Documento lançado na pré-conferência da Maré debate justiça climática e a transformação ecológica do bairro com soluções locais
A Pré-conferência Municipal do Meio Ambiente e Mudança do Clima, realizada na Areninha Municipal Herbert Vianna, na última quinta-feira (26), apresentou problemas e propostas de soluções, para questões ambientais e sociais do bairro. No evento, foi divulgada a Carta de Saneamento da Maré 2024.
Buscando aprimorar a primeira carta feita em 2020, a Redes da Maré e o Data_labe apresentaram durante o encontro, um novo diagnóstico relacionado aos problemas de saneamento básico da Maré. A Carta de Saneamento da Maré 2024, revela que,o crescimento populacional do território, foi um dos maiores da cidade nos últimos anos, mas em paralelo, passou a ocupar um dos piores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH).
Para a diretora do Data_labe, Clara Sacco, a discrepância dos dados, demonstra a negligência do poder público com o bairro: “não temos políticas públicas comprometidas com os dados. Se você tem uma área que cresce mais do que as outras, isso significa que você precisa olhar para ela com mais cuidado. É mais gente aglomerada, sem condições de boa moradia, conforto e acesso a equipamentos de saúde, resultando em problemas socioambientais.” Pontua.
O IDH ajuda a entender o bem-estar e a qualidade de vida, considerando fatores específicos de cada município, levando em consideração também, os critérios: longevidade, renda e educação.
A carta, também revela que, menos de 1% do esgoto produzido pela Maré é direcionado para a estação de tratamento, resultando na poluição da Baía de Guanabara, que é para onde o escoamento das casas é direcionado. Umas das soluções apresentadas para o problema, é a retomada efetiva dos Planos de Saneamento Municipal e Programa de Saneamento Ambiental.
Com o município em ano eleitoral, a nova carta será apresentada para os candidatos à prefeitura do Rio, reunindo as demandas do território, contra o combate ao racismo ambiental, em meio a emergência climática.
Pré-conferência da Maré debate justiça climática
Realizada pelo Eixo Direitos Urbanos e Socioambientais da Redes da Maré, em parceria com o Data_labe, e apoio da Rede Comuá e Casa Fluminense, o evento teve como principais pontos de discussão a justiça climática e a transformação ecológica, debatidas por meio do lançamento de dados que retratam o cenário atual da Maré.
Entre os dados apresentados, destaca-se a quantidade de lixo. Os mais de 140 mil moradores geram diariamente de 200 a 250 toneladas de lixo domiciliar. Como alternativa de solução, o Ecoclima sugere a separação do lixo seco do úmido, e a compostagem, que é a separação do resíduo orgânico. Ou seja, todo lixo que some na natureza e que pode ser reaproveitado servindo para adubar plantas.
Ecoclima: mobilização hiperlocal
Visando conscientizar a população, as cartilhas ambientais do projeto EcoClima: “Ilhas de Calor”, “Manguezal”, “Saneamento Básico” e “Resíduos Sólidos” foram apresentadas com soluções que ajudam a mitigar problemas já existentes no bairro.
Para a agente climática do projeto, Andreza Alves, pensar em mudanças climáticas para regiões periféricas da cidade, como a Maré, é um desafio: “A Maré é rodeada por três rodovias: Av. Brasil, Linha Amarela e Linha Vermelha, que contribuem para os efeitos das ondas de calor, além da falta de saneamento básico, que agrava ainda mais a situação”. Ela acrescenta que o projeto busca reduzir os efeitos do calor excessivo através do Telhado Verde e do biodigestor com WetLand.
Conferência Municipal do Meio Ambiente
O evento finalizou com reuniões em grupos para levantar discussões e propostas que serão levadas para 5ª Conferência Municipal do Meio Ambiente e Mudança do Clima.
Entre os objetivos da etapa municipal estão: incentivar a participação da população na construção de propostas para o enfrentamento da emergência climática, criar e enviar 10 propostas, sobre os eixos temáticos, para a Conferência Estadual do Meio Ambiente. E eleger dentre os participantes, a delegação que representará o município na etapa estadual da 5ª Conferência Nacional do Meio Ambiente, observando os critérios de gênero e etnia.
A mobilização de moradores formulando possíveis soluções para problemas locais, reforça a necessidade de pensar em políticas públicas juntamente com quem vive a realidade, tornando concreto o poder da conscientização.
(*) Maiara Carvalho é estudante de Rádio e TV da Universidade Federal do Rio de Janeiro e faz parte do projeto de Extensão Conexão UFRJ com o Maré de Notícias.