Boa comida, bem localizado e preço baixo, mas com instalações precárias
Lucas Feitoza
Insegurança alimentar é o termo usado para definir a situação vivida por pessoas que não sabem quando terão alimentos e foram forçadas a reduzir a qualidade ou quantidade que consomem por falta de dinheiro. Cerca de 33,1 milhões de pessoas passam fome no Brasil, de acordo com o 2º Inquérito Nacional de Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19, que foi divulgado em junho do ano passado.
Na mesma época em que a pesquisa foi lançada, o G1, site de notícias da Globo, noticiava que a procura por restaurantes populares chegou a dobrar. Nesse período, em Bonsucesso, ao lado da passarela 9, na Avenida Brasil, o Restaurante Popular servia cerca de mil refeições por dia, de acordo com a assessoria da Secretária Municipal de Trabalho e Renda (SMTE) no mês passado o restaurante chegou a servir 21 mil refeições.
Por apenas cinquenta centavos os consumidores podem tomar um desjejum e com R$ 2 podem almoçar. Os restaurantes populares são uma alternativa acessível para uma refeição nutritiva.
Levi Germano, morador do Parque União e estudante de direito que frequenta o restaurante na hora do almoço há aproximadamente três anos, notou que a qualidade do serviço caiu, e relata que o problema mais grave está na instalação do restaurante comprometida desde que o prédio foi atingido por uma chuva que fez parte do teto desabar. Devido a isso, metade do local teve que ser isolado com tapumes para evitar acidentes: “os tapumes estão quase caindo, tem infiltração, e as pessoas tem que comer em mesas nos fundos”, conta o estudante. Na entrada uma torneira quebrada pingando tem a água amparada por uma lata de lixo e os banheiros estão interditados. A lista de problemas não para por aí.
Infiltração, cadeiras enferrujadas e mofo são outras questões que chamam atenção no espaço. Além disso, faltam talheres para atender a todos os clientes, às vezes é necessário que esperem os garfos serem lavados para poder usar. Mesmo assim o restaurante continua funcionando diariamente.
“A comida é boa, a instalação que desanima”
Aparecida Virginio (53), moradora da Nova Holanda e frequentadora do restaurante, conta que gosta da comida: “eu ia almoçar em outro lugar, mas a comida era mais cara, aqui é só dois reais e é boa”. O comerciante Jorge Getúlio (68), acrescenta que o restaurante é muito útil e que ajuda muita gente da comunidade: “é muito útil principalmente para a população carente que vem comer aqui”. Sobre as instalações ele preferiu não comentar. Isabel Cristina (61), esposa de Jorge, afirma: “a comida é boa, a instalação que desanima”.
Antonio Jorge, 68 anos, frequenta o restaurante há 6 meses, concorda sobre a qualidade da comida, acrescenta que com exceção da falta dos banheiros e da estrutura que precisa de reformas não tem o que reclamar, mas questiona a qualidade da água porque acredita que o reservatório fica em cima do edifício “Se você observar no segundo andar tem algumas construções ali, eu não sei se isso de alguma maneira pode comprometer a qualidade da água, eu ponho em dúvida.” conclui.
Levi incomodado com a situação do restaurante, entrou em contato por meio da ouvidoria da prefeitura solicitando vistorias ao local, foi atendido e o laudo feito reforça a situação precária do imóvel e ainda alerta para a invasão dos andares superiores. Além dos pedidos de Lei de Acesso à informação (LAI) feitos por Levi, que confirmavam a insalubridade do local.
Procurando uma forma de facilitar o acesso a informações sobre os Restaurantes Populares e Restaurantes do Povo, Levi escreveu uma sugestão de proposta de lei e submeteu no Legisla Aqui da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), um portal onde a população de todo estado pode propor pautas para serem debatidas e avaliadas na parlamento. A proposta de Levi ainda está disponível para ser apoiada por mais 14 dias, “espero que eu consiga submeter novamente” desabafa.
Governo estadual promete solução com ‘cuidado social’
A equipe do Maré de Notícias entrou em contato com a Secretaria Municipal de Trabalho e Renda (SMTE), que é responsável pelo serviço do restaurante, falamos sobre a situação em que o local se encontra e as necessidades de reforma. A SMTE respondeu que o prédio pertence ao Governo do Estado, que estudam uma solução em conjunto e mesmo tendo pessoas morando de forma irregular no edifício, o atendimento do restaurante não foi comprometido.
O Governo do Estado confirmou que está trabalhando em conjunto com a prefeitura para reformar o prédio e que “tanto Estado quanto Prefeitura, estão trabalhando para resolver a situação das famílias que se instalaram no local de forma irregular. A Secretaria de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos do Estado não tem medido esforços para solucionar o caso sem deixar de lado o cuidado social com as famílias.” Perguntamos também se teriam um prazo para resolver os problemas do prédio, o Estado respondeu que “A Empresa de Obras Públicas do Estado já fez vistorias no edifício, e, assim que essa questão estiver resolvida, as obras serão iniciadas”, concluiu sem dar previsões para resolver as questões mencionadas.