Primeira Flup na Maré se encerra com final do Slam BR

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Por Amanda Célio, Hélio Euclides e Samara Oliveira

Com o tema Maré de Periferias, festa literária traz à favela um grito contra a violência de gêneros

Um espaço de cultura e lazer, que ao mesmo tempo traga temas para a reflexão e criação de ações de avanços nos territórios. Essa foi a 12ª edição da Festa Literária das Periferias (Flup), que desembarcou no Centro de Artes da Maré trazendo temas que precisam ser debatidos. 

Antes, no domingo (4) foi realizado no Museu de Artes do Rio, na Praça Mauá, o Dia da Escuta. O resultado das oficinas e roda de conversas foram apresentados no segundo dia da festa com direito a mesa de debate e exposição no Centro de Artes da Maré.

A Maré de Periferias trouxe a mesa “Escutatórias afetivas por um Museu da Sororidade”, que reuniu artistas do Coletivo de Mulheres da Universidade das Quebradas (UQ). O Projeto de extensão Laboratório de Tecnologias Sociais UQ realizado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) tem como metodologia a troca de saberes, práticas de criação e produção de conhecimento, articulando experiências culturais e intelectuais produzidas dentro e fora da academia.

Na segunda-feira (5), o evento deu sequência à programação com uma saudação aos Orixás, que consiste em cantigas em culto a todos os Orixás. Exu, Ogum, Oxum e Yansã foram representados por bailarinos  ao som do atabaque, conduzidos por lideranças de religiões afro, finalizando com um toque relembrando os ancestrais africanos que foram escravizados.

Na sequência houve o lançamento do livro “Pai Santana: Orixá do Futebol” escrito pelo co-fundador da FLUP Ecio Salles que morreu em 2019 vítima de um câncer no pulmão. O livro foi autografado no evento por Roberto Santana, filho mais velho de Eduardo Santana, mais conhecido como Pai Santana. O ex-massagista do Vasco da Gama faleceu em 2011, aos 77 anos, vítima de insuficiência respiratória.

Pela primeira vez na Maré, Santana contou que está feliz em lançar o livro que conta a biografia de seu pai que “era respeitado como um jogador pela torcida”.

Violência contra as mulheres

Na terça-feira (6) uma das dinâmicas foi a realização da mesa que trouxe o tema violência contra as mulheres, no qual debateu o trabalho da escuta realizado com mulheres, com a formulação de depoimentos que foram transformados em formas de artes. As participantes da mesa disseram que saíram fortalecidas com a escuta. Lourdes Maria, professora de escola pública por 40 anos, destacou que uma das motivações para a realização da oficina foi o trabalho com a autoestima feminina. Já Ana Carla Rosa, professora de sociologia, destacou que foi muito importante se pensar no que fazer com as falas das mulheres. “Percebemos um papel social nas oficinas e sentimento. Ninguém chega pronta para falar, mas o que pensamos tem eco, não estamos sozinhas. A oficina foi algo significativo”, diz.

Flup funciona para poder potencializar essa juventude, diz Geovani Martins

Na quinta-feira (8) o papo sobre necropolítica rolou com os escritores Geovani Martins e Jessé Andarilho, com a mediação de Thais Custódio.Geovani emocionou ao dizer que a Flup era das feiras mais bonitas quando não a conhecia, e depois que conheceu, teve ainda mais certeza. “Escrevia imitando outros autores que tinha acesso, que eram os autores da literatura brasileira. A minha realidade é interessante e potente. Foi libertador entender que a primeira camada da Flup na minha formação foi a construção da minha identidade”, disse Geovani Martins

Quem venceu? Quem tá no topo, pergunta Jessé Andarilho?

Jessé lembrou que o Brasil é uma ideia muito distante que precisa ser colocada em prática. “A gente vive até hoje num país que foi construído imageticamente por muito pouca gente. Na verdade você tá falando de uma elite cultural que está pautando isso tudo. Por que essa lógica capitalista de “dizer que a favela venceu”? A gente tá ocupando esses espaços, a gente não precisa disso. Temos que falar a favela vencer: vencer escritora, vencer cineasta. Vencer”, afirmou o escritor. 

