Encerramento de seminário na Maré destaca a importância da educação como ferramenta de cidadania

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Evento aconteceu durante a 10ª operação policial consecutiva no território realizada pela Secretaria de Ordem Pública (SEOP)

O último dia do Seminário de Educação na Maré que tem como tema central os “Impactos da Violência Armada no Direito à Educação” abriu, nesta quarta feira (28), com a mesa “Trajetórias Mareenses”.  Composta pelo influenciador Raphael Vicente, pelos pesquisadores Leonardo Melo e Shirley Rosendo, a mesa abriu o debate sobre as mazelas da educação pública nas periferias vivenciadas por eles e ainda assim, sobre o impacto social positivo através do acesso ao ensino público. De acordo com a Redes da Maré, o seminário atraiu um público de mais de 370 pessoas.

O evento contou com a participação de representantes de diversas instituições, como o Projeto Uerê, a Fiocruz, o Ministério Público e a Defensoria Pública. Apesar de as Secretarias Estadual e Municipal de Educação terem enviado representantes, a maior parte do público e palestrantes presentes criticaram a breve participação deles e a falta de apresentação de soluções para mitigar os impactos.

O seminário acontece durante a 10ª operação policial consecutiva no território realizada pela Secretaria de Ordem Pública (SEOP), que segundo a pasta, não tem previsão de término.

Para Leonardo Melo, doutor em Políticas Públicas e pesquisador interdisciplinar, as ações não são pontuais, mas fazem parte de um projeto que “mantém quem não tem informação, sem informação”. 

“Toda essa dinâmica da violência urbana, da falta de acesso a serviços públicos, na verdade, a falta do direito à cidade, a dificuldade que os territórios populares enfrentam nesse sentido impacta de uma maneira muito frontal elementos que são muito importantes para a construção da própria cidadania, como é o caso da educação. É inadmissível, deveria ser inadmissível para a cidade do Rio de Janeiro, para o Brasil, tantos dias com escolas fechadas, tantos dias sem acesso a direitos que são básicos e que são garantidos pela Constituição.”, analisa.

Nesta quarta-feira (28), devido ao décimo dia consecutivo de operação, duas escolas estaduais que atendem cerca de 1.400 alunos na Maré, não abriram.

Nas outras duas mesas, o debate girou em torno de “Ideias para a construção de novas narrativas sobre violências e educação na Maré” e “Desafios para a garantia da efetividade do direito à educação e à segurança pública”.

Após o fotógrafo e professor Francisco Valdean falar sobre a importância da imagem como uma construção de memória do território. Jéssica Pires, jornalista e pesquisadora na TV Brasil ressalta o papel do jornalismo como uma ferramenta pedagógica que também contribui nesse lugar. 

“A gente não pode esquecer que o jornalismo, ele tem um papel educativo. O jornalismo, ele tem um papel de construção, que ele tá muito também junto, né? Esse lugar da imagem, e essa responsabilidade de construção de memória. […] Quando o Maré de Notícias produz uma matéria sobre a história do Odir, que tá aqui, por exemplo, enfim, tantas pessoas e coisas, a gente está construindo algo que vai ficar. E se a mídia comunitária não fala, quem é que vai falar? Então, a gente tem que lembrar e não deixar às vezes a nossa ingenuidade ou a agilidade das coisas que vão acontecendo no dia a dia, esquecer de que a gente tem um papel central de educação, de formação e de construção de memória”, afirma.

Além da sala de aula

Segundo dados do projeto Toda Menina na Escola, realizado pela Redes da Maré, de abril de 2020 a maio de 2023, foram identificadas 860 meninas e 775 meninos, de 5 a 20 anos, fora da escola ou infrequentes. 

Pensando na questão da segurança pública, como um conjunto de medidas estatais que visam o bem estar social, e consequentemente o direito ao acesso à educação. A professora do CIEP Gustavo Capanema, Jane Trajano contribuiu com o debate:

“Antes da negação do direito à educação a gente tem um quadro de negação de muitos outros direitos, né? Direito à moradia, direito ao saneamento básico, direito de ir e vir, então eu penso que as classes populares ainda enfrentam, uma grande lacuna de muitos direitos, mas eu penso que a educação tem um papel fundamental. Eu vou dizer isso a partir da minha própria história, porque foi na escola pública, na Maré, que eu me constituí.”, ressalta.

O Maré de Direitos, projeto do eixo Direito à Segurança Pública e Acesso à Justiça, da Redes da Maré, acolhe situações de violações de direitos no WhatsApp (21) 99924-6462 e também nos equipamentos da organização.

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