Operação da Polícia Civil é marcada por intenso tiroteio e correria em três favelas da Maré

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Passageiros do BRT Rubens Vaz precisaram deitar no chão para se proteger; morador teve van e carro alvejados

Uma operação policial de curta duração aconteceu no início da tarde desta terça-feira (18) no Conjunto de Favelas da Maré. A Polícia Civil circulou com blindados e policiais a pé pelo Parque União, Nova Holanda e Rubens Vaz. Houve dezenas de relatos de intensos tiroteios entre 13h30 e 15h. Um motorista teve seu veículo de trabalho – uma van – e seu carro particular alvejados dezenas de vezes. Com essa, já são 18 operações policiais do ano na Maré.

Assustado, enviou um breve relato para a reportagem confirmando o dano duplo ao patrimônio. “Eu estou tonto. Foi meu carro e a van. Um do lado do outro. Eu tinha parado para almoçar 10 minutos. Como é que faz?”, desabafa. 

O Maré de Notícias recebeu vídeos que mostram mães correndo e procurando se proteger dos disparos abraçadas a seus filhos por causa do horário de saída do período matutino. Passageiros da estação do BRT Rubens Vaz precisaram ficar deitados no chão até que os disparos parassem, causando muito pânico. 

Operação planejada

Alguns estudantes ficaram presos dentro das escolas, como confirma nota da Secretaria Estadual da Educação. “Até o momento, duas escolas precisaram ser fechadas na região. Os alunos e servidores estão abrigados na unidade, em segurança, e serão liberados quando houver condições, os estudantes somente com os responsáveis”, diz o informe. A Secretaria Municipal afirmou que as escolas já tinham fechado às 12h. A reportagem do Maré de Notícias apurou que, desde ontem, já havia a solicitação de encerramento das atividades mais cedo e que as unidades não funcionariam no período da tarde, o que evidencia que a operação era planejada.

Em nota, a Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro informa que a operação foi realizada por policiais da Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas (DRFC) para combater roubo de carga de roupas e que, além da Maré, houve ação simultânea na Rocinha e em Nova Iguaçu. “Na ação, para cumprimento de três mandados de busca e apreensão, uma pessoa foi presa em flagrante. Segundo apurado, os estabelecimentos comerciais receptam e revendem roupas de grife roubadas”, declara a nota oficial. 

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Quinto dia de tiroteio em um mês

Esta já é a quinta operação policial no mês de junho. Semana passada foram 32 horas de operação na terça e quarta-feira (11 e 12).  Também houve correria e tiroteio durante a perícia na quinta-feira (13),  no local onde os policiais foram alvejados na 16ª operação que deixou outros quatro mortos. Mortes de moradores que não tiveram perícia. Questionamos novamente: perícia para quem?  

No último sábado (15) moradores também relataram tiros e presença de carro blindado na Baixa do Sapateiro. Em um mês são cinco dias em que os moradores têm a rotina afetada e direitos negados, além do medo e insegurança causada pelas operações sem eficácia. O Governador Cláudio Castro ainda mentiu em um pronunciamento ao vivo na TV Record afirmando que a operação seguiu 100% das exigências da ADPF das Favelas (ADPF 635). Entretanto, em nenhum dia foi identificado uso de câmeras nas fardas dos policiais, ambulância para socorro das vítimas, além de ter  realizado de operação próximo a perímetros hospitalares, a clínica da família Adib Jatene foi atingida por disparos na madrugada de quarta-feira. 

O Maré de Direitos, projeto do eixo Direito à Segurança Pública e Acesso à Justiça, da Redes da Maré, acolhe situações de violações de direitos no WhatsApp (21) 99924-6462. O Ministério Público (MP) realiza um plantão especial para atender a população. O atendimento gratuito é feito no telefone (21) 2215-7003, que  também é WhatsApp, ou no e-mail [email protected].

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