A história do Brasil é marcada por exemplos de resistência de pessoas negras contra o racismo institucional
Flávia Cândido*
O racismo institucional é uma forma traiçoeira de discriminação enraizada nas estruturas e práticas das instituições, permeando todas as esferas da sociedade. Silvio Almeida, renomado jurista e intelectual brasileiro, argumenta que o racismo institucional persiste porque muitas vezes é velado, não reconhecido ou ignorado pelas estruturas de poder. Essa falta de reconhecimento permite que o racismo continue a moldar as práticas e políticas das instituições, sem que sejam devidamente questionadas.
Um exemplo notório dessa invisibilidade do racismo institucional é a sub-representação de pessoas negras em cargos de liderança e poder dentro das instituições. Pouquíssimas pessoas pretas ocupam postos dirigentes em empresas, organizações governamentais e instituições acadêmicas. Esse desequilíbrio reflete não apenas a falta de oportunidades iguais, mas também a perpetuação de sistemas de poder que favorecem os brancos em detrimento dos negros.
A história do Brasil também é marcada por exemplos de resistência de pessoas negras contra o racismo institucional. Luiz Gama, por exemplo, um abolicionista e advogado negro do século XIX, lutou incansavelmente para ser aceito na elite intelectual e jurídica da época. Seus esforços foram um desafio direto às normas sociais e institucionais que excluíam pessoas negras dos espaços de poder e prestígio.
Além disso, a narrativa sobre figuras negras proeminentes na história do Brasil muitas vezes é embranquecida para melhor se encaixar nos padrões estabelecidos pela sociedade branca dominante. Um exemplo notável é o autor Machado de Assis, frequentemente retratado de maneira mais clara e “aceitável” em retratos e representações públicas, apesar de sua ascendência afrodescendente. Essa tentativa de embranquecimento reflete os preconceitos profundamente enraizados que associam o sucesso e a competência à branquitude, enquanto marginalizam e desvalorizam a negritude.
O Rio de Janeiro, especificamente, enfrenta um cenário alarmante de violência policial contra pessoas negras. Segundo estudos, houve uma pessoa negra morta por intervenção policial a cada 8 horas e 24 minutos no ano passado. O estado é o segundo com mais mortes de pessoas negras no país em decorrência da violência policial, o que demonstra a intensidade do racismo institucional presente na segurança pública.
Em suma, o racismo institucional é alimentado pela falta de reconhecimento do racismo estrutural, pela sub-representação de pessoas negras em cargos de liderança e pelo apagamento da contribuição e identidade negra na história e na cultura. Enfrentar esse problema requer não apenas o reconhecimento e a conscientização sobre a existência do racismo institucional, mas também a implementação de políticas antirracistas dentro das instituições.
Políticas antirracistas podem incluir a promoção da diversidade e inclusão em todos os níveis da hierarquia organizacional, a criação de programas de conscientização e treinamento sobre preconceito racial e privilégio branco, e o estabelecimento de mecanismos eficazes para denunciar e remediar casos de discriminação racial. Somente através de um compromisso ativo com a justiça racial e a igualdade de oportunidades podemos começar a desmantelar as estruturas de poder que perpetuam o racismo institucional e construir uma sociedade mais justa e inclusiva para todos os seus membros.
*Flávia Cândido é Assessora Parlamentar, Professora de Língua Portuguesa e Literaturas no Pré vestibular Comunitário Estudando Pra Vencer e formada em Letramento Racial no Instituto Ayó