Símbolos de Natal iluminam a Maré

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Além da tradicional Árvore da Vila do João, favelas da Maré criam suas próprias representações dos símbolos natalinos

Andrezza Paulo e Lucas Feitoza

“Então é natal, e o que você fez? O ano termina e começa outra vez”. O Natal chegou e trouxe com ele os símbolos que iluminam as casas e as ruas da Maré. As árvores, as luzes, os presentes e a alegria desta época fazem parte da função dos símbolos natalinos: criar memórias afetivas, como é o caso dessa música lançada em 1995, interpretada pela cantora Simone. Aqui na Maré, além da tradicional decoração natalina nas residências ao longo das 16 favelas, a criatividade e as novas representações desses símbolos marcam o território e lembram quando é hora de pensar na ceia, decorar a casa e planejar as confraternizações. 

Registros históricos indicam que a árvore de natal, próxima ao que conhecemos hoje, nasceu ao final do Século XVI em Alsácia, antigo território alemão e que hoje pertence à França.  No início, as árvores eram decoradas com doces, nozes e maçãs. Somente em 1730 que as árvores brilhantes surgiram com decoração em velas. Na Maré, as árvores de Natal são recriadas todos os anos, sejam em sua forma tradicional, ou através de novas representações.

Árvore de livros Instituto Vida Real

Unindo literatura, sonhos e o espírito de renovação do natal, o Instituto Vida Real, localizado na Nova Holanda, fez uma criativa árvore de livros. A organização sem fins lucrativos (ONG) é focada em apoiar moradores da Maré nos eixos da educação, cultura e tecnologia. Arthur Pedro, coordenador pedagógico da ONG foi o idealizador da árvore e contou que a ideia surgiu para valorizar a biblioteca comunitária Luciana Savaget que fica na instituição. “Ano passado fiz uma árvore usando grafite como elemento principal para valorizar um pouco das oficinas que a gente tem, seguindo um pouco dessa ideia, esse ano pensei em exaltar a biblioteca comunitária”, disse. 

Trezentos livros foram usados para a composição e Arthur conta que o objetivo foi trazer o protagonismo de quem frequenta a biblioteca com foco nas crianças. Para isso foi utilizado um monitor com fotos de todos os alunos  e funcionários do instituto; “a ideia foi trabalhar outras estéticas e linguagens, tendo como ponto central elementos que fazem parte da nossa rotina”, conclui.

Árvore de natal de Heineken no Parque União

Há 10 anos, a árvore composta por garrafas de cerveja Heineken brilha na Praça do Parque União, conhecida na região pela gastronomia, música nordestina e pelo espaço de confraternização. Arilo Alves, comerciante da Chopperia Las Vegas e responsável pela decoração, conta que a ideia surgiu apenas um mês antes do Natal de 2012: “Eu fiz por ser bem diferente, são 1.800 garrafas e para juntar, precisamos dos comerciantes vizinhos, e todos ajudaram. As pessoas vêm de fora da comunidade para prestigiar a nossa árvore”.

Árvore de natal da Vila do João

A árvore de natal da Vila do João já é tradição da época e quem passa pela Avenida Brasil, na altura da passarela 6, pode vê-la iluminando a entrada da favela. A decoração é um patrocínio da NHJ Contêiner com apoio da Associação de Moradores da Vila do João representada por Valtermir Messias, presidente, conhecido como Índio, que informa que  a árvore é colocada há aproximadamente 12 anos, e que a deste ano tem 18 metros de altura. 

No final do mês de novembro (25), um incêndio causado por um curto circuito, danificou o cartão postal da região, mas foi restaurado em dois dias. O acidente ocorreu no mesmo dia da operação policial que deixou 8 pessoas mortas, feridos no Parque União e Nova Holanda e violou direitos  dos moradores da Maré.

“Imagina a quantidade de moradores que tem no nosso território e a maioria é cidadão de bem, então a cerca de 12 anos a gente tem esse compromisso com o espírito natalino e com a Maré de colocar a árvore de natal” conta Índio.

As decorações de Natal carregam a alegria, a união e a esperança que são características não só desta época do ano, como das 16 favelas da Maré que mesmo sendo atacadas de forma violenta não perdem a fé e mostram que o diferencial está na união dos moradores.

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