Por Luna Arouca, em 10/10/2022 às 19h31
A data de hoje é marcada pela celebração do Dia Mundial da Saúde Mental, tema cada dia mais relevante no debate público e essencial para pensarmos o caminho que trilhamos enquanto sociedade. Os transtornos de saúde mental têm se tornado cada vez mais comuns em todo o mundo. A ansiedade, por exemplo, atinge mais de 260 milhões de pessoas no mundo. O Brasil inclusive é apontado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como o país com o maior número de pessoas ansiosas: 9,3% da população.
A pesquisa Construindo Pontes, realizada pela Redes da Maré, identificou problemas de ordem mental e emocional motivados pela violência no território da Maré: 31% dos entrevistados relataram prejuízos à saúde mental e emocional por conta da violência.
Nesse sentido, o problema do agravamento da saúde mental é uma questão mundial, mas ele pode ser aprofundado por outras condições sociais que existem em certos locais, como é o caso de regiões de favela e periferia, que além dos problemas advindos da negligência do poder público na garantia de direitos, são também alvo da política de segurança pública, que coloca moradores na mira do fuzil e em constante insegurança devido a ocorrência das operações policiais e dos conflitos.
A pandemia agravou o já profundo quadro de adoecimento mental, seja pela falta de emprego e renda, seja pelo isolamento social e restrição de circulação ou pela perda de tantas pessoas próximas sem acesso ao cuidado.
Por todos esses motivos precisamos falar sobre Saúde Mental. Precisamos falar sobre acesso ao cuidado, sobre o tipo de cuidado e sobre formas de criar mais espaços para a promoção da saúde mental. Atualmente as unidades de saúde tem apoio das equipes especializadas (Nasf) para orientar atendimentos em saúde mental, quando os casos são mais graves eles são encaminhados para os Centros de Atenção psicossocial (Caps), e em caso de surto para unidades como o Instituto Pinel, para breves períodos de internação e cuidado intensivo.
Apesar das diferentes formas de acesso falta recurso e investimento nessa área e faltam mais equipes apoiando as unidades de saúde, profissionais nos Caps e mais do que tudo, falta uma política que entenda a saúde mental de forma integrada.
A promoção da saúde mental não é somente o atendimento com um profissional e o acesso a medicamentos. Para uma mente saudável é necessário: moradia saudável, alimentação, espaços de lazer e cultura, relações saudáveis, emprego e renda e claro, além do acesso a profissionais que em situações específicas possam apoiar e direcionar para o cuidado do adoecimento mental. Por isso a promoção da saúde mental não é uma tarefa somente da pasta de saúde, nem somente de profissionais especializados. Ela precisa ser discutida como tema transversal das políticas públicas e com moradores e usuários dos serviços.
Nesse sentido, a Redes da Maré com outros parceiros irá promover em novembro a II Semana de Saúde Mental da Maré (Rema Maré), com o objetivo de ampliar o debate e trazer oficinas e experiências de promoção da saúde mental para que os moradores possam vivenciar e conhecer.
Nesse contexto de agravamento dos fatores que provocam o adoecimento mental é fundamental unir esforços, promover diálogos, criar encontros para o fortalecimento de práticas e saberes que contribuam para o cuidado individual e coletivo, provocando mudanças locais mas também estruturais.
Luna Arouca é coordenadora do eixo Direito à Saúde das Redes da Maré