Por Tamyres Matos, em 22/10/2022 às 8h
Atuar na comunicação periférica tem um encanto difícil de explicar para quem olha de fora. O jornalista costuma ser, antes de tudo, um idealista. A comunicação, sua ferramenta para encontrar seu desejo de tonalidade kitsch*: buscar justiça social, tijolinho por tijolinho. Ter a oportunidade de reunir pessoas de diversas idades no Laboratório de Formação em Jornalismo do Maré de Notícias e ouvi-los dizer que o percurso de pouco mais de 4 meses os transformou é um mergulho bonito no propósito de se fazer comunicação.
Na última quinta-feira (20), a primeira turma do projeto idealizado por Daniele Moura, que atuou como coordenadora do Maré de Notícias até o início de 2022, concluiu sua trajetória. Entre os formandos, estudantes de jornalismo, artistas, jovens com aptidão acadêmica, futuros rostos nos telejornais, pessoas reconstruindo suas trajetórias e superando traumas. A grandiosidade da ideia extrapolou o prédio da redação na Rua Sargento Silva Nunes, 1012, desde deixou de ser potência e se tornou ato. E tudo virou cor, lágrimas, sorrisos. Afeto, afinal.
Em sua filosofia de beleza tocante, o holandês Espinosa acredita que aumentar a potência de sentir impacta diretamente na capacidade de pensar e existir. Para ele, mente e corpo são duas expressões da substância. “Por afeto compreendo as afecções do corpo, pelas quais sua potência de agir é aumentada ou diminuída”. Seus textos abordam a potência de existir a partir da potência de ser afetado.
E por que citar um autor europeu do século XVII neste texto? Porque jornalismo favelado é sobre potência. Sobre afeto. Sobre sentir. É o tipo de diálogo que o jornalista gosta de provocar. O sonho de tocar cada pessoa que nos lê, escuta, assiste… para tornar a vivência desta consigo mesmo, com as outras pessoas e com o mundo que as compreende mais digna, mais saborosa e menos difícil.
Após as palavras trocadas, desabafos feitos, lágrimas derramadas, todos saíram transformados da redação do Maré de Notícias no dia 20 de outubro de 2022. Uma aura de gratidão, aprendizado compartilhado e o precioso senso de propósito inundaram a subjetividade de todas as pessoas presentes. A tangível emoção tomou conta de Dani Moura, de Ricardo Lisboa Pereira, de Fábio Lau, de Jorge Melo, de Jéssica Pires e da autora deste artigo.
Mas os protagonistas, que tanto nos ensinaram, são:
Andrezza Paulo
Ana Beatriz Pires
Amanda Baroni
Brenda Magalhães
Daniele Figueiredo
Edith Medeiros
Elaine Lopes
Lucas Feitoza
Luiz Menezes
Em cada olhar um brilho diferente. Que honra fazer parte de tudo isso.
*Kitsch no sentido utilizado por Milan Kundera, no seu transformador A Insustentável Leveza do Ser: “O kitsch faz nascer, uma após outra, duas lágrimas de emoção. A primeira lágrima diz: Como é bonito crianças correndo num gramado! A segunda lágrima diz: Como é bonito se emocionar com toda a humanidade ao ver crianças correndo num gramado!”
Tamyres Matos é jornalista formada pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro e editora do Maré de Notícias