Profissionais LGBTQIAPN+ e suas carreiras na área da beleza

Data:

Estima-se que o mercado da beleza absorve de 30 a 40% de profissionais LGBTQIAPN+

Maré de Notícias #156 – janeiro de 2024. Edição especial resultado do projeto Cores Marés, apoiado pelo Fundo Positivo.

Vitor Felix

A falta de oportunidade e o preconceito ainda são barreiras enfrentadas pela população LGBTQIAPN+ no mercado de trabalho e muitos precisam empreender para conseguir romper barreiras. Na contramão, estima-se que o mercado da beleza absorve de 30 a 40% desses profissionais. Muitas vezes, é nos salões de beleza que essa população encontra cidadania e sustento por meio do trabalho.

Segundo o Censo de Empreendimentos Maré (2019) os negócios ligados à beleza e estética ocupam o segundo lugar entre os empreendimentos locais, 10,4%, perdendo apenas para o número de bares no território. Ainda que os números não reflitam a orientação sexual e a identidade de gênero dos empreendedores (o recorte é feito apenas de homens e mulheres), é possível encontrar no histórico da Maré profissionais LGBTQIAPN+ conhecidos pelos anos de trabalho nos salões de beleza.

Aprendizado

Tiago Dantas é alagoano, morador da Vila dos Pinheiros e conhecido nas redes sociais como Tiago Jujubinha (@tiagojujubinha). Aos 36 anos, ele realizou uma importante conquista profissional: abrir seu primeiro salão de beleza, que fica localizado na Avenida do Canal, nº 80, Vila dos Pinheiros.

O interesse pelo setor veio desde a adolescência, quando Tiago era bailarino: “com a dança, eu conheci o mundo da maquiagem e parece que uma coisa puxou a outra.”

Em 2009, ele teve sua primeira experiência de trabalho em um salão de beleza, ocupando cargos de recepcionista e auxiliar de limpeza. Um dia, tomou coragem para expor que queria comandar as cadeiras do estabelecimento: “Eu disse, ‘eu sei escovar, sei fazer sobrancelha’.” O empenho, a curiosidade e as práticas iniciais fizeram com que ele descobrisse o talento para a profissão.

“Eu comecei a trabalhar com cabelo em 2010 e passei um ano treinando. Era assim: eu fazia o cabelo da dona do salão, fazia o cabelo da filha dela, maquiava as duas, as vizinhas e sempre tentando aprender cada vez mais”, contou.

Jujubinha investiu em qualificação na área de beleza, chegando a dedicar mais de 14 horas por dia aos estudos e às práticas. O esforço valeu a pena e, hoje, seus mais de 12 mil seguidores acompanham dicas de maquiagem e os resultados dos cabelos que ele exibe orgulhoso em publicações no seu perfil.

Respeito

Na trajetória profissional, Tiago diz que o preconceito apareceu em diversos momentos, com falas homofóbicas e racistas, especialmente quando usava maquiagem. Diante dessas situações, ele conta que sempre exigiu respeito, mas que este foi um dos motivos que o levou a abrir seu próprio negócio. O profissional percebeu que era o momento de pôr em prática seus projetos, da maneira como ele mesmo acreditava.

/Já leu essas?

Em 13 anos de carreira como cabeleireiro e maquiador, Jujubinha diz que a clientela na Maré se tornou muito diversificada, apesar do público-alvo ser mulheres. Hoje, com toda a experiência que tem, ele já ministrou aulas em São Paulo e Minas Gerais. 

“A maquiagem me leva a lugares que eu nunca imaginei estar”.

Barba de mulher

No Parque União, a barbeira Rosa Maria (rosabarber_oficial), 26 anos, começou trabalhando como designer de sobrancelhas e logo descobriu as habilidades para trabalhar com o mundo da beleza.

“Eu cheguei a fazer um curso no nível iniciante, o que me deu uma base, mas a prática eu peguei com o tempo”, conta.

Já são seis anos na profissão de barbeira, trabalhando em diversas barbearias do território e hoje ela atende os clientes em sua casa, enquanto não consegue realizar o sonho de abrir o próprio salão. Segundo Rosa, o boca a boca e as redes sociais são os que mais ajudam na divulgação do seu trabalho.

“Na profissão que eu exerço não temos salário fixo, então a gente fica à disposição do público. Durante os fins de semana é quando eu trabalho mais. Eu vejo a Maré como um território onde posso trabalhar com tranquilidade.” Em seu perfil no Instagram (@rosabarber_oficial) os interessados podem assistir vídeos com os resultados dos cortes de cabelo e design de sobrancelhas feitos por Rosa.

A barbeira comenta que há muita competição na área e percebe que ainda existe pouca união entre os barbeiros.

“Gosto da minha profissão, é uma profissão linda. Quando eu comecei, percebia que as pessoas ainda estranhavam uma mulher barbeira. Mas hoje eu posso dizer para minha sobrinha, que ser barbeira quando crescer, que isso não é uma coisa só para homem.”

Compartilhar notícia:

Inscreva-se

Mais notícias
Related

Por um Natal solidário na Maré

Instituições realizam as tradicionais campanhas de Natal. Uma das mais conhecidas no território é a da Associação Especiais da Maré, organização que atende 500 famílias cadastradas, contendo pessoas com deficiência (PcD)

A comunicação comunitária como ferramenta de desenvolvimento e mobilização

Das impressões de mimeógrafo aos grupos de WhatsApp a comunicação comunitária funciona como um importante registro das memórias coletivas das favelas

Baía de Guanabara sobrevive pela defesa de ativistas e ambientalistas

Quarenta anos após sua fundação, o Movimento Baía Viva ainda luta contra a privatização da água, na promoção da educação ambiental, no apoio às populações tradicionais, como pescadores e quilombolas.

Idosos procuram se exercitar em busca de saúde e qualidade de vida

A cidade do Rio de Janeiro tem à disposição alguns projetos com intuito de promover exercícios, como o Vida Ativa, Rio Em Forma, Esporte ao Ar Livre, Academia da Terceira Idade (ATI) e Programa Academia Carioca