‘Quem não sonhou em ser um jogador de futebol?’

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Saiba mais sobre obstáculos de quem sonha levar a vida nos gramados

Maré de Notícias #128 – setembro de 2021

Por Hélio Euclides

A probabilidade de uma criança se tornar um profissional dos gramados é de apenas 1,5% (é o que aponta o artigo Jogadores de Futebol no Brasil, publicado em 2011 pela Revista Brasileira de Ciências do Esporte), mas treinadores e coletivos de futebol nos territórios periféricos pelo país empenham-se para que esse número mude. 

Na Maré, um dos quatro clubes do território é o Real Maré, fundado há 21 anos com o objetivo de apresentar outras possibilidades aos jovens. “Queremos ver o menino que passou por nós, mesmo que não seja jogador profissional, se tornando um cidadão honesto. Tenho orgulho de cada um. Meu sentimento é de dever cumprido quando o garoto se torna um homem de caráter”, diz Sidnei Alves, presidente do clube.

Desde a sua criação, o Real Maré faz de tudo para superar os obstáculos financeiros e continuar a atender mais crianças. Apesar das diversidades, Sidnei reforça a importância da dedicação dos jovens. Ele ainda adverte sobre os perigos que rondam o mundo do futebol, como empresários que enganam jogadores inexperientes. 

O Real Maré recentemente passou por isso: atletas que foram jogar em um clube do interior de São Paulo viram as promessas feitas anteriormente não serem cumpridas. Agora Sidnei está mais atento, para que atletas como Lucas Junqueiras e Ismael Nilton, que foram em junho atuar em Portugal, aproveitem sem dores de cabeça sua passagem pelo clube Casa Pia Atlético.

A desigualdade dentro dos campos

A trajetória de um atleta no futebol é cheia de percalços e há poucas vagas. Segundo levantamento da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), em 2018 havia 360.291 jogadores no país, sendo 88 mil profissionais (24,4%). Destes, apenas 11,6 mil tinham contratos ativos na temporada (ou 3,2% do total). A discrepância de números existe ainda na área financeira. O mesmo estudo da CBF mostrou que mais de 80% dos jogadores no Brasil ganham menos de R$ 1 mil de salário. Perto do topo dessa pirâmide se encontra apenas 1,77% dos atletas, com salários entre R$ 10 mil e R$ 50 mil (dados referentes aos profissionais do sexo masculino). Quando se pensa no futebol feminino, a conta ainda piora: só em 2019 os clubes de primeira divisão do Brasileirão foram obrigados a terem jogadoras.

A carreira em funil

Para cada jogador que chega ao topo há milhares que ficam pelo caminho, em um processo que se assemelha a um funil: quem passa, alcança o final esperado, ou seja, um clube de primeira divisão. Esse é o caso de João Gomes, volante do Flamengo, que despontou em uma escolinha da Praia de Ramos. 

A experiência estava na família, já que o tio de João é o ex-jogador Nivaldo João, o Godoy, hoje um dos coordenadores do Projeto Craque do Futuro. O menino começou na escolinha aos seis anos. “Ele aprendeu alguma coisa com o tio. Contudo, o mérito é todo dele, pois é um atleta muito responsável, aplicado e profissional demais. Acredito que ele vai longe na carreira”, exalta.

Para Godoy, todas as escolinhas são importantes, principalmente dentro das favelas, ocupando o tempo das crianças fora da escola, além de fazer um trabalho social. “Despontam muitos jogadores de favela. Temos o DG (Douglas Luiz), que jogou no Vasco e agora está na Europa; o grande amigo Léo (Oliveira) que jogou no Flamengo; o Dudu (Eduardo Francisco), que jogou no Cruzeiro. Todos os três, crias da Nova Holanda. A escolinha é a realização de sonhos de vários jogadores”, avalia, acrescentando que os governantes precisam olhar com carinho para as escolinhas de futebol. 

Falta de investimento impede que trabalho avance

Quem quer ser jogador profissional inicia a dura jornada em escolinhas que lutam contra a falta de investimentos e recursos – Foto: Matheus Affonso

Tanto Sidnei como Godoy ressaltam a importância do trabalho e a falta de investimentos. Edson da Silva, presidente e fundador da Associação Esportiva Beneficente Amigos da Maré (AEBAM) defende o apoio de instituições do território à escolinha, argumentando que ela só existe porque ele trabalha à noite para sustentar o projeto de dia. Para o funcionamento de sua sede, Edson reclama que faltam reformas estruturais, além de mesas e cadeiras – não há doações para o projeto. “É preciso avaliar os benefícios que o esporte traz para a vida das crianças. Trabalhamos além do futebol, com incentivo à educação”, resume.

