode resgatar a memória que está viva. Essa é a contínua costura de ideias e mundos ao longo dos tempos. Ela habita no dia a dia, nos sonhos, estrelas e arco-íris daquilo que escreve nossas existências no infinito, e agora desagua no Prêmio Shell.

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