Projeto Tijolinho leva jiu-jitsu e luta livre de uma forma gratuita a moradores da Maré

Data:

Através da valorização e do respeito, iniciativa conta com 150 alunos 

Por Hélio Euclides, em 26/02/2021 às 10h

Editado por Edu Carvalho

Projeção, montada, pegada pelas costas, cem quilos, mata-leão, chave de braço, guilhotina, triângulo, americana, chaves de pé, joelho e tornozelo. Estes são  alguns dos principais golpes no jiu-jitsu, arte marcial japonesa milenar. Com atenção voltada para a técnica, o ensinamento do esporte vai além: é preciso apreender as questões trazidas pelos alunos, como a falta de água, saneamento, comida, educação, entre outros pilares que compõem a vida, para que o esporte seja ponte para as transformações. Com esta missão, nasce o Projeto Tijolinho, que há quase cinco anos imobiliza as dificuldades e leva para crianças, jovens e adultos da Maré a crerem num futuro com mais esperança.  

A primeira turma começou com três alunos numa igreja evangélica, mas a proposta veio acompanhada da necessidade de ‘doutrinar’ os alunos. Jefferson Costa, ou Shaolin, como é conhecido, não concordou e acabou se retirando do espaço. “Não era o meu papel, eu só desejava ensinar luta”, diz. O trabalho tinha um resultado positivo, com o aumento para 60 alunos. A turma se encerrou com os pequenos atletas aos prantos. 

Shaolin conta que meditou nos bons exemplos dos professores que teve, e no silêncio, recebeu o incentivo para continuar a dar aulas, devolvendo seus aprendizados para a favela. O local para este novo momento? A quadra da Escola de Samba Gato de Bonsucesso. “Não tínhamos nada, nem tatames. Só dava para correr. Depois ganhei 12 plaquinhas finas de minha professora. Fiz cursos remunerados que revertia para compra de equipamentos, e fui construindo a nossa trajetória com muita luta”, comenta.

Turma infantil de luta livre. Foto: Jefferson Costa

Ao ver hoje a quadra cheia, o mestre percebe que essa era a sua missão: realizar um trabalho social, com impactos para toda uma trajetória, que hoje é sediado no antigo espaço da Creche Municipal Nova Holanda, o Tijolinho. “Foi aqui que escolhi atuar e transformar o local em potência. Ensinamos e vamos além, tendo como princípios o carinho e respeito ao próximo”, expõe. O projeto atende, além da Nova Holanda, outras sete favelas da Maré.

As vidas transformadas pelo tatame 

Um dos 150 alunos do projeto é Emerson Leite, 33 anos, integrante do projeto desde o início. “Me sinto bem nas aulas, saio do treino renovado. Aqui consegui ter mais maturidade, aprendi a não reclamar da vida, além de valorizar o fraterno e a solidariedade”, conta. Com incentivo dos professores, pretende dar aulas no futuro. “É o que gosto e o que quero para minha vida”, conclui. Já Esther Barnabé, de 12 anos, afirma que cresceu com os treinos. “Antes chegava no treino chorando e com medo. Hoje me sinto bem e segura, sou mais comunicativa”, diz. Seu desejo é chegar à faixa preta e abrir sua própria academia.

Aluno, Emerson Leite sonha em ser professor. Arquivo pessoal

Ao todo, são dez voluntários, divididos entre educadores esportivos, assistente social e comunicação. O diferencial do Tijolinho é não trabalhar apenas o esporte. “Não pensamos nos alunos como número, mas como gente de valor e amigo. Desejamos o desenvolvimento pessoal, acrescentar algo de bom na vida do aluno. É muito bom quando trabalhar para que os jovens não caiam na violência e que tenham um rumo através das artes maciais”, finaliza Shaolin. O próximo desafio do projeto é criar um espaço acessível para atender as crianças portadoras de deficiências.

Esther Barnabé, aos 12, batalha para chegar à faixa preta. Arquivo pessoal

O Projeto Tijolinho  fica na Rua Carlos Lacerda (antiga Rua Três), 46, Nova Holanda. Os horários das aulas de jiu-jitsu: segundas, quartas e sextas às 19h, para adolescentes de 13 aos 15 anos; e às 20h para os adultos, a partir dos 16 anos. Já as crianças de 9 aos 13 anos podem fazer aulas de luta livre nas terças e quintas, às 19h. Os adultos e adolescentes a partir de 14 anos são atendidos na mesma modalidade às 20h. Também às terças e quintas tem o jiu-jitsu kids para as crianças de 8 aos 12 anos, às 19h30.

Para  contribuir ou fazer parte como voluntário do Projeto Tijolinho, basta entrar em contato pelo WhatsApp: (21) 97573-1481 ou pelo Instagram.

Compartilhar notícia:

Inscreva-se

Mais notícias
Related

Por um Natal solidário na Maré

Instituições realizam as tradicionais campanhas de Natal. Uma das mais conhecidas no território é a da Associação Especiais da Maré, organização que atende 500 famílias cadastradas, contendo pessoas com deficiência (PcD)

A comunicação comunitária como ferramenta de desenvolvimento e mobilização

Das impressões de mimeógrafo aos grupos de WhatsApp a comunicação comunitária funciona como um importante registro das memórias coletivas das favelas

Baía de Guanabara sobrevive pela defesa de ativistas e ambientalistas

Quarenta anos após sua fundação, o Movimento Baía Viva ainda luta contra a privatização da água, na promoção da educação ambiental, no apoio às populações tradicionais, como pescadores e quilombolas.

Idosos procuram se exercitar em busca de saúde e qualidade de vida

A cidade do Rio de Janeiro tem à disposição alguns projetos com intuito de promover exercícios, como o Vida Ativa, Rio Em Forma, Esporte ao Ar Livre, Academia da Terceira Idade (ATI) e Programa Academia Carioca