Um provisório que se tornou permanente

Data:

Maré de Notícias #92 – 03/09/2018

Pedestres sofrem ao trafegar por passarelas feitas de metal e madeira

Hélio Euclides

A Maré é atendida por 14 passarelas, que são utilizadas pelos moradores todos os dias. Dessas 14, dez estão localizadas na Avenida Brasil, duas na Linha Amarela e outras duas na Avenida Brigadeiro Trompowski. As maiores críticas são dirigidas a seis, que ficam onde serão construídas as estações do BRT Transbrasil. As passarelas fixas foram substituídas pelas feitas de andaimes, madeiras e piso de borracha. O que surpreende é que nem as de cimento escapam das reclamações, como é o caso da Passarela 9, com arames soltos, e a do BRT Transcarioca, que liga a Clínica da Família Diniz Batista dos Santos ao Parque União. Nesta, há um buraco no piso.

Durante uma semana, a equipe do Jornal Maré de Notícias fez um tour pelas passarelas em torno da favela. E presenciou inúmeras dificuldades e diversas queixas de pedestres. A mais antiga das passarelas de tubos metálicos fica próxima ao Conjunto Esperança, na Avenida Brasil, e foi feita após a mudança de local do ponto de ônibus. “Já presenciei uma moça ajudando um senhor a subir muitas escadas dessa passarela. Ela ainda é estreita (alguns pontos com apenas 1,30 m). Quando será feita uma passarela de cimento? E olha que é bem em frente ao Instituto Oswaldo Cruz! Quando pisamos, o piso afunda, como se as madeiras estivessem ruins”, argumenta Sara Alves, moradora da Vila do João.

Para Antonio Jorge, morador da Vila do Pinheiro, o caso é vergonhoso. “Essa do Conjunto Esperança não tem proteção para se segurar, uma criança pode cair. Ela tem degraus e é alta, é um sacrifício para mim, que tive chikungunya”, explica. Sara entende que tudo começou quando mudaram o ponto de ônibus, na pista de subida da via, que abordamos no Maré de Notícias, na Edição 27, em julho de 2012. Essa mudança aflige a todos. “É um caminho estreito e sem manutenção, furtaram as grades de proteção e não foram recolocadas, estamos abandonados”, revela.

Por várias vezes, o Jornal abordou esse tema tão preocupante para a população. O Maré de Notícias, na Edição 51, em março de 2014, trazia a passarela próxima ao Conjunto Esperança como tema. A pergunta que não teve resposta era: com quantas tábuas se faz uma passarela? No mesmo ano, o Sindicato dos Funcionários da Fiocruz (ASFOC), colocou faixas de protesto na via e protocolou Ofício na Prefeitura do Rio, solicitando providências e um retorno formal sobre a previsão para a construção de uma passarela definitiva, ligando os dois lados da Avenida Brasil. Neste documento, a ASFOC ressaltava o risco a que a população e os trabalhadores são submetidos diariamente. Até hoje, não houve desdobramento do Ofício. Pedro dos Santos, presidente da Associação de Moradores do Conjunto Esperança, espera, pelo menos, por manutenções mais eficientes. “Aguardamos, com urgência, a reforma da passarela de madeira”, resume.

Para doentes e funcionários da Fiocruz, o dilema é diário na Passarela da Vila do João. “Está tudo ruim, quando passamos há o sentimento de que vamos cair. Não é segura. O triste é ver a outra de cimento inacabada”, comenta Maurício Oliveira, morador de Duque de Caxias, paciente que precisa de remédios do Instituto Oswaldo Cruz. Divânia Carvalho e Laura Martins são funcionárias da Fiocruz e compartilham do mesmo pensamento. “Muito ruim e perigoso, a estrutura pode desabar. Quando chove, fica cheia d’água. Tenho medo de passar à noite, é escura”, revelam.

Seis passarelas de andaimes em nossas vidas

Para Charles Gonçalves, presidente da Associação de Moradores da Baixa do Sapateiro, essa situação já passou do limite. “Elas não são plausíveis, pois apesar de serem provisórias, já estão há muito tempo, não é normal essa estrutura há mais de três anos”, reclama. Jorge Rodrigues, morador da Baixa do Sapateiro tem a mesma opinião. “Nós que pagamos o aluguel para manter essas estruturas metálicas. A Prefeitura ainda fala que está sem dinheiro. Os gastos com esses andaimes poderiam ser revertidos para fazer as definitivas”, declara.