O árbitro Alexandre Pichetti também é professor de uma escolinha de futebol. Ele acredita que o projeto social ajuda a criança a caminhar para o bem, mas tudo seria mais fácil se encontrasse apoio: “Quando será que os governantes vão abençoar os projetos sociais dentro das comunidades? Trabalho no projeto Uerê e do meu salário retiro um pouco para a continuidade da escolinha. Faço isso pois tenho amor por esse trabalho.” Ele diz que o grupo tem dificuldades em obter uniformes, calçados e alimentos.

Flávio Alves é professor de educação física e treinador nas horas vagas. Ele explica que o foco do projeto é preparar as crianças para testes em alguns clubes, além de alertá-las que a vida de um jogador de futebol não é só de vitórias: “O futebol tem quatro pilares sobre os quais se firma um jogador de futebol: físico, tático, psicológico e técnico. Eles não podem achar que jogam muito e que não precisam aprender mais nada.”

Flávio conta que se inspira num trabalho vitorioso realizado na Fiocruz. O projeto tinha como objetivo o protagonismo social, oferecendo jogos, vídeos e palestras, além de orientação profissional. Dali saíram médicos, engenheiros e atletas. “Conseguimos fazer uma mudança significativa. Queria trazer isso para a Maré, mas falta apoio. Hoje não há patrocínio e vivemos sem recursos”, conta.

No Campo da Paty, na Nova Holanda, os treinos acontecem às segundas, quartas e sextas – Foto: Matheus Affonso


Promessa de futuro apoio

A Secretaria Municipal de Esporte e Lazer (SMEL) informou que será retomado em um futuro bem próximo o Rio em Forma, um projeto social que saía de dentro das vilas para atender a população. A SMEL quer encerrar 2022 com 300 núcleos do Rio em Forma, atendendo até 18 mil alunos.

Escolas de Futebol na Maré:

Vila do João – RJ Esportes

Local: Campo 2 Society Palace
Dias de Treino: segundas e quintas das  16h às 18h
Whatsapp: 21 964932118 
Facebook: [email protected]

Vila do Pinheiro – Rogimirim
Local: Campo da Toca
Dias de Treino: segunda a sexta das 16h às 20h
Whatsapp: 21 998048241

Nova Holanda –  Arte Brasil
Local: Campo da Paty
Dias de Treino: segunda, quartas e sextas, horário a definir
Whatsapp:  97317-3835

Escolinha de Futebol e Futsal da Nova Holanda
Local: Quadra da Nova Holanda / Campo da Paty
Dias de Treino: segunda a sexta às 18h
Whatsapp: 96653-8045

Conjunto Bento Ribeiro Dantas –  Escolinha B.R.D
Local: Quadra Fogo Cruzado
Dias de Treino: segundas, quartas e sextas das 17:30 às 19:30
Gênero: Masculino e Feminino
Whatsapp: 97423-5041

Conjunto Esperança –  Ameriquinha
Local: Campo 1
Dias de Treino: segunda a sexta das 14h às 16h
Telefone: 97611-0725
Whatsapp: 98473-9829

Salsa e Merengue –  União do Salsa
Local: Campo 2 Conjunto Esperança
Dias de Treino: segunda a sexta das 14h às 16h
Telefone: 98808-4510

Parque Ecológico –  Projeto Amigos do Salsa
Local: Campo Society Parque Ecológico
Dias de Treino: segunda a sexta das 15h às 19h
Telefone: 99794-6978

Baixa do Sapateiro  –  Real Maré
Dias de Treino: segunda a sexta das  8h às 11h e 15h às 19h
Whatsapp: 21 97906-9801

Rubens Vaz –  Escolinha de Futsal da Ams R.V
Local: Quadra da Rubens Vaz
Dias de Treino: segunda a sexta das 16h às 18h30

Marcílio Dias –  João de Barro
Local: Campo da Kelson
Dias de Treino: segundas, quartas e sextas das 17h às 19h
Telefone: 21 98725-1607

Baixa do Sapateiro  –  PH Esporte
Local: Campo Society Praça do 18
Dias de Treino: quartas e sextas das 15h às 19h 
Whatsapp: 97962-3330

Parque União
Local: Quadra Parque União
Dias de Treino: terça a sexta das 8h às 18h
Whatsapp: 97969-9490

Nova Maré 
Local: Vila Olímpica da Maré / Campo Baixa Do Sapateiro
Telefone: 3105-5086

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