Projeto iniciou em 2021 com campanha de vacinação em massa e hoje realiza mapeamento do impacto do coronavírus no território da Maré
Edição #163 – Jornal Impresso do Maré de Notícias
O projeto Vacina Maré, iniciativa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Redes da Maré e Secretaria Municipal de Saúde, está completando três anos. O programa começou em 2021, com a campanha Vacina Maré, que imunizou mais de 36 mil moradores em apenas quatro dias, uma mobilização histórica pelo direito à saúde.
Produção de dados
Um dos frutos desta mobilização é a produção de dados sobre a saúde da população mareense, um marco importante quando se pensa em saúde nas favelas. O principal objetivo da pesquisa é analisar a eficácia da vacina contra a Covid-19 na população da Maré e o impacto na vida dos moradores.
No auge da pandemia, a Maré registrou uma queda de 89% na letalidade por covid:
Cerca de 6.500 moradores da Maré, incluindo crianças, participam do estudo para entender como a Covid-19 se espalha dentro das famílias e na favela. É realizado um acompanhamento da saúde dessas famílias ao longo do tempo, coletando amostras de sangue periodicamente. Os dados são armazenados pela Fiocruz.
Para Fernando Bozza, pesquisador do Instituto Nacional de Infectologia da Fiocruz, as ações de incidência e capacitação que a Redes da Maré fez na área da saúde foram fundamentais para fortalecer a parceria, assim como o financiamento, às pesquisas e à produção de dados.
“Esse projeto teve impacto não só na Maré como na própria sociedade civil, gerando ações mais efetivas no campo da saúde pública. Fomos convidados para apresentar o Vacina Maré na Organização Mundial da Saúde, no Ministério da Saúde e em diversas universidades internacionais. Inclusive, o projeto foi reconhecido como uma das 6 ações mais importantes da Fiocruz na pandemia”, conta
Direito à informação
A moradora do Parque Rubens Vaz, Roxana Novais, é acompanhada pelo programa Vacina Maré desde 2021. “Fazer parte desse projeto é confortante, porque mesmo no meio do caos que estávamos vivendo com a covid, tivemos pessoas que nos acolheram, que nos passaram informações. Mesmo sendo escassas, as informações eram precisas e claras, e o acompanhamento dessa equipe sempre foi impecável. Para mim, esse projeto tem uma importância enorme, pois ele acompanha e leva informações para quem não consegue ter acesso fácil”, reflete Roxana.
A pesquisa faz parte do projeto internacional EFFECT-Brazil e conta com o apoio de três instituições: o Instituto Todos pela Saúde (ITpS), no Brasil; o Centers for Disease Control and Prevention de (CDC), nos Estados Unidos; e a Wellcome Trust, no Reino Unido. O projeto foi selecionado pelo International Covid-19 Data Alliance (ICODA), uma iniciativa da Fundação Bill e Melinda Gates, entre mais de 400 propostas enviadas por diversos países.
| Já leu essas?
- Vacina Maré é pioneirismo em ciência na favela
- ‘Vacina Maré’ celebra incidência, conquistas e planeja o futuro
- Pesquisa Vacina Maré promove campanha de vacinação para crianças e adolescentes
Território saudável
O eixo Direito à Saúde, da Redes da Maré, busca tornar a Maré referência de território saudável, mapeando cadernetas de vacinação de crianças e adolescentes. Os projetos e ações do eixo também visam ampliar o conceito de saúde, compreendendo que um morador saudável não é apenas aquele que vive sem doenças, mas sim o que tem bem-estar físico, mental e social.
Diana Souza, coordenadora de campo da pesquisa, conta que: “o projeto mantém uma relação de proximidade com as unidades de saúde, atuando em conjunto com elas. O Vacina Maré é uma pesquisa de produção de ciência em saúde nas favelas, pensando nas perspectivas da saúde de forma ampliada”.
Ela reforça a importância da participação dos moradores para que a campanha fosse realizada e, para que hoje a pesquisa continue: “Acredito que a mobilização do Vacina Maré trouxe um sentimento importante de pertencimento, todos deram seu máximo independente de qual favela pertencia. Trabalharam de forma incansável para que desse certo. E não podia ser diferente, foi maravilhoso!”