SEOP continua demolições na Maré enquanto moradores protestam

Data:

Secretaria de Ordem Pública afirmou que operação vai continuar nos próximos dias sem informar previsão de término

Fogos às 5h desta quarta-feira já informavam o que moradores do Conjunto de Favelas da Maré temiam: mais um dia de operação, o terceiro consecutivo. A Secretaria de Ordem Pública (SEOP) confirmou que segue realizando operação de demolições na Maré nesta quarta-feira (21) com apoio das polícias Civil e Militar. Diferente do que a secretaria informa, os moradores dizem que não houve aviso e assistência prévia, apenas papeis colados nas paredes sobre a demolição das casas.

Além disso, em nota, o órgão afirmou que “a demolição das construções irregulares seguirá nos próximos dias”, sem dar uma previsão de término. 

A equipe do Maré de Notícias esteve na Nova Holanda e no Parque União, locais que acontecem as demolições desde a última segunda-feira (19). “Eles estão fazendo terror psicológico na gente” declara uma das moradoras que preferiu não se identificar. 

Apesar do medo e preocupação sobre os próximos dias, muitos moradores continuam nas casas na tentativa de evitar as demolições. Enquanto a SEOP diz que 90% das casas estão desocupadas, os moradores dizem o contrário, a maioria das casas estão ocupadas. 

Vídeos que circulam nas redes sociais mostram funcionários da SEOP levando eletrodomésticos como ar condicionado e geladeiras de dentro das residências. Também questionamos se o procedimento de apreensão faz parte do protocolo padrão da operação, além de perguntar se os itens serão devidamente registrados no balanço final e como o órgão garante a transparência e integridade dos registros.

Em nota, a SEOP respondeu que “nenhuma pessoa se identificou como dona dos equipamentos. Todos os itens foram levados para o depósito municipal e poderão ser retirados pelo proprietário, mediante identificação e comprovação de compra.” 

No local de onde a geladeira foi retirada, por exemplo, moradores informaram à equipe do Maré de Notícias que a dona não estava em casa porque estava trabalhando. Um dos questionamentos que ficam é: você, leitor, tem todas as notas fiscais de tudo o que possui em sua casa hoje, caso precise comprovar suas compras para o Estado? Se não tiver, e você for favelado, pode ter seu eletrodoméstico levado, sem conseguir recuperá-lo.

Tentativa de protesto

‘Meus filhos vão crescer com amor no coração, vendo a mãe deles tomando tiro de borracha e tapa na cara? Sem eu ter envolvimento com o tráfico de drogas. É um absurdo!’, diz a moradora durante protesto.

Moradores tentaram organizar um protesto pacífico na Avenida Brasil por direito à moradia e também contra a interrupção das aulas devido às operações. Entretanto a mobilização foi interrompida pelos policiais com bombas de efeito moral. 

“O Estado, ele é genocida, entendeu? Todo mundo que entra na favela pra ele não presta. A gente não pode construir uma casa porque é o dinheiro do tráfico. A gente não pode ter uma loja porque foi o tráfico, entendeu? Mas o verdadeiro que rouba a gente é eles, porque eles fazem operação não pra oprimir o tráfico de drogas, mas sim pra entrar dentro da nossa casa, roubar nossas coisas”, indaga uma moradora que, apesar de se identificar, preferimos omitir seu nome por questões de segurança. Segundo ela, policiais levaram R$ 750,00 de sua casa, dinheiro que seria usado para pagar o aluguel.

O Maré de Direitos, projeto do eixo Direito à Segurança Pública e Acesso à Justiça, da Redes da Maré, acolhe situações de violações de direitos no WhatsApp (21) 99924-6462 e também nos equipamentos da organização.

Compartilhar notícia:

Inscreva-se

Mais notícias
Related

Redução da escala 6×1: um impacto social urgente nas Favelas

O debate sobre a escala 6x1 ganhou força nas redes sociais nas últimas semanas, impulsionado pela apresentação de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) pela deputada Erika Hilton (PSOL-SP), que propõe a eliminação desse regime de trabalho.

Ondas de calor como tema no G20 o que são e como enfrentá-las?

Este ano, todos os olhares estão voltados para o G20, evento que reúne os países com as maiores economias do mundo anualmente para discutir iniciativas econômicas, políticas e sociais.