Uma medalha para a valorização da leitura em Marcílio Dias

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Trabalho realizado por Seu Geraldo em biblioteca comunitária da Maré é premiado na Câmara Municipal

Por Hélio Euclides, em 08/11/2021 às 12h22

Editado por Tamyres Matos

“O livro traz a vantagem de estar só e, ao mesmo tempo, acompanhado”, esta frase escrita por Mário Quintana ecoou pela voz de Geraldo de Oliveira, na noite de sexta-feira (05/11). Quem acompanhou essa reflexão foram os moradores de Marcílio Dias, que ocuparam a Câmara Municipal do Rio de Janeiro para acompanhar Seu Geraldo, o diretor fundador do Projeto Semear, que criou há 17 anos a Biblioteca Comunitária Nélida Piñon. Ele recebeu a Medalha Pedro Ernesto, considerada a honraria máxima do município. 

A Câmara Municipal, cujo prédio é denominado Palácio Pedro Ernesto, em homenagem ao ex-prefeito do então Distrito Federal por dois períodos, instituiu uma medalha com seu nome, considerada a condecoração máxima da cidade. A honraria foi indicada pelo vereador Celso Costa (REPUBLICANOS), que associa o merecimento do Seu Geraldo a sua trajetória. “Quando soube da história de vida dele, fiquei encantado com a luta. Hoje temos aqui um nordestino, que, como tantos, apesar das adversidades, não perdem a fé. Vivemos num mundo digitalizado, que nos prende ao celular, mas temos nele um incentivador da leitura do livro”, comenta.

O projeto começou em 2004 na casa do mareense. A iniciativa chamou atenção do padre Aldo de Souto Santos, que na época atuava na Paróquia Nossa Senhora Aparecida, localizada em Marcílio Dias. O sacerdote deu o pontapé inicial para o surgimento da biblioteca, com doação de livros, cadeiras, mesas e estantes. Além de fazer a ponte com Décio Luís Escudero, representante do Rotary Club do Rio de Janeiro, da unidade Mercado São Sebastião, para surgimento de uma parceria.

Quem lembra desse tempo é Jussara Siviotti, diretora da Escola Municipal Cantor e Compositor Gonzaguinha, que há 29 anos trabalha no colégio. “No local enfrentamos a violência e evasão escolar. Ainda temos a falta de professores, pela ausência de incentivos como o benefício do difícil acesso ou o transporte da Secretaria de Educação. Os que estão lecionando na escola são perseverantes com a ajuda de moradores como o Seu Geraldo. Na comunidade os alunos encontram um lugar de incentivo à leitura e pesquisa. É um orgulho ter a biblioteca na comunidade”, diz.

Uma história de luta

Geraldo de Oliveira nasceu em Guarabira, na Paraíba. Ainda criança, perdeu o pai e foi encaminhado para um orfanato. Veio para o Rio de Janeiro em 1966, quando era um adolescente cheio de sonhos. “Fui morar em Marcílio Dias, que na época era feita de casas de madeiras e palafitas. Enfrentávamos o problema das muitas crianças que caíam nas águas”, lembra Seu Geraldo. Antes de se aposentar e virar uma liderança local, ele foi entregador de pão, tintureiro, segurança e vendedor de plano de saúde. 

A biblioteca começa por algo que o incomodava. Na época não tinha internet e assistia aos jovens atravessando a cidade para ler um livro. Depois do espaço pequeno em casa, resolveu alugar uma sala para a biblioteca. Alguns moradores o criticaram e diziam que era melhor abrir um bar, pois dava dinheiro. “Tinha mês que escolhia pagar o aluguel da biblioteca ou a prestação do carro, então olhava para as crianças e quitava a sala de leitura. As coisas melhoravam com o apoio dos meios de comunicação que mostraram a minha história. Nessa trajetória não posso esquecer do Maré de Notícias que está sempre comigo”, conta.

Ao receber a medalha, Seu Geraldo disse que se sente recompensado em não desistir do projeto. “O resultado são crianças que frequentavam a biblioteca no início e hoje já estão formados. Segui o que disse um dia Charles Chaplin: Enquanto você sonha, você está fazendo o rascunho do seu futuro. O importante é cuidar das pessoas”, conclui. Hoje, além dos livros, o projeto disponibiliza cursos como de refrigeração.

Para quem desejar conhecer o projeto, a Biblioteca Comunitária Nélida Piñon fica localizada na Travessa Luiz Gonzaga, 58, Marcílio Dias, Maré. Quem desejar ajudar é só entrar em contato por WhatsApp: (21) 98827-0928 ou e-mail: [email protected].

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