Professora escreve livro inspirado em aluno autista

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Livro “Eu sou assim: Vejo o mundo de uma forma diferente” foi escrito para crianças e ensina inclusão aos adultos

Lucas Feitoza

Qual professor marcou sua vida? A professora Ligia Nascimento, 48 anos, é o tipo que com certeza marcou muitos estudantes. Ao observar seu aluno, o pequeno Abner, autista nível dois não-verbal, aprendeu a grande lição: “é assim que ele enxerga o mundo”. 

Foi então que Lígia escreveu seu livro “Eu sou assim: vejo o mundo de uma forma diferente” dando voz a Abner que se comunica através de gestos, comportamentos e sentimentos. Ligia acompanhou Abner por cinco anos. Na época ele tinha 4 anos, hoje tem 12. Devido a rotina eles não têm mais contato com frequência, agora ele é assistido pela Clínica do Autista em Itaboraí, onde mora. Ela conta que com ele aprendeu que o amor não precisa de palavras. 

Antes de publicar o livro Ligia deixou o projeto engavetado por cinco anos, enquanto isso pediu que sua filha Iris Nascimento, que na época tinha 13 anos, fizesse desenhos para compor a produção. 

Iris foi a responsável pelas ilustrações que mostram a maneira de Abner interagir com os ambientes, as pessoas e a forma de se expressar, além das coisas que gosta de fazer, como organizar os objetos em fileiras. “Para a gente pode parecer estranho porque estamos acostumados a achar que apenas o nosso jeito é certo, mas isso não existe” conta a jovem que hoje está com 20 anos e segue os passos da mãe como professora, Iris estuda pedagogia na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). 

Foto: Lucas Feitoza | Por causa do livro, a escritora participou de conversas nacionais e internacionais de forma virtual, com pessoas da Bolívia, Panamá, Portugal, França, Estados Unidos e Espanha

Multiplicando conhecimentos

Lígia que também é psicopedagoga, especialidade na educação que ajuda os alunos com a técnicas de psicologia voltadas para o aprendizado, resolveu se aprofundar para aprender mais sobre o autismo. Estudou sobre o Atendimento Educacional Especializado (AEE) para levar inclusão nas instituições onde leciona. Atualmente ela trabalha em duas escolas da região metropolitana do estado: Escola Municipal Afonso Salles, em Itaboraí, e Escola Municipal Carlota Machado, em Duque de Caxias. 

Depois de Abner a professora já trabalhou com outros alunos autistas. “Eu sempre tive um olhar para a inclusão”, conta. A partir da experiência com as crianças percebeu que elas são autodidatas, desenvolvem sozinhas habilidades como aprender outro idioma e pintura. Ligia está fazendo mais uma especialização; dessa vez em Orientação Educacional para poder auxiliar principalmente os pais de pessoas autistas. Inclusive conta que o objetivo de seu livro foi esse:

“[ Espero] que lendo a história de Abner as pessoas possam acolher não só as crianças mas as mães também. Que tenham menos mãos apontando e mais disposição para ajudar”,

afirma a educadora.

E já teve resultados positivos. Ela conta que recebe relatos de mães que identificaram o autismo nos filhos graças ao livro. Ligia aconselha os pais quando observa alguns comportamentos característicos do espectro autista nos alunos, como andar nas pontas dos pés, ou quando aparentam ser hiperativos. “Eu não sou especialista, mas ao invés de dizer que a criança é bagunceira eu procuro ajudar, envio recado para os pais irem até a escola e explico para procurarem um especialista”, conta. No caso das crianças, o profissional pode ser um neuropediatra, psiquiatra infantil ou uma equipe multiprofissional formada por especialistas da saúde mental.

Conquistando leitores mundo afora

Por causa do livro, a escritora participou de conversas nacionais e internacionais de forma virtual, com pessoas da Bolívia, Panamá, Portugal, França, Estados Unidos e Espanha. 

A professora se tornou defensora do direito das pessoas autistas e fala sobre a necessidade de escolas inclusivas com mediadores para ajudar as crianças, mas também destaca que todos os profissionais da educação podem colaborar “precisa se interessar, eu faço porque eu gosto, não aceito uma criança entrar no ano letivo e sair sem ter um pouco mais de autonomia,” conta.

O livro “Eu sou assim: vejo o mundo de uma forma diferenteestá à venda por R$30. Para entrar em contato com a professora e escritora Ligia Nascimento acesse @ligia.nascimento33, no Instagram.

Lucas Feitoza
Lucas Feitoza
Jornalista

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