SLAM: o grito sem notas e melodias

Afinal, o que é o Slam? O que caracteriza um? Na tentativa de sintetizar o que são slams ou poetry slams, como eram originalmente chamados, a própria Flup explica que “são competições de poesia falada, batalhas performáticas das quais participam poetas munidos de textos autorais, de até 3 minutos, sem acompanhamento musical, cenário ou figurinos e com a participação de um júri popular.”

Em um teste para cardíaco com uma competição que teve o total de quatro empates sendo três entre os dois últimos competidores, Cotta! o representante do Rio de Janeiro se consagrou campeão com o segundo lugar ficando para Matriarck, representante de São Paulo. Em poucas palavras para definir o que esperavam da final, os jurados previram “potência periférica, pluralidade, poder da palavra e força feminina”. 

As classificatórias do campeonato começaram na terça-feira (6).

E desse jeito se deu a competição. A potência periférica dos participantes foram evidenciadas em diversas poesias que contavam as vivências das comunidades, a força feminina ficou ao cargo de Apêagá, Matriarck e Tawane Theodoro, a pluralidade, assim como o poder da palavra, se fez presente em todos os participantes composto por homens e mulheres cis e transgêneros que se emocionaram e emocionaram também os jurados e o público presente.  

“Isso é a realização de um sonho. Esse sonho não é só meu, é de todos os poetas que estão aqui e sei que todos eles estavam prontos para realizarem esse sonho também. Todo mundo que está aqui tem espaço e são grandes artistas”, afirmou o vencedor Cotta!.

Matriark complementa “Como o Cotta falou isso é um sonho para mim, para ele, para o Rio, para SP, para Minas, para o Brasil inteiro… isso é Slam BR. Foi difícil, quatro empates e eu já estava perdendo a conta. Mas tudo isso tem um impacto e uma responsabilidade muito grande que é levar poesia falada para as pessoas. Só tenho a agradecer. Axé para quem é de Axé”.

Apêaga, também representante de São Paulo, chegou a empatar com Cotta e Matriarck mas acabou ocupando o não menos importante terceiro lugar. Em seguida, Malokeko (SP), Bê Machado (RS) e Tawane Teodoro (SP), ocupando a quarta, quinta e sexta posição, respectivamente.

Slam Colegial 

“Foi na escola que aprendi que posso ser a maioral: SLAM COLEGIAL, SLAM COLEGIAL” esse é o “grito de guerra” do Slam Colegial que aconteceu na Flup na última quarta- feira (7) e consagrou como campeã Stacy Ferreira, de 19 anos, representante da ONG Luta Pela Paz. Estreando no mundo slam, Stacy conta emocionada como se sentiu. 

“É algo surreal porque eu nunca tinha mostrado meu trabalho para ninguém. E só de mostrar eu já me sentiria super vencedora por mostrar algo que é meu pela primeira vez. Estrear como campeã é super inexplicável”, afirmou.

O Slam colegial se caracteriza como um movimento de formação e divulgação da poesia nas escolas públicas. Os jovens que competiram passaram por uma oficina de dois meses para se prepararem para as disputas até a final.

O campeonato contou com jovens representantes da Escola Bahia, Ciep Professor Cesár Pernetta, Escola Municipal Tenente General Napion, Conselho Jovem da ONG Luta pela Paz e Preparatório Redes da Maré. A competição foi acirrada e decidida por décimos de diferença entre todos os competidores. 

Se você perdeu as competições pode assistir clicando aqui o Slam BR e o Slam Colegial

Chave de ouro

Para fechar a Flup na Maré com chave de ouro, Anielle Franco lançou seu livro: “Minha irmã e eu: diários, memórias e conversas sobre Marielle”. A Mostra Maré de Música, projeto da Redes da Maré, apresentou talentos com a Banda Agona, Gutierry, Mc Natalhão e Nizaj e N.I.N.A. do Porte.

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