Rodas de conversas em escolas mareenses promovem incentivo à leitura desde cedo

Data:

Creche e Espaço de Desenvolvimento Infantil do maior conjunto de favelas do Rio realizam atividades que se propõem a extrapolar o aprendizado em sala de aula

Por Hélio Euclides, em 19/07/2022 às 16h40

“Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção”. Esse pensamento do educador Paulo Freire nos lembra que muitas vezes é necessário ser criativo para criar situações que levem ao saber. Pensando nisso, a Creche Municipal Monteiro Lobato, localizada na Baixa do Sapateiro, e o Espaço de Desenvolvimento Infantil Maria Amélia Castro e Silva Belfort, situada na Nova Holanda, resolveram estimular o desenvolvimento dos alunos a partir de rodas de conversas.

Desses eventos, em 2017, nasceu na Creche Municipal Monteiro Lobato o livro Brincadeiras no Espaço, com os alunos sendo protagonistas, ao produzirem textos e ilustrações. Tudo começou quando as professoras levaram os alunos para o pátio interno e realizaram uma contação de histórias conjunta, aproveitando o sol no local. Esses momentos deixam as crianças animadas e seguem assim caminham ao encontro do lema da creche: “Aqui é lugar de infâncias felizes”.

Ana Maria Ignácio, diretora da Monteiro Lobato, na época era professora de duas turmas da pré-escola e foi a responsável pela iniciativa. “Nosso trabalho parte das rodas de conversa seguidas de uma contação de história. Essas duas turmas em especial amavam desenhar e ouvir histórias. Foi quando percebi que tudo que se referia à creche chamava a atenção delas”, diz. Outro ponto que vem atraindo os olhares dos responsáveis é a mudança estética da creche. Uma dessas transformações é no muro que virou um painel com o rosto das crianças. “Nosso trabalho é motivador, pois pensamos nas nossas 200 crianças e temos o objetivo de incentivá-las para que mostrem seus potenciais”, conclui.

Rafaela Silva, moradora da Nova Holanda e mãe do ex-aluno Paulo Henrique, que hoje tem dez anos, avalia positivamente a iniciativa. “A criação do livro foi algo muito bom. O projeto fez o meu filho querer aprender mais e ficar feliz. A creche é tão boa e super indico para qualquer mãe”, resume. Ana Paula Araújo, moradora da Baixa do Sapateiro e mãe da ex-aluna Ana Clara, lembra do projeto e destaca a importância. “Eu amei, pois foi muito bom a interação das crianças na criação do livro. Percebi que as crianças ficaram felizes em estar participando do projeto. Agradeço a Deus e a Ana por proporcionar esse momento para minha filhota, pois ela até hoje fala com carinho do livro”, comenta. 

Incentivo à contação de histórias e ao compartilhamento é rotina no EDI Maria Amélia | Foto: Arquivo

A diretora se prepara para a segunda edição do livro, que dessa vez será traduzido para a língua inglesa. Outro evento programado será o primeiro café literário, que vai acontecer em outubro, com presença de alguns escritores. No segundo semestre a ideia é criar uma mini biblioteca e um jardim literário.

Incentivo ao diálogo

No Espaço de Desenvolvimento Infantil (EDI) Maria Amélia Castro e Silva Belfort, localizado na Nova Holanda, os profissionais também orientam seu trabalho em torno da importância do diálogo. Entre os temas estão: cidadania, acesso à cultura e à educação; Rio, uma cidade educadora; Outubro Rosa e a criação do jornal “Amelinha news”, inspirado no Maré de Notícias. O projeto faz parte da jornada pedagógica da educação infantil. “A primeira roda de conversa surgiu da minha inquietação em relação ao desenvolvimento das crianças. Foi quando recebi o diagnóstico de autismo da minha pequena e descobri o quanto a intervenção precoce era fundamental para as crianças com algum atraso no desenvolvimento”, expõe Andrezza Nóbrega, diretora adjunta do EDI.

As rodas de conversas nasceram em 2021, do desejo de estreitar ainda mais os laços dos alunos e dos responsáveis com a creche. Os professores acreditam que a parceria da família com a escola é fundamental para o sucesso do trabalho pedagógico e do desenvolvimento dos alunos. Outro destaque é ter a presença de especialistas em temas relacionados à infância. No início de 2022, o tema abordado foi o enfrentamento à violência, com direito a criação de um hit.

A unidade ainda realiza a Semana da Educação Infantil. “Pensarmos em nossos pequenos preparando uma semana de brincadeiras, interações e experiências. Para os nossos responsáveis criamos o quadro: Você tem alguns minutinhos? Para que eles escolham o melhor horário do seu dia e separe uns minutinhos do seu tempo para um bate-papo pensado com muito carinho. Observamos que muitas crianças reproduzem na escola as atitudes que presenciam em casa, então entendemos que a conscientização em relação a alguns temas precisa começar com os nossos responsáveis”, conta.

Nóbrega defende que é fundamental que a família e a escola andem de mãos dadas, para que assim promovam uma educação para a vida. A unidade acredita que ao proporcionar o diálogo, os saberes, as memórias pessoais e da comunidade, reafirma a missão de promover a educação transformadora. “Já a família consegue alinhar a rotina, acompanhar o desenvolvimento da criança e ajudá-la melhor em suas dificuldades e estimular as suas potencialidades em parceria com a escola. Nessa integração todos aprendem e podem se unir para uma mobilização maior de conscientização com a comunidade”, detalha.

Para o futuro o EDI quer ir além das rodas de conversas, com a realização de oficinas, peças teatrais com a participação dos responsáveis sobre temas diversos, como alimentação saudável, a importância da vacinação, a educação inclusiva e a importância da educação infantil.

Compartilhar notícia:

Inscreva-se

Mais notícias
Related

Por um Natal solidário na Maré

Instituições realizam as tradicionais campanhas de Natal. Uma das mais conhecidas no território é a da Associação Especiais da Maré, organização que atende 500 famílias cadastradas, contendo pessoas com deficiência (PcD)

A comunicação comunitária como ferramenta de desenvolvimento e mobilização

Das impressões de mimeógrafo aos grupos de WhatsApp a comunicação comunitária funciona como um importante registro das memórias coletivas das favelas

Baía de Guanabara sobrevive pela defesa de ativistas e ambientalistas

Quarenta anos após sua fundação, o Movimento Baía Viva ainda luta contra a privatização da água, na promoção da educação ambiental, no apoio às populações tradicionais, como pescadores e quilombolas.

Idosos procuram se exercitar em busca de saúde e qualidade de vida

A cidade do Rio de Janeiro tem à disposição alguns projetos com intuito de promover exercícios, como o Vida Ativa, Rio Em Forma, Esporte ao Ar Livre, Academia da Terceira Idade (ATI) e Programa Academia Carioca