Orquestra Maré do Amanhã volta de turnê internacional e inspira novos sonhos

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Com notas que cruzam fronteiras Orquestra Maré do Amanhã impacta e transforma a vida dos jovens músicos da Maré

Foto: Marco Brendon

“Nunca passou pela minha cabeça quando fundei a Orquestra chegar tão longe”, essa frase, carregada de emoção foi dita por Carlos Prazeres, de 59 anos, fundador da Orquestra do Maré do Amanhã (OMA) após voltar de uma turnê internacional com mais de 20 alunos. Apesar de não imaginar que ultrapassariam os limites nacionais, Carlos levava a certeza de que um dia tornariam-se referência dentro da Maré inspirando outras crianças. 

O grupo voltou da viagem que passou por Portugal e Reino Unido no início deste mês, mas segue com entusiasmo e com mais sede de música. Andressa Lelis, de 15 anos, é aluna da orquestra desde 2019, ela foi uma das musicistas que participou da turnê. Lelis conta que seu sonho desde criança sempre foi viajar e conhecer o mundo, no entanto, acreditava que isso demoraria muitos anos para acontecer. Ao cair a ficha que já estava acontecendo com apenas 15 anos, a violista não conseguiu conter o choro. 

“Ela estava chorando tanto que as pessoas acharam que ela estava com medo de avião, mas não, ela estava emocionada porque ela não imaginava que iria conseguir na vida pegar um avião para ir à Europa.”, lembra Carlos afirmando que foi um dos acontecimentos mais marcantes da turnê. 

“Eu nunca tinha entrado num avião na minha vida e estava sentada do lado de uma pessoa que já foi várias vezes, então eu ficava perguntando para ela quando que ia levantar vôo e como a gente ia saber. Ela me respondeu que eu sentiria o avião pegando velocidade, quando eu senti e olhei aquela paisagem linda lá de cima que caiu a minha ficha que eu estava saindo da Maré e conhecendo o mundo através da música, chorei muito.”, complementa Andressa, moradora da Vila do Pinheiro.

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Outro momento marcante para Carlos foi ver Débora Choi, de 25 anos, que foi professora de violoncelo da Stephany, hoje com 17 anos, se apresentarem juntas nessa turnê. Isso porque em 2017 quando Débora foi para Roma, a aluna se inspirou nela e se perguntava se um dia chegaria sua vez de fazer a viagem internacional a partir do trabalho com a orquestra. 

“Foi lindo ver a Débora e a Stephany lado a lado, ou seja, a hora dela chegou. Futuramente é a Stephany que vai dar aula e os alunos dela que vão passar a sonhar e assim você vai mantendo as pessoas estimuladas a estudar e correr atrás dos seus sonhos. Essa é a importância para mim do projeto”.

Entre os mais de 10 concertos que aconteceram ao longo de 28 dias, o grupo também fez diversos “flashmobs” – apresentações surpresa em locais públicos – pelas cidades europeias.

Orquestra do Amanhã e do hoje

Débora Choi, de 25 anos, moradora de Bento Ribeiro Dantas, região também chamada de “Fogo Cruzado”, garante que existe uma Débora antes e uma Débora depois da viagem. Isso porque, até fazer a turnê com a orquestra, ela estava planejando trilhar outros caminhos profissionais. 

Após turnê com Orquestra do Amanhã pela Europa, Débora retomou o sonho de quando tinha 18 anos: viver da música | Foto: Marco Brendon

“Sempre tive vontade de fazer música, eu também dou aula de violoncelo pela orquestra, mas tinha desistido de seguir carreira. Até pensava em retomar mais para frente, já estava conformada com isso.”, conta. A chave virou para Débora quando durante um passeio em Londres, o grupo visitou a escola de música Royal Academy of Music. “Sabe quando você vê uma coisa que queria muito ver? Fiquei encantada, maravilhada. Eu olhava as salas e me via ali tocando. Eu não estava esperando enxergar a música como profissão de novo. Eu já tinha esquecido. Mas essa experiência trouxe toda minha vontade de quando eu tinha 18 anos de volta.” 

Andressa também recebeu a injeção de ânimo após a turnê: “A Andressa de antes [da turnê] pensava que se trabalhasse muito, conquistasse a estabilidade financeira, talvez um dia conseguisse viajar. A Andressa de depois vê que é possível realizar agora. O futuro é agora. Agora vejo que é mais possível.”

A história da orquestra

Criada em 2010 por Carlos Eduardo Prazeres, o projeto nasce da vontade de transformar a comunidade após uma tragédia pessoal. Em 1999, seu pai, o Maestro Armando Prazeres, foi morto por integrantes de grupos civis armados da Maré. Motivado a transformar sua dor em esperança, deu vida à OMA, fazendo do chão onde o artista teve os sonhos interrompidos um palco para o surgimento de outros tantos.

De lá para cá, o projeto que começou de forma reduzida, porém confiante, com apenas 26 alunos, já alcançou mais de 3500 estudantes pelo territótio, atendendo a todas as crianças matriculadas na região. 

Conquistas e prêmios

  • Em 2023, foram eleitos Patrimônio Cultural Imaterial do Rio de Janeiro
  • 3.500 crianças e jovens são atendidos no Rio de Janeiro (todas as crianças matriculadas na região do Complexo da Maré) e no Pará (dois núcleos em comunidades ribeirinhas e quilombolas) 
  • Inauguração de dois núcleos no Pará (em uma comunidade ribeirinha e outra quilombola)
  • Tocaram no Réveillon de Copacabana na virada do ano de 2020, com a cantora Anitta, para um público estimado de 2,5 milhões de pessoas
  • Foram para o Vaticano e tocamos para o Papa Francisco (2017)
  • Participaram do DVD de 50 anos de carreira da cantora Alcione (2022)
  • Participaram do Lud Session, da cantora Ludmilla (2022)
  • Desfilaram na Sapucaí, em 2016, junto da bateria da escola Beija-Flor de Nilópolis (ano em que, pela primeira vez, a bateria venceu o prêmio Estandarte de Ouro)
  • Vencerem três vezes o prêmio Profissionais da Música (Duas vezes por “Melhor Orquestra” e uma por “Escola de Musicalização Infantil”)
  • Estiveram no Palco Favela, do Rock in Rio 2019, tocando clássicos do rock nacional e internacional

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