Para os mototaxistas que trabalham perto da Passarela 8, é tudo um absurdo. “Isso é passarela? Para mim é uma estrutura montada, tipo andaime, só para enganar o povo”, supõe Emilio Souza. Outro profissional das duas rodas conta algo gravíssimo: “já vi gente arrancar ferros, é um risco de acidente grave. A sorte é que devolveram e um morador colocou no lugar”, denuncia Roberto Luís. Para Carlos Antônio, vendedor ambulante, é puro descaso. “Além de não ser limpa, empoça bastante água, chegando ao tornozelo. O pessoal da Prefeitura vem e faz algo para enganar. Já sumiram com duas das quatro estruturas de sustentação da laje da antiga passarela, a sorte é que foi reposta”, detalha.

Na Passarela 12, os mesmos problemas. “Eu e minha filha já escorregamos, pois o tapete já não está antiderrapante. Tem madeira aparecendo, não tem segurança para o pedestre, é uma bagunça fora do normal”, revela Cristiano Reis, presidente da Associação de Moradores da Roquete Pinto e Praia de Ramos. As opiniões dos moradores são semelhantes. “As coisas estão uma bagunça. Já assisti gente tropeçar, coisa que não é novidade aqui”, diz Arlindo Sousa, morador da Praia de Ramos.

As Passarelas 10 e 11 também são metálicas. “Quando pisamos, as madeiras estão rangendo e os pregos estão saindo e ficam prendendo no sapato”, confessa Sebastião Fernandes, motorista de ônibus. Mateus Francisco, morador da Roquete Pinto tenta entender o descaso: “é isso que oferecem para o povo, e o pior que desejam que nos contentemos”. A falta de pontos de luz é outra preocupação de quem precisa atravessar a via. “As travessias são perigosas à noite, pois estão na escuridão da Avenida Brasil. Na Passarela 11 já tentaram me roubar”, conta Flávio Alves, morador do Parque Maré. Na área de cobertura da 21ª Delegacia Policial (que além da Maré, abrange Bonsucesso, Higienópolis, Manguinhos e partes de Ramos e Benfica), somente nos cinco primeiros dias de agosto, foram registrados 75 roubos de celulares. Desse total, 42 ocorrências, ou seja 56%, foram efetuadas na Avenida Brasil, no trecho da Maré.

Nem as de alvenaria escapam dos problemas

“Aqui na Passarela 9, as grades de proteção só servem para pegar a roupa e machucar”, essa reclamação de Wanderlei Lima, morador da Nova Holanda, também foi feita por vários pedestres. Na passarela no BRT Transcarioca, próximo à estação Maré, dois são os dilemas dos usuários: o primeiro é um grande buraco em pleno piso. “Aparenta estar em bom uso, mas tem um buraco, algo perigoso para as crianças, em especial pela manhã, quando tem grande acesso para a escola”, diz Taís Pereira, moradora do Parque União. O segundo refere-se à acessibilidade não é respeitada para chegar à Clínica da Família Diniz Batista dos Santos. “Todos reclamam dos degraus. Já vi idoso passar mal, e cheguei a socorrer um. Para uma mãe chegar com seu filho cadeirante à clínica da família, ela desce com ele no colo, deixa comigo, depois sobe para pegar a cadeira de rodas. Poderiam colocar rampa ou um sinal de trânsito na pista de descida da Brigadeiro Trompowski”, sugere Nazaré Santos, vendedora ambulante.

 

Como ficam as passarelas?

A Assessoria de Imprensa do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) declarou que a Avenida Brasil é uma Rodovia Federal (BR-101/BR-116/BR-040), cuja operação e manutenção está a cargo da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, por força de Convênio.

A Secretaria Municipal de Infraestrutura e Habitação garantiu que todas elas são seguras e vão permanecer provisórias até a finalização da obra do BRT Transbrasil, quando serão substituídas pelas definitivas de alvenaria, com acessibilidade para pessoas com necessidades especiais. O órgão municipal revelou que as passarelas do Conjunto Esperança e da Praia de Ramos serão vistoriadas. Sobre a Passarela 6, explicou que será restaurada.

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